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Jazzmin's faz agradável estreia
Por Jotabê Medeiros
O nome Jazzmin’s é um grande achado. Remete a jasmim, que é uma das flores mais perfumadas da natureza, e também a “jazz means”, que quer dizer “jazz significa”.
É esse o nome da mais nova big band de jazz do Brasil, com 17 garotas, que tocou no deck do Sesc Pompeia na tarde. Não é uma somente uma banda de mulheres, mas uma banda que sabe qual é a sua luta, que está na batalha para promover a “mudança da desproporção da presença da mulher nesse mercado de trabalho”, segundo discursou a pianista Lis de Carvalho. Jazz, nesse caso, significa ativismo também.
Paula Valente sola ao saxofone. Foto: Carol Vidal
Surgida no final de 2016, a Jazzmin’s mostrou em sua estreia em festivais que é uma banda de coragem. Refutou os standards e recheou sua apresentação com peças de compositores novos, como Rodrigo Morte (Quando eu te Vejo), Luca Raele (Fantasia Sobre Tema de Milton) e outros.
Mesmo os arranjos são cuidadosamente escolhidos para emparelhar a tradição com as novas soluções, como a composição Você vai gostar (Casinha Branca, de Elpídio dos Santos), com arranjo de Yuri Prado, do grupo Ôctôctô. Anderson Quevedo, do Projeto Coisa Fina, fez o arranjo de Moacir Santos. Sete Anéis, de Egberto Gismonti, teve arranjo de Gaya Wilmer (que vive em Boston).
Elas também apresentaram os primeiros temas próprios, como 7 a 1, sobre a fatídica partida da Copa do Mundo de 2014, na qual a Alemanha goleou a seleção brasileira em casa, um trauma ainda pouco explorado pelo mundo da arte. A música, composição da baixista do grupo, Gê Cortes, tem uma levada de otimismo, de volta por cima, de negação do niilismo e da autodepreciação.
A pianista Lis de Carvalho, Gê Cortes (baixo) e Renata Montanari (guitarra). Foto: Carol Vidal
“Gente, tem uma criança perdida! A mãe é Daniele. Daniele, a sua criança está com a gente”. O anúncio, feito pelas instrumentistas da Jazzmin’s bem no meio do show, era como um texto simbólico de um concerto incomum: as mulheres, seja no trabalho ou no lazer, estão sempre representando os diversos papéis que a vida lhes impõe. E a mensagem era cheia de carinho: “A sua criança está com a gente”. No caso das Jazzmin’s, também a criança do jazz está a caminho. A formação da big band vai, naturalmente, evoluir mais com o passar do tempo. Foi uma agradável tarde, a surpresa agora vai se transformar em força e maturidade.
Jotabê Medeiros é jornalista, crítico de música e escritor.
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