Sesc SP

Era época de Natal e o coreógrafo Rui Moreira estava em sua casa. Num momento que se tornou especial, violeiros bateram à sua porta, pedindo permissão para entrar, tocar, brincar, comer e rezar. Um grupo de folia de reis despertou no coreógrafo suas lembranças de um passado de ricas experiências nas festas populares com sua família.

Rui sentiu-se envolvido em um sentimento de compartilhamento e esta emoção despertou um olhar diferente para outra forte influência em sua vida: as danças urbanas. Numa conexão inesperada, passou a observar de outra forma a movimentação dos b-boys e identificou a mesma sensação que o havia tocado na folia.

Esta é a história que serviu de ponto de partida para a criação do espetáculo Faça Algum Barulho, que será apresentado no Sesc Taubaté no dia 27 de agosto.

Na performance, um palhaço de folia de reis estilizado e um b-boy se apresentam um ao outro, e, ao observarem suas diferenças, iniciam um gestual respeitoso, mas intenso. “Que ninguém imagine relações dóceis entre o ‘velho’ e o ‘novo’, entre o inovador e o tradicional. Há diálogo, mas também tensão. Tensão essa que é transformada em portal para a participação do público que, quando menos espera, passa de observador a protagonista nessa trama”, contou o coreógrafo, em entrevista à Eonline.

Trecho da apresentação do palhaço

De acordo com Rui, as semelhanças de dois personagens aparentemente tão diversos também ficam em evidência. “Ambas são movidas pelo improviso e criam e recriam todo o tempo suas danças”.

Trecho da apresentação do b-boy


Rui Moreira iniciou seus estudos em dança clássica moderna e jazz no final dos anos 1970. Na outra ponta de sua formação está a influência dos rituais afro-religiosos dos quais participou desde cedo, conhecendo e vivenciando as congadas, a umbanda e o candomblé. Hoje ele compreende e pesquisa o país pelo prisma de sua diversidade cultural: “O Brasil é um caldeirão de culturas e raças próprias do hibridismo que é fruto das múltiplas raízes presentes na América”.