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Ubatuba Quilombola
Percorrer roteiros que aproximam o viajante do visitado é o objetivo do projeto Brasileiro Que Nem Eu, que leva cada participante para além do turismo convencional, ou seja, um turismo de base comunitária, compartilhando saberes, valores, culturas, tradições, religião, dança, música e culinária
O Brasil é repleto de belas paisagens, onde o sol brilha a maior parte do ano e o verde da mata e o azul do céu colorem cada viagem. Percorrer roteiros que aproximam o viajante do visitado é o objetivo do projeto Brasileiro Que Nem Eu, que leva cada participante para além do turismo convencional, ou seja, um turismo de base comunitária, compartilhando saberes, valores, culturas, tradições, religião, dança, música e culinária.
Ao desbravar e percorrer novos caminhos e comunidades, foi possível em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, vivenciar a partir do segundo dia da viagem essa troca no Núcleo Picinguaba, com a comunidade quilombola e caiçara, na fabricação da farinha de mandioca, no passeio de bote e um delicioso almoço típico na escola que fica dentro do reduto, tudo isso emoldurado pela beleza da Mata Atlântica. O cardápio, bem diferente do que estamos acostumados, era composto de suco de juçara, salada com taioba (coração da banana) e, de sobremesa, mousse de cambuci.
O mestre quilombola Zé Pedro é o morador mais antigo do Quilombo da Fazenda, e ouvir seus contos é como viajar no tempo. Um olhar fugidio, dividido entre o passado e o presente, surge enquanto ele compartilha seus saberes, passados de geração em geração. Entre outras tantas coisas, ele falou com orgulho do seu avô que foi escravo e chegou ao Brasil trazido por um navio negreiro.
No dia seguinte, o grupo visitou o IPEMA (Instituto de Permacultura e Ecovila da Mata Atlântica), onde para chegar, passou por algumas trilhas entre casas e flores (hortênsias) e cruzou um pequeno rio, de águas cristalinas e um leito rochoso. O cheirinho de mato, o barulho de pássaros e da cachoeira transforma a vista em poesia e música.
No instituto, foram recebidos por Leonardo Britto, vestido com uma camiseta do projeto juçara. Juçara é o nome dado a uma espécie local de palmeira que, como tantas outras espécies, está em risco de extinção. Britto vive em uma ecovila, num estilo de vida diferente do costumeiro, dentro de um ecossistema pensado e preservado. Casas de pau a pique, sistema de energia renovável (solar e hidroturbina), coleta de lixo orgânico para compostagem, a água utilizada para lavar louça é reaproveitada de diversas formas - como, por exemplo, para regar plantas. Tudo mais que for possível é reutilizado.
Um aprendizado para toda a vida, visto que a natureza é equilibrada, mas o homem não tem consciência e desequilibra o sistema. A permacultura trás a observação e a interação com o meio ambiente.
Os sentidos, cheiros, clima local, sabores, sons da natureza, sotaques e o tempo que os moradores de cada região dispõem para uma boa prosa, com o sorriso largo no rosto, nos leva a refletir sobre os nossos valores.
O projeto Brasileiro que nem eu nos faz pensar a natureza, não apenas como uma imagem para uma bela foto, mas, sobretudo, como algo a ser contemplado, entendido e, mais importante, protegido. E quem sabe assim, a partir desse entendimento, possamos buscar meios para que as nossas ações ajam em conjunto com o que nos cerca ao invés de destruir o mundo ao nosso redor.
Veja as fotos do roteiro no Flickr do Sesc São Paulo:
Registro do roteiro Ubatuba Quilombola
Angelita Borges | Sesc Santos