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Reflexão sobre o Nordeste e o "estar a nordeste" em exposição
Com mais de 250 obras, grande exposição do Sesc 24 de Maio, com curadoria de Bitu Cassundé, Carissa Diniz e Marcelo Campos, propõe um mergulho em torno do imaginário que se tem da região Nordeste.
Diversas linguagens, com suportes que vão do barro aos memes, e com criações singulares de 160 artistas, se encontram num ponto em comum: a problematização dos imaginários acerca da região Nordeste do país. São mais de 250 obras organizadas para a exposição À Nordeste, aberta para visitação desde 16 de maio, no Sesc 24 de Maio, e permanece até 25 de agosto de 2019.
“Temos justapostos artistas renomados e criadores culturais que sequer estão inseridos no circuito que hoje entende-se como o circuito da arte contemporânea. Não hierarquizamos aqui as diversas formas de produção de cultura, como outrora se fez entre ‘cultura erudita’ e ‘cultura de massa’. Esse conjunto cumpre um desejo que é dizer o que é a região hoje e quais são as questões ali em voga”, afirma Marcelo Campos.
“A Nordeste de que?”, a indagação e provocação do artista cearense Yuri Firmeza foi o que motivou a exposição. A crase em À Nordeste surge como elemento desafiador do estereótipo regionalista, pois evita o artigo definido – e, com ele, uma identidade unívoca – de “o nordeste”.
“Com esse conjunto riquíssimo, diverso e heterogêneo de obras e artistas, não temos qualquer pretensão em apresentar ao público o que é o Nordeste hoje, mas, sim, o que é estar à Nordeste. Sob essa perspectiva, lançamos luz sobre jogos políticos e estéticos, marcados por contraposições em relações às hegemonias, centralidades e, inclusive, outras periferias”, afirma Clarissa Diniz.
Para essa reunião de obras e a fim de atualizar as pesquisas já voltadas para a região, conhecer novos artistas e projetos e, de alguma forma, moldar a curadoria da exposição, os curadores revisitaram as nove capitais nordestinas, além de interiores significativos para alguns desses Estados — ora em trio, em dupla, na companhia de representantes do Sesc ou, raras vezes, individualmente. Na prática, as viagens de pesquisa aconteceram de agosto de 2018 a janeiro de 2019.
“Iniciamos essas viagens e visitas a campo no segundo semestre do último ano, em pleno processo eleitoral. Neste período, o Nordeste vivenciou um momento um tanto quanto singular, revigorante, de contraposição a uma ideia de Brasil que acabou prevalecendo naquele contexto”, pontua Diniz. “Pudemos ver um Brasil em transformação, a partir de um Nordeste de muitas lutas, mobilizações e reivindicações em torno de suas questões”, completa Bitu Cassundé.
Para facilitar a navegação do público em meio à exposição, os trabalhos foram divididos em oito núcleos distintos, que se ramificam e contaminam uns aos outros: Futuro, Insurgência, (De)colonialidade, Trabalho, Natureza, Cidade, Desejo e Linguagem. Neles, obras já existentes se articulam a 12 criações inéditas, especialmente comissionadas pelo Sesc 24 de Maio para esta exposição.
Sob estas oito chaves de leitura diversas, a exposição À Nordeste propõe um mergulho em questões e perspectivas não-hegemônicas em torno do imaginário que se tem dessa região. O Nordeste emerge então não como um lugar, mas como uma posição, uma situação em meio a um pensamento pautado por centralidades impositivas, colonialistas, extrativistas, que posicionam o centro-sul do País como caixa de ressonância e instância normativa para comportamentos estético-formais.
Algumas obras são expostas em salas especiais, com visitação apenas para maiores de 18 anos. A exposição conta, também, com uma série de recursos acessíveis, como videolibras, audiodescrição, maquetes e reproduções táteis de alguns trabalhos.
Além da mostra, À Nordeste conta com uma programação complementar, que você pode conhecer clicando aqui.