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Valéria Lopes... E aí, Biblioteca pra quê?

O verbete sobre a Biblioteca de Babel, no Dicionário de Lugares Imaginários, de Alberto Manguel e Gianni Guadalupi, descreve aquilo que se encontra armazenado no local:

Cada prateleira encerra 32 livros de formato uniforme; cada livro tem 410 páginas; cada página, quarenta linhas; cada linha, umas oitenta letras na cor preta. Uma vez que os símbolos ortográficos são 25 e que a biblioteca é infinita, encontra-se ali tudo o que é dado a expressar, em todos os idiomas. Tudo: a história minuciosa do futuro, as autobiografias dos arcanjos, o catálogo fiel da biblioteca, milhares e milhares de catálogos falsos, a verdadeira história da morte de cada homem, a versão de cada livro em todas as línguas. Geração após geração, os bilbiotecários percorrem a biblioteca em busca do Livro. (Jorge Luis Borges, “La biblioteca de Babel”, em El Jardín de senderos que se bifurcan, Buenos Aires, 1941; “A biblioteca de Babel”, em Ficções, trad. Carlos Nejar, São Paulo, 1995).

Nenhuma outra descrição é tão simples nem tão plena: as bibliotecas são lugares que guardam o infinito. Mas como desejar o infinito?

Os desejos são sempre decorrência do que se sabe – não é possível desejar aquilo que não se sabe que existe. Está aí a potência das bibliotecas, porque nos livros encontram-se aquilo que nunca imaginamos. Quem poderia supor como vivem os irmãos, unidos até a morte pelo dedo mindinho, no relato de José Luis Peixoto? O papagaio que conta a história de Macunaíma, de Mario de Andrade? A incrível viagem de Odisseu, de Homero? O futuro que Isaac Asimov descreveu em Fundação? As impossíveis transformações de Drácula, de Bram Stoker? A trajetória de um menino soldado na guerra insuportável de Serra Leoa, de Ishmael Beah? As provocações sobre o cotidiano bruto e sedutor de Ferréz? E a lista não termina...

As bibliotecas fixas sempre armazenaram o infinito, mas as bibliotecas móveis – essa fantástica invenção dos novos tempos –  carregam, tansportam espaços de leitura para quem quiser e para quem vier, democratizando a construção de desejos e possibilidades.