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Floresta Nacional de Ipanema

Floresta Nacional de Ipanema com a vista no alto do Morro do Araçoiaba.<br>Foto: Dalmir Ribeiro Lima
Floresta Nacional de Ipanema com a vista no alto do Morro do Araçoiaba.
Foto: Dalmir Ribeiro Lima

O dia amanheceu mais cedo para os participantes do passeio a Floresta Nacional de Ipanema. Na entrada da unidade do Sesc, a expectativa refletida nos olhos dos passageiros brilhava como o sol lá fora, que prometia um belo dia de calor e céu azul. Após as orientações iniciais do guia, todos se cumprimentaram para dar início a aventura coletiva e embarcaram no ônibus rumo à cidade de Iperó (SP).

Após uma hora de estrada, a paisagem já se modificou e as placas indicaram a proximidade do destino. Localizada a 120 km da cidade de São Paulo, entre os municípios de Iperó, Araçoiaba da Serra e Capela do Alto, a Floresta Nacional de Ipanema é uma Unidade de Conservação Federal administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio do Ministério do Meio Ambiente, que abriga hoje centenas de espécies de animais numa área de tensão ecológica, entre Cerrado e Mata Atlântica.

 

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Vista panorâmica na Trilha da Pedra Santa na Floresta Nacional de Ipanema (Foto: Dalmir Ribeiro Lima)

 

Além desta riqueza ambiental, a área guarda testemunhos históricos importantes, expressos nas antigas construções da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, criada por D. João VI, em 1810. Considerada a primeira tentativa de fabricação de ferro em solo americano, a fábrica funcionou de 1811 à 1895 utilizando-se das reservas de magnetita predominante nas formações vulcânicas do Morro do Araçoiaba. As construções remanescentes da fábrica são tombadas como patrimônio histórico pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e algumas passaram por um processo de restauração.

 

 

 

 

 

 

 

 

Construções remanescentes da Real Fábrica de Ferro de Ipanema. Nas imagens, a Casa das Armas Brancas e a Represa do Rio Ipanema. (Fotos: Dalmir Ribeiro Lima)

 

Pesquisa ambiental, preservação e conservação são desenvolvidas na Flona de Ipanema, e a área é aberta ao público desde 1998 para as atividades de visitação monitoradas. As visitas têm nos fatos históricos seu foco principal e normalmente são associadas aos monumentos do Sítio Histórico. As caminhadas que complementam o passeio são em trilhas naturais por áreas de Mata Atlântica.

 

Centro de visitantes na Floresta Nacional de Ipanema (Foto: Dalmir Ribeiro Lima)

 

O condutor ambiental Rafael Gonçalves foi quem recebeu o grupo de aventureiros do Sesc com bom humor e dicas importantes para a trilha que seria realizada logo pela manhã. Ressaltou a importância da hidratação e do preparo físico, pois afinal o caminho era de média intensidade com trechos íngremes. Mas as paradas foram suficientes para reunir o grupo, o fôlego e muita informação interessante sobre o meio ambiente e a história do local. Neste percurso o grupo visitou a Gruta do Monge, a Cruz de Ferro e o Monumento à Varnhagen.

 

Gruta do Monge - local onde morou entre 1844 e 1852 a figura mística do religioso Giovanni di Augustini, peregrino e eremita que atravessou as Américas realizando pregações e supostas curas (Foto: Dalmir Ribeiro Lima)

 

Cruz de Ferro - fundida por Frederico Guilherme de Varnhagen, em 1 de Novembro de 1818, para comprovar o êxito da manipulação do ferro (Foto: Dalmir Ribeiro Lima)

 

Monumento a Varnhagen - construído em homenagem a Francisco Adolfo de Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro nascido em Ipanema, considerado um dos maiores historiadores brasileiros.(Foto: Dalmir Ribeiro Lima) 

 

No retorno da Trilha da Pedra Santa, o caminho percorrido revelava as casas coloniais nas quais moravam os antigos trabalhadores da fábrica, e que hoje abrigam apenas alguns moradores e funcionários da Flona de Ipanema. No total 12 famílias ainda permanecem morando na área, tal como explicou Rafael, que também nasceu ali e trabalha há 18 anos na Flona.  As raízes de sua família foram plantadas na região desde a vinda do seu bisavô para a antiga Fazenda Ipanema.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Casas dos colonos na Fazenda Ipanema e uma maritaca que acompanhou a conversa do grupo durante o almoço (Foto: Dalmir Ribeiro Lima)

 

Após um belo almoço o descanso foi acompanhado pelo som das maritacas que bagunçavam nas árvores. O passeio continuou pelo Sítio Histórico da Floresta Nacional de Ipanema que reúne construções de diversos períodos da história da siderurgia brasileira, tais como os fornos de Hedberg que datam de 1811 e os fornos de carvão, tipo "colméia", do engenheiro Elias Marcondes Homem de Mello em 1913.

 

Construções remanescentes da Real Fábrica de Ferro de Ipanema. Nas imagens estão os galpões e os alto-fornos construídos por Varnhager e pelo Coronel Mursa em períodos diferentes da história, além do portão homenageando a maioridade de D. Pedro II. (Fotos: Dalmir Ribeiro Lima)

 

O passeio foi uma verdadeira aula de história, que abordou desde a fundação da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema em 1810 passando pela criação da Floresta Nacional de Ipanema em 20 de maio de 1992, no contexto da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento que se realizava naquele ano, até os dias atuais.

