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Da Times Square para a Avenida Paulista: conheça mais sobre a obra Büsi
Os artistas suíços Peter Fischli (1952 -) e David Weiss (1946-2012), posteriormente conhecidos como Fischli & Weiss, começaram a trabalhar juntos em 1979. A escolha por materiais não convencionais perpassa a maior parte de seus trabalhos, que produziram em diversas mídias como o vídeo, a fotografia e a escultura.
A obra “Büsi”, ou “Gatinho” como traduzido no português, não é diferente. Exibida pela primeira vez entre 16 de abril e 20 maio de 2001 na Times Square em Nova York, a obra chegou ao Brasil em 2019, exibida em tela de LED na fachada do Sesc Avenida Paulista. O vídeo, de seis minutos e trinta segundos de duração, nos apresenta um gatinho que lentamente bebe leite de um prato marrom no chão. Algumas vezes, durante o vídeo, o gato interrompe sua ação e, com o olhar distante, parece se interessar por algo fora do enquadramento da câmera. Após as breves pausas ele retoma sua ação.
Flertando com a cultura pop e com a estética kitsch, Fischli & Weiss nos apresentam as seguintes questões:
O que acontece quando uma cena presente na realidade cotidiana é transfigurada em obra, fora do espaço expositivo tradicional?
Pode um simples ato do cotidiano ser palco da arte e das reflexões e inquietações que uma obra possibilita em nós?
Em um mundo de estímulos constantes, a obra contrasta com o fluxo temporal formado por essa movimentação urbana que choca e demanda respostas urgentes. Como a ação de um gato tomando leite descompromissadamente gera afetos e pensamentos diante daqueles que caminham interiorizados em seus fluxos? Independente da complexidade destas respostas, o gatinho está ali, tomando seu leite, vivendo o tempo de sua ação. Enquanto equipe do educativo da exposição, temos nos questionado sobre o que é essa temporalidade das ações, e o que é perder tempo, pensando que a perda de tempo está geralmente associada a uma atenção dada ao que não é puramente prático, imediato, urgente e utilitário.
Nos dispomos, pois, a criar ações efêmeras: interromper o fluxo dos pedestres na Avenida criando pequenas sessões de “cinema”, ou apenas sentando na calçada em conjunto para assistir à obra. Assim buscamos ativar o corpo do espectador passivo, oferecendo um território temporário para troca de experiências, conversas e subjetividades e abrindo uma porta de entrada para a exposição.
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Texto produzido a partir de reflexões da equipe educativa da exposição O Tempo Mata - Imagem em movimento na Julia Stoschek Collection