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Sentindo-se uma estrela!

Foto: divulgação
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* Por Dulce Ferreira

Nasci na década de 50.
Nascer na década de 50 foi presente.

Assisti de olhos arregalados, alma agradecida e cabeça confusa, a chegada de Gil, Caetano, Tropicália, Chico, e tantas outras aparições pra me fazer pensar. Descobri Guimarães Rosa, Wilhelm Reich com seu “A Função do Orgasmo”, que ficava escondido embaixo da cama. E tantos, tantos outros. Riquezas!

Vivi também os tempos da Ditadura. Tristezas!

Com os motores potentes cheguei aos vinte anos, querendo fazer tudo, e depressa!

Aprender, amar, explorar, fugir de ideias retrógradas de feminilidade, realizar. Achar um companheiro e ter um filho.
Década de setenta, mulheres como eu eram as mutantes de minha geração.

Não admitíamos a ideia de terminar como a mulher caseira, com a carreira no mundo dos sonhos, como tantas desorientadas e infelizes que conhecíamos. Conseguimos. Chegamos aos trinta anos com uma crise diferente: algo tinha de ceder.

A maioria ou eliminava o casamento, ou apostava na carreira, ou renunciava aos filhos! Algumas não conseguiram, ficaram submergidas e não deram um passo adiante. Chegamos à liberdade de escolha, aos enfrentamentos, ao divórcio.

Surgem os pais de final de semana, e com eles uma responsabilidade desconhecida, afinal nunca trocou fralda, deu remédio. Tiveram que aprender.

A próxima etapa, que gosto de chamar de “passagem”, é quando você se dá conta que o tempo está passando depressa demais, ele tem que ser vencido. Posso realizar tudo que sonhei antes que seja tarde demais?

Essa etapa passa, e você fica expert em antidepressivos, conhece todos!

Chega-se então à idade em que você, carinhosamente, é chamado de Preferencial.

Fase confusa, pois você entra numa fila própria para pessoas com sessenta anos e “ninguém” te questiona, apesar de você não entender o porquê!

Hoje já não lembro onde coloquei os óculos, mas que bom que ainda os procuro, porque leio. Estou viva, lúcida, preocupada com o futuro, discutindo política calorosamente, atuando nas manifestações contra o racismo, contra a desigualdade, contra o machismo absurdo, contra a violência que sofrem as mulheres...

Assim, desse jeito, cheguei aos sessenta, inteira, ativa e cheia de opinião, sem modéstia, me sentindo a própria Madonna. Só não danço, casei menos vezes, sou muito desafinada, mas o brilho da idade, ah o brilho! Igualzinho!

* Dulce Ferreira é contadora de causos

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Quatro personalidades distintas descrevem a influência do ícone Madonna em sua vida profissional e pessoal. A produção textual resulta em um ebook que integra a programação do especial "Madonna, Sexagenária".

Leia também:

Bitch, She’s Madonna!, por Murilo Gussi, ator e diretor Teatral

Hei, Brasil. Vamos pimbar!, por Harlen Félix, ator e jornalista

> O lado negro da força, por Anna Claudia Magalhães, artista visual e escritora

 

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