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Habitar Palavras: Pablo Lahr

Macro Pandemia  

Mas então, como você tem andado?
Do trabalho pra casa, da casa a calçada, vendo quem passa do outro lado
Olho um pouco embaçado, pois só vê da sacada do edifício 
Já não entendo nada, viver nunca foi fácil, hoje está mais difícil...

Todos necessitamos de um caminho, no amanhã vejo o brilho, 
Trem sobre o trilho, mãe com seu filho... todos precisam de auxílio, mas não leve a mal, saibam que isso é emergencial

Vejo o peso aumentando sobre os escombros, qual peso? O que eu vejo na balança ou o que carrego nos ombros
Talvez a mente de todos esteja cheia de preocupações, tipo UBS cheia de gente preocupadas com suas ações  

Essas vindas de um pensamento falho, pois furar a quarentena resulta em pena para alguém de cabelo grisalho  

Atitudes prejudiciais como excesso de corticoide, Atos contemporâneos ainda desleais entre Agatha, Mariele e George Floyd

Vendo o Timão na TV
Sofá vira Arquibancada
Estudando no EAD
Alí o PC, Aqui a bancada
Furar o isolamento pra ir beber?

Aí mancada
O que Isso se tornou pra quem crê?
Aqui Piada  

A ansiedade é uma vida cara
Que machuca mas não para
Se esbarra, na própria marra, e vê que eu não sou mais um cara, na madruga ela faz farra, sarra e se depara, que o amanhã é o Merthiolate na ferida, logo sara, será?

Cadê os menor que ganhava a vida no semáforo
Vendiam bala, mas se quer sabem Bhaskara
Que não tenham parado de vender bala, pra segurar bala com a camisa na cara, participando de uma boca que não usa máscara  

Pois fazer verso no fim é a parte mais fácil, sinto que estamos no fim, ao mesmo tempo no prefácio, sem nada 
Alguns veem a hora pelo Cássio, 
Enquanto vários morrem, nasce um filho da pátria amada

 

Gatos pingados de versos cheios

Aumento do fluxo de delivery
Baixa no fluxo de suor 
Aumento no fluxo de streaming
Talvez isso te deixe menos só  

Falta de presença, assina uma sentença que muitas vezes é apenas um teste
Ao me movimentar não peço mais licença, só me sinto rodeado em um podcast

O sol predomina em alguns dias, mas sinto que essa chuva não vai cair
A Nuvem que ela trás é diferente e trás registros de momentos que eu já vivi

E a vida é realmente corda bamba né? Passamos a dar valor a coisas que mal sabíamos o nome... num domingo à tarde, o tédio me arde só ouço voz da assistente virtual do smartphone

Fazer arte faz parte, está por toda parte, de Plutão a Marte soando como clave 
Incrível como isso evoluiu com tempo, seu gerenciamento, está no Louvre, nos muros e cartilhas caminho suave  

Estamos nos consumindo isso não é comum, momentos difíceis, sem contato a dias, rever sobre o passado pois tivemos um, que reflete o presente, por um erro de um falso Messias

Mentes se encontram no seu Apogeu, viver com pés no chão, mas a voar no céu
Saber que um fato relata sobre um feito seu, tipo foto na feira comendo pastel
Mas o mais brabo da minha rua é o seu Dirceu, o carrinheiro que vive de fazer frete para pagar as contas, e nunca se esquece do seu álcool em gel  

Quarentena dia? Não sei...
Pesquisar nos navegadores sobre algo nonsense, viver não é só APP, A Propósito pense

A fim de que isso ocorreu conosco, talvez valorizar o sentimento empírico, inspirar pessoas a compor esboços, talvez elaborar este seu lado lírico  

Após a vacina todo mundo se abraça, comemorando a vida e os super-heróis, profissionais da saúde, que não param em casa, uma salva de palmas para os motoboys 

 

Aroma de distância

Comédias românticas transmitem saudade
Falar de semântica é ter o que aprender 
Serotonina é a substância da felicidade
Como é que eu mato essa vontade que eu tô de você ?

Te falar de um som do Caetano que eu ouvi, que o mundo é grande e eu tenho muito a aprender, ou de um desenho novo que assisti, planejar o nosso futuro, os dog e o Apê

Só ouço sua voz no fone de ouvido, te vejo pelas suas fotos com cara de sono, quando cantávamos juntos nosso som era estéreo, hoje eu gravo um áudio cantando e tu me ouve mono  

Conheci um quadro novo do Monet
Fiz aquele comentário de fina elegância
Você sorriu com os olhos que deu até pra ver, tô praticando o EAD 
Eu te Adoro a Distância

Meu Ukulele já tá quase sem voz 
As cordas faziam barulho pra te ouvi dizer, hoje eu toco sozinho pela casa toda até o Tim Maia sabe que “Eu gosto tanto de Você “

Eu estou indo para o trabalho resolver as coisas, lavei o rosto e me encarei no espelho
Essa falta que eu tô sentindo de você é forte, o árbitro ligou e deu cartão vermelho

Antes de desligar se lembra de uma coisa, que logo isso tudo acaba, e entra pro passado, já falei com o Ancine e vou fazer um filme “ Como viver a pandemia sem você do lado”
 

Sobre o autor

Pablo Lahr Fernandes é poeta e MC. Assina seus versos como "Lahr", escrevendo principalmente sobre a cultura do Hip Hop, tendo começado a escrever em batalhas de rimas em sua cidade, Birigui/SP.
 

Habitar Palavras - Biblioteca Sesc Birigui

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