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Estamos vivos! NoticiMAPA: Cartografia na luta pelos Direitos Humanos
Os interesses políticos e midiáticos beneficiam determinadas regiões da cidade e muitas vezes negligenciam outras, geralmente as que estão mais afastadas do centro urbano. A mídia dá muita importância à marginalidade e criminalidade desses bairros periféricos deixando de lado a produção cultural desses lugares, que dificilmente têm espaço nos grandes veículos. Essa discussão originou o NoticiMAPA, uma oficina no Sesc Campo Limpo, ministrada pela jornalista do coletivo de comunicação Periferia em Movimento, Aline Rodrigues.
A oficina apresentou produções multimídia acerca da importância da Cartografia nos conteúdos jornalísticos e do mapeamento para a garantia dos Direitos Humanos. As discussões centrais permeavam o universo do jornalismo, da mídia, o poder da comunicação e o quanto cada complexo midiático pode contribuir ou atrapalhar na conquista desses direitos, debatendo também inciativas que pudessem ajudar a melhorar alguns bairros do extremo sul da capital, como Campo Limpo, Grajaú e Vila Missionária.
“Quando não se fala em um lugar, não se faz registro dele, das pessoas,
quem está longe acha que esse lugar não existe”
Os participantes tinham a Geografia como aliada para as discussões territoriais. Para Aline, o mapeamento da região pode ajudar no desenvolvimento das políticas públicas. “Quando não se fala em um lugar, não se faz registro dele, das pessoas, quem está longe acha que esse lugar não existe; essa é a importância de mapear e divulgar esse mapeamento para o mundo. A região do Campo Limpo luta por diversos direitos: moradia, saúde e educação, por exemplo”, explica.
Aline Rodrigues, do Periferia em Movimento, durante um dos encontros NoticiMAPA
O desafio foi grande: mapear locais que promovessem educação popular. A partir disso, o grupo iniciou a pesquisa pelo Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA) do Campo Limpo, que tem um olhar diferenciado sobre a educação, onde o conteúdo ensinado é sempre debatido com a comunidade escolar. Essa metodologia levou os moradores da região para dentro da sala de aula. “O CIEJA faz um trabalho incrível de educação popular dentro da estrutura de educação formal proposta pelo município. Se grande parte da população entender que é possível oferecer uma educação melhor, podemos desencadear uma pressão pública para que toda escola tenha a mesma estrutura”, relata Aline.
O processo também contou com uma visita ao Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo (CDHEP). Para a jornalista, o legado deixado por esses dois lugares é principalmente a luta popular pela busca de justiça e melhores condições de vida. “Os dois lugares que visitamos mostram o quanto é possível fazer diferente, fugir do padrão proposto e respeitar o lugar onde a instituição está e as demandas da população local. O CIEJA desafiando a lógica de levar a comunidade para dentro da escola e o CDHEP como referência na Justiça Restaurativa”, aponta.
A engenharia das grandes metrópoles como São Paulo contribuiu para uma divisão muito clara entre o centro e os bairros mais periféricos, pensando muito pouco na realidade e nas necessidades coletivas. Assim, as classes mais pobres ficaram às margens das oportunidades oferecidas no centro, mas não deixaram de ser grandes produtores de cultura e incentivadores de inciativas que ajudam a melhorar a comunidade.
No mês de julho de 2017, os alunos exibiram o mapeamento de centros de educação popular da região do Campo Limpo em uma mostra cultural organizada pelos próprios participantes com fotos, vídeos, colagens e um tecido bordado, que ajudaram a contar um pouco da história da região.