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A sala de giz de Laurie Anderson

Fotos: Marcos Finotti
Fotos: Marcos Finotti

Como parte da programação da 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o CineSesc inaugura seu mais novo anexo com a instalação Chalkroom, criada por Laurie Anderson (EUA, 1947). A artista experimental multimídia colaborou nessa obra com o artista taiwanês Hsin-Chien Huang (Taiwan, 1966), um dos nomes mais proeminentes da vanguarda tecnológica nas artes visuais e no cinema. Após o trabalho ter ganho o prêmio de melhor experiência em realidade virtual, no 74º Festival de Cinema de Veneza, em 2017, o público agora tem a chance de vê-lo em São Paulo.

Chalkroom é uma obra interdisciplinar em realidade virtual, na qual é possível vagar através de enormes estruturas feitas de palavras, desenhos, histórias, poeira e sombras, em uma galeria composta por vários corredores, rampas e edificações escuras cujas paredes pretas estão cobertas por inscrições em giz branco. Uma vez imerso, o espectador está livre para perambular pelos ambientes. As palavras vagam pelos espaços, surgem e se desfazem no ar, são reconstruídas e ressignificadas por meio da interação do público presente com a obra.

O universo criado por Laurie Anderson e Hsin-Chien Huang é uma biblioteca de histórias. Nas palavras da artista: “Ninguém nunca encontrará todas elas”. E avisa: “Nunca mesmo. Estão escondidas em locais muito esquisitos”. No trabalho, a construção poética da obra integra várias formas de expressão: do cinema à realidade virtual, da poesia à música experimental.

Em Chalkroom, por vezes, letras flutuam na direção do espectador como flocos de neve, definindo o espaço, preenchendo-o com linguagens fraturadas, resíduos de uma espécie de explosão. Parecem narrativas ou poemas que se esfacelam ou que são paulatinamente reconstruídos, num exercício continuo de ramificação, progressão e infinitude. Diferentes ambientes convidam o espectador a vivenciar distintas formas de interação: desenhar, esculpir, explorar a tridimensionalidade ou, simplesmente, voar — como num sonho.

Nessa jornada onírica e solitária por histórias e fragmentos de linguagens, a voz ecoante da também cantora, letrista e compositora Laurie Anderson traz questionamentos e provocações. Junto ao desenho sonoro, sua fala acolhe o espectador, sem pautar a experiência ou induzir qualquer tipo de ação. A proposta é deslumbrar-se visualmente e cognitivamente, sem necessariamente ter de fazer algo determinado lá dentro.

Há, portanto, um sentido permanente de liberdade permeando o trabalho da artista. “Cada uma das coisas que produzi, independente de ser uma música ou um desenho, trata de uma única coisa. Desencarnar, perder-se do corpo”, explica Laurie.

Os espaços do novo anexo do CineSesc — unidade da rede Sesc São Paulo desde 1979, localizada na famosa Rua Augusta, a duas quadras da Avenida Paulista — foram envelopados com a arte da instalação, e uma das paredes foi transformada em uma grande lousa para que os visitantes possam desenhar, no mundo físico, após experimentar a obra virtual. Portanto, durante três meses, o público local terá a possibilidade de conhecer o trabalho desenvolvido por Laurie Anderson e Hsin-Chien Huang.