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Capítulo 13: A Casa do Avô
Por Ricardo Lísias
Meu avô reagiu conformado à morte da esposa. Ele decidiu continuar no casarão e, talvez para afastar um pouco a saudade, fechou diversos cômodos. Os quartos do fundo foram lacrados. Passei esses últimos anos sem nunca mais vê-los. Quando fui entregar a chave para o SESC, fiquei surpreso ao notar que todas estavam funcionando.
Para evitar trabalho, ele secou o laguinho. Quanto ao jardim, deixou-o inteiramente nas mãos do senhor que vinha a cada quinzena limpá-lo e tirar as ervas daninhas. A luneta já estava aposentada há um bom tempo.
O interior do casarão também sofreu algumas transformações. O piano continuou no mesmo lugar, mas os livros subiram. Como pretendia passar a maior parte do tempo lendo, meu avô não queria subir e descer as escadas mais do que o necessário. Quanto aos banheiros, apenas um continuou aberto.
Providenciamos também que uma faxineira cuidasse do almoço e das roupas dele. Como sabíamos que ele não queria ser incomodado, combinamos certas regras e sobretudo a obrigação de ela ir embora às catorze horas. Com o jardineiro, foi a mesma coisa. Desse horário até o dia seguinte, se não houvesse nenhuma visita, meu avô ficaria sozinho.
Foi durante esse período que considerei várias vezes ir visitá-lo sozinho para falar o que eu tinha vontade. Já disse que cheguei até a porta e voltei para trás várias vezes. Por fim, acabei indo visitá-lo apenas junto com outras pessoas, o que obviamente inviabilizava qualquer conversa mais íntima.