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Wem: do regional ao universal

O músico Wem Mazon caminha na praia com sua filha. Foto: Amanda Basani
O músico Wem Mazon caminha na praia com sua filha. Foto: Amanda Basani

A EOnline entrevistou o músico Wem, que lança em 2014 seu primeiro álbum solo, "Começo", repleto de sonoridades da cultura popular brasileira

De malas prontas para realizar seu primeiro show no Sesc Campinas, o músico Wem (sim, este é o seu nome verdadeiro) apresenta as músicas de Começo, seu primeiro álbum solo, fruto de um trabalho de experimentações sonoras e extensa pesquisa da cultura popular brasileira.
Nessa entrevista, Wem fala sobre tropicalismo, mídias musicais, Palavra Cantada e sobre como é ser pai e músico ao mesmo tempo.Pressione play e boa leitura!

 

EOnline: É perceptível um esforço da mídia no sentido de classificar os artistas em determinados formatos ou linguagens, com o argumento de que isso facilita a compreensão do público. Gostaríamos de fazer o exercício oposto, pedindo que você delineie os contornos que definem a sua música, ou a sua proposta musical.
Wem:
Minha busca é fazer o regional soar universal. Gosto muito das manifestações populares que existem ao redor do mundo e principalmente no Brasil, a música popular tem suas raízes nestas festas. Procuro fazer releituras para estes gêneros e, de certa forma, os tornar mais contemporâneos. No disco Começo tem muito disso, quase todas as músicas são apoiadas em ritmos e manifestações bem regionais, misturados com elementos mais universais.

EOnline: É evidente a influência do tropicalismo em Começo. Como você contextualiza o seu trabalho nesse movimento? 
Wem:
Sou muito fã do movimento tropicalista e mais ainda da musicalidade do Gilberto Gil. Assim como os tropicalistas, eu quero é agregar todas as influências na minha música, sem preconceito e sem restrições. Como disse, procuro misturar o regional com o universal.

EOnline: Começo está disponível para download gratuito em seu website. Atitudes parecidas como esta são cada vez mais comuns entre os artistas independentes, desconstruindo uma postura que há menos de 20 anos ainda fazia algum sentido, quando o álbum físico era fonte de renda para o músico e objeto colecionável para o público.
Será que o registro musical transformou-se apenas em "material de divulgação"? Na sua opinião, qual o papel do CD, DVD, LP etc., num mundo onde o formato físico adquiriu o caráter de obsoleto?
Wem:
As coisas andam muito rápido... Do lado comercial, não sei dizer ao certo qual é o papel das mídias e de se fazer um álbum no formato de 10, 13 canções... E  provavelmente, perto do que já foi, é quase inutilidade comercial, mas para mim enquanto artista, que sempre ouviu discos maravilhosos neste formato, faz sentido. Um disco é como um livro, retrata um momento, uma estética e possibilita (como são geralmente 10 músicas) variantes e facetas de um discurso. Mas não sou nostálgico: sempre fico pensando na possibilidade de novos formatos para álbuns futuros.

EOnline:  O que você consegue vislumbrar no mercado fonográfico brasileiro, principalmente com a retomada do LP? Acha que é uma saída? Ou seria apenas outra moda passageira?
Wem:
Só o futuro dirá se é moda ou veio pra ficar... O que acho é que o LP é mais um entre os formatos que possibilitam a experiência sonora. E isso é maravilhoso. Você ter aquela bolachona na sua casa, com projeto gráfico lindo, grandão, é muito legal. E antagoniza o mp3, que é tão portátil e incrível por isso.

EOnline: Como você ouve música no seu dia-a-dia?
Wem:
Viajo bastante, então a cada semana subo pro meu telefone pelo menos um disco novo. Gosto de escutar as novidades. Em casa procuro reviver os vinis antigos e antológicos!

EOnline: Quais artistas você tem escutado ultimamente? O que você considera legal no trabalho deles?
Wem:
Dentre as últimas coisas que ouvi, o que mais me chamou a atenção foram os novos álbuns da Anelis Assumpção, O Terno e o duo francês de música eletrônica Air. A Anelis fez um disco alto astral, muito gostoso de ouvir e dançar, com letras e texturas de primeira. O Terno é um trio muito virtuoso, com canções inventivas e consistentes. Esses dois discos estão disponíveis nos sites dos artistas para download gratuito. Já o Air consegue um resultado de timbre impressionante!

EOnline: Nesse trabalho solo, o que vemos da sua experiência como músico do grupo Palavra Cantada, que faz canções para crianças?
Wem:
Quando vou criar uma música ou quando subo no palco é sempre uma grande diversão. Faço música com grande paixão e muito respeito, por isso não há muita diferença quando toco pra crianças ou adultos. A alegria e o prazer são os mesmos. Essas minhas facetas sempre andaram lado a lado e sempre influenciaram uma à outra. Esse é o meu combustível: ora lá e ora cá.

EOnline: Você se tornou pai há pouco tempo. Essa é uma experiência visível nas canções de Começo. Fale um pouco sobre como é conciliar a carreira de músico e o papel paterno.
Wem:
O disco é recheado pela minha experiência como pai, muito mais na musicalidade do que nas letras. Gravei grande parte do disco na minha casa e minha filha acompanhou várias sessões de gravação! A música “Dança e deixa” é o discurso da gente brincando um dia na praia. Nem sempre é fácil conciliar, há épocas em que viajo bastante... Mas no geral passamos muito tempo juntos, é maravilhoso. Gosto muito de levá-la de bicicleta para a escola!


o que: Wem
quando:

5 de outubro, domingo, 16h

onde: Sesc Campinas - Rua Dom José I, 270/333, Bonfim
ingressos:

Grátis