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Odilon Esteves conta sobre o processo de criação de O Importado, solo que estreia no Sesc Pinheiros

Foto: Fernando Badharo
Foto: Fernando Badharo

O ator mineiro Odilon Esteves estreia no Sesc Pinheiros seu solo, O Importado, que gira em torno de um jovem administrador, homem branco, bem-sucedido financeiramente. Ele dirige seu carro importado, às margens do rio Tietê, rumo ao aeroporto, mas a chuva faz piorar o trânsito, atrapalhando seus planos.

Preso no trânsito, o personagem dispara seus pensamentos, sem os filtros da diplomacia ou da hipocrisia. E este homem revela-se, em seu íntimo, extremamente racista, meritocrata, machista e materialista.

 


Foto: Kika Antunes

 

Odilon conta pra gente um pouco sobre como foi o processo de criação do espetáculo:

Eu comecei esse processo querendo pesquisar a palavra “loucura”, nas suas várias acepções. Qual é o limiar que separa a sanidade da insanidade, o real da alucinação? Quanto a vida virtual nos aliena do mundo palpável? É mesmo irreal o que é fruto de nossa imaginação?

Depois esta palavra me levou aos seus sinônimos e antônimos. O que poderia ser o oposto de “loucura”? A "normalidade", a "sanidade", a "lucidez"? Foi aí que me lembrei deste conto do André Sant'Anna, cujo personagem/narrador é considerado, por uma parte imensa de nossa sociedade, a norma, o projeto de vida almejado, o caminho de uma vida exitosa. Esse personagem é um homem obcecado por dinheiro, por posição, por poder. E me pergunto: aderir plenamente a um projeto de vida cujo único fim é acumular bens, passando por cima do que quer que seja para atingir esse objetivo, atropelando si mesmo, os outros, a natureza... como é possível que isso seja considerado sanidade, normalidade, sensatez?

Esse texto me parecia, quinze anos atrás, uma alegoria do homem branco racista, privilegiado, meritocrata. Como se fosse preciso exagerá-lo, mostrá-lo com uma lupa, para que o víssemos dissecado. No entanto, nos últimos tempos, esse homem saiu da toca aos montes, explicitamente, está por toda parte, porque ele não é somente um homem. Ele é uma ideia, uma visão de mundo, um projeto de construção da sociedade. E esse ser humano estufa o peito para vangloriar-se daquilo que deveria ser considerado desumano.

Quando um processo de criação é iniciado, conhece-se o ponto de partida, mas aonde o processo vai levar, é uma incógnita. Esse personagem me causa reações que vão do ódio à pena, do asco ao medo, da irritação à prostração. Parece uma montanha-russa. A peça é só um mote para continuarmos a conversar sobre esses temas, porque não dá para fazer vista grossa a tudo o que esse personagem representa”.

 

O Importado faz temporada de 23 de maio a 15 de junho de 2019 no Auditório do Sesc Pinheiros. Para mais informações, clique aqui.