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Bitch, She’s Madonna!

MDNA Sessions 2012 | Foto: Mert & Marcus.
MDNA Sessions 2012 | Foto: Mert & Marcus.

*Por Murilo Gussi

Eu nasci em 1987. Naquele ano, milhares de gays descobriam seu espaço em pistas de dança em Nova York, travestis eram presas por estarem nas ruas de São Paulo em uma operação chamada Tarântula, crescia o número de mortes causadas pela “ peste gay” -  como era chamado o vírus HIV - e Madonna já fazia muito sucesso pelo mundo, lutando contra toda forma de preconceito.

Cresci numa cidade com hábitos provincianos, enquanto Madonna dava cada vez mais visibilidade para a comunidade gay. Ela levou o vogue para palcos do mundo todo; a dança, que até então era estigmatizada como marginal, fez multidões dançarem pelo orgulho e pela diversidade. Questionou “Why’s it so hard to love” e se fez presente “In this life”.

O ano é 2001, Madonna já dominava o mundo e eu tinha medo de usar o banheiro masculino na escola. Lembro-me de ver na TV o comercial de lançamento do GHV2. Ok, eu já tinha escutado “Music” inúmeras vezes no rádio, sabia que uma vadia tinha interpretado Evita no cinema, mas ouvir GHV2  foi como ser atingido por um “Ray of light “,  escutar os primeiros acordes de “Deeper and Deeper” fez meu corpo todo arrepiar. Sim, Madonna nos faz dançar e desperta a queen viva em cada um de nós.

Eu fiquei enlouquecido, a internet ainda não tinha chegado em casa, mas Madonna sim e me fez querer mais. Foi assistindo na “Cama com Madonna” que entendi que havia no mundo outros como eu e existia beleza nisso. “Keep it togheter in the family”: eu não estava só! Já não ouvia “Veado” e corria para me esconder. Não era apenas um veado, eu havia me tornado uma diva, aceite!
Levei vídeos da Madonna nas primeiras aulas de teatro, era exatamente aquilo que eu queria fazer, com aquela força e poder de transformação. Foram muitos episódios influenciados por Madonna que me tornaram quem sou, troquei o medo pelo orgulho e hoje falo de mim para falar do mundo.

Madonna segue como uma das principais ativistas na luta pelas causas gay, falou sobre HIV e do preconceito com as vítimas da doença, além de apoiar o casamento gay, criticar o comportamento de escoteiros homofóbicos, peitar as leis anti-gay na Rússia, questionar a religião, beijar Britney Spears e jamais desistir. Por essas e outras muitas razões agradeço, em especial por permitir a mim e a milhares de pessoas perceber o amor onde só existia o ódio. A revolução do amor já começou e fomos todos convocados por Ela. “It’s a Celebration”, “ Strike a pose!”

*Murilo Gussi é ator e diretor Teatral

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Quatro personalidades distintas descrevem a influência do ícone Madonna em sua vida profissional e pessoal. A produção textual resulta em um ebook que integra a programação do especial "Madonna, Sexagenária".

Leia também:

> O lado negro da força, por Anna Claudia Magalhães, artista visual e escritora

Sentindo-se uma estrela!, por Dulce Ferreira, contadora de causos

Hei, Brasil. Vamos pimbar!, por Harlen Félix, ator e jornalista

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