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Lô Borges: um violão na mão e uma ideia na cabeça

Foto: Barbara Dutra
Foto: Barbara Dutra

O sotaque suave e o tom de voz sossegado do mineiro Lô Borges não conseguem disfarçar uma mente que borbulha ideias.

Um dos pilares do Clube da Esquina, movimento musical mineiro da década de 1970, o artista mantém uma rotina intensa de composições e gravações; foram 70 músicas nos últimos anos. Parte delas estarão no próximo álbum de canções inéditas, que deve ser lançado no início de 2019.

Aos 66 anos, o cantor e compositor afirma que vive um momento similar ao do início de sua carreira, que ele chama de “um violão na mão e uma ideia na cabeça”.

Antes de subir ao palco da Orquestra Mágica, no Sesc Itaquera, no próximo dia 12 de agosto, Lô Borges fala sobre as novas gerações de músicos e fãs, parcerias e inspirações, além de declarar seu amor pela música.   

EOnline: Há 46 anos, foi lançado o primeiro álbum do Clube da Esquina. Hoje, novas gerações redescobrem o álbum e o movimento musical. A que você atribui a perenidade dessas músicas?
Lô Borges: Confesso que, quando gravamos o Clube da Esquina, não imaginávamos uma repercussão tão grande ou que a música fosse atravessar décadas. Se as pessoas sentem sintonia com esse trabalho e os jovens procuram essas músicas é porque o trabalho tem muita verdade, intuição e inspiração. Ninguém queria se dar bem ou vender milhões de cópias. Todos estavam querendo dar o melhor de si. Foi essa coisa genuína que tornou o álbum tão verdadeiro e perene.

EOnline: O cenário e a indústria musical mudaram muito nas últimas décadas, principalmente por causa dos avanços tecnológicos. Como você avalia o cenário atual? Está mais fácil ou difícil viver de música?
Lô Borges: É difícil avaliar se está mais fácil ou difícil. Tenho convicção que é diferente. Antes, o sistema das gravadoras era manter em seus castings os artistas de prestígio e os vendedores de discos. Hoje, a coisa é totalmente diferente. As gravadoras estão quase em extinção. As pessoas gravam suas próprias músicas e divulgam seus trabalhos dentro de suas casas. Agora, se vai dar certo... Atualmente, você tem que concorrer com o universo infinito da internet. Ainda sim, acho mais democrático. As possibilidades se tornam iguais para todos.

EOnline: Nos primeiros anos da sua carreira, uma das suas inspirações foram os Beatles. Você ainda escuta a banda? O que você escuta frequentemente?
Lô Borges: Estou numa fase em que componho muito. Por isso, escuto as músicas que estou fazendo. Mas sempre tenho tempo para ouvir Beatles, João Gilberto, Tom Jobim e Milton Nascimento. Eles foram fundamentais no passado e são fundamentais até hoje. Adoro quando coloco Beatles para tocar na minha casa, fico muito feliz.

EOnline: De 2006 a 2011, foi um período intenso de produção na sua carreira com o lançamento de quatro álbuns. Quais são as inspirações e influências para  esse últimos trabalhos?
Lô Borges: As minhas inspirações para fazer música são basicamente as mesmas do início da minha carreira: o amor pela música, a vontade e a inspiração divina. Nem sempre sei de onde vem a inspiração. Pego o instrumento e as ideias começam a borbulhar na cabeça. Nos últimos anos, compus e gravei mais de 70 músicas inéditas. É um momento muito parecido com o início da minha carreira. Eu tinha um violão na mão e um ideia na cabeça.

EOnline: Em algum momento da sua carreira você teve um bloqueio na hora de compor?
Lô Borges: Acontece na carreira de todos. O meu bloqueio foi num período muito rápido. Fiquei uns 6 meses sem conseguir fazer música, mas não fiquei muito encanado. Fiz tantas músicas e sabia que iria fazer outras tantas, por isso dei um tempo. Esperei a naturalidade e a inspiração voltarem.

EOnline: Parte significativa de suas composições são feitas em parceria, entre as mais frequentes estão Márcio Borges, Chico Amaral e Ronaldo Bastos. Como essas parcerias influenciam seu processo criativo?
Lô Borges: As parcerias acontecem de uma forma meio mágica. Faço uma música e já penso em quem poderia ser o parceiro ou o letrista. Algumas pessoas já vêm direto na minha cabeça: essa é para o Márcio Borges, essa é para o Ronaldo Bastos, e por aí vai... Há alguns pequenos trancos, mas é pouco habitual. Geralmente, quando faço músicas já sei qual compositor vou chamar.

EOnline: Quem são suas apostas da nova geração de cantores e compositores?
Lô Borges: Não tenho muitas apostas. Tenho pouco tempo para pesquisar. Escuto muito discos na estrada durante os meus shows e nos camarins. Eu não vou citar ninguém, mas tenho recebido muita coisa que me agrada. Posso dizer que a música brasileira passa muito bem, obrigado.

EOnline: Você pretende lançar um novo álbum no próximos meses?
Lô Borges: Pretendo lançar o tempo todo. Estou com um álbum de inéditas pronto para ser lançado no começo do ano que vem. O inédito é importante. Não consigo viver sem fazer música. É minha sobrevivência, minha leitura do mundo atual e meu cotidiano. Tudo passa pela música e pela composição. Isso vai continuar durante minha vida inteira.