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Marcelo Maluf... E aí, Biblioteca pra quê?

Há muitas funções que eu poderia listar sobre a importância das bibliotecas para a constituição sensível e intelectual do ser humano. Mas creio que seja mais justo e honesto falar a partir da minha experiência como frequentador de bibliotecas e de como fui afetado por essa relação.

Comecei a escrever depois que fiquei trancado, por uma noite, na biblioteca municipal da pequena cidade onde nasci. Eu tinha 11 anos e os livros me atraíam de maneira irracional. O objeto em si me fascinava antes de saber da potência das palavras contidas nele. Naquela madrugada os livros me serviram de travesseiro e cobertor, me deram abrigo e contaminaram o meu corpo. Primeiro a biblioteca foi meu refúgio, depois lugar de mistério em busca do enigma de ser. Minha paixão pelas palavras é física, minha imaginação está na pele e nos músculos, minha respiração capta os hiatos, os silêncios que podem significar mais do que qualquer significado aparente. Não sinto a literatura como algo simplesmente mental, as palavras são minha tentativa espiritual de me comunicar com os primeiros contadores de histórias, o invisível real e presente. E tudo isso devo a pequena biblioteca municipal da cidade onde nasci. Foi ali que o fascínio pela literatura e minha verdadeira formação se deu. As leituras que fiz daquele acervo me marcam profundamente até hoje.