“Vinte e cinco anos de Flona são 25 anos de muita história, de preservação e conservação da biodiversidade!” – expressou Rafael Gonçalves com orgulho sobre o aniversário de criação da Floresta Nacional de Ipanema

Quando o grupo de viajantes do Sesc já se despedia com aquele sorriso que superava o cansaço, o sol que brilhou forte durante todo o passeio já desenhava a sua curva para trás do Morro do Araçoiaba, que na escrita indígena, Ybiraçoiaba, significa justamente “esconderijo do sol”. O ruído constante da pequena cachoeira que se formava da represa feita com as águas do rio Ipanema (primeira construída no Brasil) foi o último som ouvido antes do motor do ônibus dar partida para a estrada. O passeio durou apenas um dia, mas nele se pode viajar por dois séculos da história brasileira e ainda se encantar com a beleza de uma das mais importantes áreas de preservação e conservação da Mata Atlântica no país. 

 

Cachoeira que se forma na saída da represa feita com as águas do rio Ipanema, primeira obra de represamento construída no Brasil para utilização nos processos de fundição do ferro. Por estas águas ainda corre a memória do local. (Foto: Dalmir Ribeiro Lima)

 

Assista no vídeo a seguir um pouco mais das experiências vivenciadas no passeio para a Floresta Nacional de Ipanema, em Iperó - SP.

 

Este registro foi produzido durante o roteiro realizado pelo Sesc Carmo, mas o passeio acontece novamente, desta vez pelo Sesc Itaquera. Saiba mais:

o que: Passeio - Floresta Nacional de Ipanema
quando e onde:

25/03 - Saída às 7h do Sesc itaquera

Sesc Itaquera
Avenida Fernando Espírito Santo Alves de Mattos, 1000 | CEP: 08265-045 
TEL.: (11)2523-9200

inscrições:

Informações e inscrições na Central de Atendimento a partir de 18/01, às 15h. 

  Fique atento na programação do Turismo Social para embarcar na próxima aventura!

 

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Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema

Alto-Fornos construídos por Varnhagen na Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema em  1818. (Foto: Dalmir Ribeiro Lima)

A Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema foi um verdadeiro “eldorado”, ainda que tenha enfrentado problemas em algumas das suas administrações. O maior esforço a fim de se implantar uma siderúrgica em Ipanema foi após a vinda da Família Real para o Brasil. Ainda em 1808, o Conde de Linhares, ministro de Dom João VI, com o objetivo de libertar o país da dependência perante a indústria estrangeira, mandou fundar duas fábricas de ferro: uma em Minas Gerais e outra em Ipanema.

Frederico Guilherme de Varnhagen (que servia o exército português) foi trazido da Europa e o conselheiro Martim Francisco ficou encarregado de demarcar a área florestal para os trabalhos de mineração e fazer outros estudos relacionados à instalação e operação da fábrica de ferro. Em 1810 nascia a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, atestado do pioneirismo da siderurgia no Brasil e na América Latina.

Foi Varnhagen quem construiu os alto-fornos, através dos quais fundiu três cruzes, em 1 de Novembro de 1818, para comprovar o êxito da manipulação do ferro. Uma está na sede da Fazenda Ipanema, outra no morro de Ipanema (ou Serra Araçoiaba) e a última, no Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, em Sorocaba. O historiador Francisco Adolfo de Varnhagen (Visconde de Porto Seguro), considerado um dos maiores historiadores brasileiros, era filho de Frederico Guilherme de Varnhagen, nasceu em Ipanema e passou à posteridade como o “Pai da História do Brasil”.

Depois desta fase áurea, a Fábrica passou por períodos de decadência e abandono, com várias tentativas fracassadas de retomada e problemas de administração, até que veio a guerra do Paraguai, em 1865 com a necessidade de pôr o maquinário para funcionar com urgência para produzir material bélico. Essa foi a época em que Ipanema mais produziu ferro. O capitão de engenheiros Joaquim de Sousa Mursa, posteriormente promovido a coronel, foi nomeado para o cargo de diretor em 6 de setembro de 1865. Aos poucos, ele conseguiu recompor o estabelecimento, onde permaneceu até 1890. Para ilustrar o prestígio que a fábrica conseguiu durante a administração de Mursa, basta citar que a primeira locomotiva da Estrada de Ferro Sorocabana, quando inaugurada em 10 de julho de 1875, recebeu o nome de “Ipanema”.

Em 1895, já sob o governo republicano, as atividades siderúrgicas foram encerradas, a propriedade foi transferida para o Ministério da Guerra e posteriormente para o Ministério da Agricultura. Da fase siderúrgica de Ipanema, restam hoje alguns monumentos restaurados, como a Fábrica de Armas Brancas, o casarão da sede, o portão homenageando a maioridade Dom Pedro II, as primeiras cruzes fundidas em 1818 e o monumento a Varnhagen. Em contrapartida, há ainda prédios que precisam ser restaurados. Atualmente, os 5.069,73 hectares da Fazenda Ipanema são administrados pelo Instituto Chico Mendes, órgão do Ministério do Meio Ambiente.

Fontes:

http://www.ipero.sp.gov.br/floresta-nacional-de-ipanema/
http://www.icmbio.gov.br/flonaipanema/