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O lugar de Min Tanaka

Inédito no Brasil, Locus Focus Project já passou por Japão, Índia, África e Europa
Inédito no Brasil, Locus Focus Project já passou por Japão, Índia, África e Europa

“O meu lugar
É cercado de luta e suor
Esperança num mundo melhor”

Provavelmente o sambista Arlindo Cruz não tenha pensado no dançarino japonês Min Tanaka, que está em sua segunda visita ao Brasil, ao compor estes versos sobre o bairro carioca de Madureira. De qualquer forma, há neles um diálogo com Locus Focus, ou foco no lugar.

A coreografia, inédita no Brasil, já foi apresentada em vários lugares, urbanos e rurais, no Japão, Índia, África e Europa. E isto faz toda a diferença. Os movimentos surgem a partir do diálogo de Tanaka com os espaços e as pessoas que fizeram parte da história desses locais.

Nada é reproduzido ou predeterminado. A progressão  da dança não é projetada com antecedência. “É um desafio muito mais interessante, se, antes, minha mente está completamente vazia. Idealmente como uma ficha limpa. Após a apresentação, se não me lembro o que fiz, isso é perfeito”, diz o artista.

Informações e sentimentos sobre esses lugares são usados na criação. “Quando eu falo ‘dançar um lugar’, eu quero dizer que o lugar tem que ser um lugar onde eu possa contemplar o meu próprio cadáver. É isto que me permite dançar ali. Moléculas são produção de energia e são elas que me encorajam a dançar. Graças à interação entre o magma subterrâneo e e à vida na superfície do solo, eu posso dançar ali. Eu só estou lá tomado, no meio dessa interação”, explica o dançarino. “Depois eu deixo vir aquilo que tem significação para mim, mas não para criar uma coreografia... A questão essencial é: que tipo de pessoa eu quero ser quando eu estiver dançando ali?”, finaliza.

Tanaka pertence à geração dos expoentes da vanguarda japonesa no período pós-guerra, como o fotógrafo Eikoh Hosoe – que teve seu trabalho exposto pela primeira vez no Brasil, em 2014 no Sesc Consolação – e os criadores do Butô, "a dança das trevas", Kasuo Ohno e Tatsumi Hijikata, também retratadtos por Hosoe. Tanaka, aliás, não se define como um dançarino de butô. Formado em balé clássico e dança moderna, em entrevista à Folha de S. Paulo ele é taxativo: "Não quero um método preestabelecido. O movimento humano não tem mais nada de novo, tudo já foi mostrado”.

Como será Locus Focus em São Paulo? No Espaço Cênico do CPT (Centro de Pesquisa Teatral do Sesc em São Paulo). Um lugar cheio de histórias e personagens. Bom espetáculo, Min Tanaka.