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Beckett por Alvim

As atrizes Paula Spinelli, Nathália Timberg e Juliana Galdino em cena <br> Foto: Daniel Seabra
As atrizes Paula Spinelli, Nathália Timberg e Juliana Galdino em cena
Foto: Daniel Seabra

Espetáculo Tríptico Samuel Beckett chega ao Sesc São José dos Campos nos dias 18, 19 e 20 de julho, depois de passar pelas unidades de Sorocaba e Santos


Desolação, solidão, angústia e confusão. Esses elementos intensificam o estilo literário das obras mais tardias de Samuel Beckett (1906 - 1989), escritor e dramaturgo irlandês vencedor do Nobel de Literatura (1969), e serviram de inspiração para o diretor e dramaturgo brasileiro Roberto Alvim nesta montagem. 

Minimalismo, sutileza, imobilidade e penumbra. O cenário das peças de Alvim vai ao encontro da interpretação da condição humana do escritor conhecido por explorar a realidade sombria da vida.

Dores, perplexidades, medos, fragilidades e anseios. A narrativa não-linear de Tríptico Samuel Beckett caracteriza o enredo: Juliana Galdino, Paula Spinelli e Nathália Timberg alternam-se para interpretar a mesma mulher em três fases diferentes de sua vida – infância, maturidade e velhice.

O espetáculo

O Tríptico é uma livre adaptação da trilogia final de Beckett, composta pelas obras “Para o Pior Avante”, “Companhia” e “Mal Visto Mal Dito”. Para o diretor, a tríade é como uma carta de despedida na qual o dramaturgo condensa tudo aquilo que apreendeu da vida e da arte. “Depois da experiência, outras leituras serão possíveis, e elas são imprevisíveis”, contou Roberto Alvim em entrevista à EOnline, por e-mail. A seguir os principais trechos:

EOnline: Por que trazer Beckett para os palcos brasileiros?
Roberto Alvim Beckett é um dos maiores autores da história da arte, um revolucionário que levou o teatro a um lugar estético desconhecido. Encená-lo é tornar possível o diálogo e a experienciação de sua obra pelo público contemporâneo. Seu trabalho nos coloca diante de questões constitutivas, nos defrontando com a morte e com a ausência de sentido, ao mesmo tempo em que nos convida a ressignificarmos nossas vidas de modo radicalmente poético.

EOnline: Você disse, durante a divulgação do espetáculo, que a peça é uma resposta do século XXI à obra de Beckett. As dores e as fragilidades do homem no século XX, descritas pelo autor, permanecem as mesmas em cena?
R. A.: As personagens de Beckett encarnam todos os homens e mulheres que caminharam, caminham e caminharão sobre a face da Terra. Não se tratam de questões localizadas historicamente, mas de vida e morte, presença e ausência, tempo e espaço, linguagem e silêncio, para além de aspectos circunstanciais. Quando digo que a peça é uma resposta do século XXI, me refiro à necessidade que tive de me livrar de certos clichês ligados à encenação de textos de Beckett, e procurar uma iconografia cênica nova, que pudesse presentificar de modo insuspeitado a essência de sua obra.

EOnline: Beckett é conhecido por fazer parte do Teatro do Absurdo, que vem dos sentimentos de desolação ocasionados pelas guerras e pelas perdas de referências do homem no século XX.  Como foi o processo criativo do espetáculo, baseado nesses conflitos tão presentes nos textos do escritor?
R. A.: Esta catalogação foi criada por Martin Esslin; é, portanto, apenas a visão de um crítico acerca da obra beckettiana.  Não me pauto por teses a respeito de um autor - procuro, sim, durante o processo de ensaios, me colocar no mesmo lugar pulsivo em que o dramaturgo estava no momento da escritura. Descobrir como ativar aquelas palavras, como dar a elas o poder de transfigurar poeticamente o real. Vou fundo no autor e em sua arquitetura linguística, que espelha seu inconsciente, e não nas leituras que críticos fizeram acerca dele.

EOnline: Algumas das características da linguagem de Samuel Beckett são o humor negro e a crítica à modernidade. Esses elementos também estão presentes no espetáculo?
R.A.: Repito: são clichês que acabam nos protegendo do efeito abissal daquelas palavras. Quem vier assistir ao nosso espetáculo precisa se descolar destas interpretações prévias, destas imagens gastas e, portanto, inofensivas. Trata-se de experienciar Beckett como nunca foi feito anteriormente. Depois da experiência, outras leituras serão possíveis, e elas são imprevisíveis.

Ensaio no Sesc Sorocaba (Foto: Camila Medeiros)

 

Assista ao trailer do espetáculo:

 

 

o que: Tríptico Samuel Beckett
quando:

18, 19 e 20/jul

onde:

Sesc São José dos Campos

ingressos:

R$4,00 a R$20,00