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Masculinidades e feminilidades negras em diálogo

Foto: Sidney e Lucelia
Foto: Sidney e Lucelia

Os estudos de gênero são uma área de conhecimento consolidada e com produção abundante especialmente nas Ciências Sociais, mas também em outras áreas do conhecimento como a História e a Filosofia. Até a década de 1970, os estudos de gênero se debruçavam quase que exclusivamente sobre a experiência social de mulheres. Foi o tensionamento gerado por uma avalanche de estudos sobre mulheres e feminismo, assim como sobre homens gays (nos estudos de sexualidade) que impulsionou o surgimento dos estudos sobre masculinidade.

Masculinidade e feminilidade são arranjos de concepções e práticas que visam determinar os modos de ser de homens e mulheres, bem como os lugares sociais destinados a cada um dos sexos. Trata-se, portanto, de um processo de normatização dos papéis de gênero.

O antropólogo Waldemir Rosa (UNILA) define masculinidade como um “projeto de gênero” que estaria relacionado à disputa pelo exercício do poder na sociedade. Este “projeto” se associa a outras estruturas de diferenciação como classe, raça, sexualidade, idade, dando origem a hierarquizações internas, como a divisão entre masculinidades hegemônicas (homens brancos, heterossexuais, ricos, jovens etc) e masculinidades subalternas (homens negros, gays, pobres, idosos etc).

Como a masculinidade, a feminilidade também tem como propósito estabelecer um padrão de gênero. Nesse caso, a forma ideal de ser mulher. Esse conceito está expresso no senso comum, nos meios de comunicação e até no vestuário. O sociólogo Pierre Bourdieu (2003) define a estética da feminilidade como a arte de “se fazer pequena”. O vestuário feminino sempre impôs limitações ao corpo por exigir gestos pequenos, curtos e delicados. A feminilidade foi socialmente construída para moldar as mulheres para subalternidade.

A feminilidade também deve ser entendida a partir de associações com outros marcadores sociais como raça, classe e sexualidade. Tais mecanismos de diferenciação definem lugares sociais distintos para mulheres brancas, negras, ricas, pobres, jovens ou idosas.

O ciclo Masculinidades e Feminilidades negras em diálogo que se realiza nos dias 25 e 26 de maio no Centro de Pesquisa e Formação traz um conjunto de investigações teórico-políticas sobre as feminilidades e masculinidades a partir de uma perspectiva racial e se propõe a estabelecer um diálogo entre esses grupos sociais generificados (em geral as pesquisas e debates se debruçam sobre as experiências sociais de mulheres e homens isoladamente). O ciclo apresenta pesquisas acadêmicas, debates políticos, teorias sociais e psicológicas contemporâneas, a partir da articulação analítica complexa entre gênero e raça, além de classe, sexualidade, geração e região. Essas categorias possibilitam a identificação de aspectos individuais, coletivos e processos sócio-históricos que influenciam a experiência de ser mulher negra e homem negro e suas relações.

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Dulci Lima
Doutoranda em Ciências Humanas e Sociais na UFABC
Pesquisadora do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo