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Exposição Caipirismo - José Antônio da Silva e Jocelino Soares no Sesc Bom Retiro

Inicialmente agendada para março de 2020, foi adiada devido à pandemia e será apresentada agora ao público em formato virtual. Os trabalhos representam universos culturais e sociais do interior paulista, através de um panorama vívido de paisagens, retratos, temas religiosos e alegóricos.

 

A partir do dia 3 de outubro, o Sesc Bom Retiro apresenta a mostra Caipirismo – José Antônio da Silva e Jocelino Soares, que reúne obras dos dois artistas plásticos brasileiros que dividiram, por um tempo considerável, o mesmo espaço geográfico: a cidade de São José do Rio Preto. Esta representa o retrato de um centro urbano que floresceu em uma região que ficou conhecida como “sertão”. Este se refere ao espaço onde surgiria o sertanejo e se manifestaria o caipirismo, conjunto de elementos culturais e sociais característicos da região, que também foi origem de saberes e hábitos de vida que fazem parte do universo dos dois artistas presentes na exposição.

O termo caipirismo faz referência a uma maneira de viver que foi aos poucos se agregando às transformações trazidas pelo crescimento e avanço das cidades, levando ao sertão novos conhecimentos, e costumes. Todavia, as transformações tecnológicas e culturais não apagaram a memória afetiva, familiar e artística cultivada pela tradição destas regiões. Com o êxodo rural, milhares de famílias migraram do campo para as cidades levando consigo lembranças, danças, poemas, culinária e histórias, que são transmitidas de geração em geração.

Neste contexto, serão apresentadas 25 obras de José Antônio da Silva (1909-1996), produzidas de 1954 até 1986 e 22 trabalhos de Jocelino Soares, de 2018 a 2020. Estes conjuntos estabelecem um diálogo a partir de temas como o mundo rural, desmatamentos, chuvas, florais, colheitas, o mundo das águas, árvores de ypê, e aspectos do trabalho no campo. São abordados também os encontros com as tradições, festas, religiosidades, e o sentimento de saudade da vida no campo. De acordo com Odécio Visintin Rossafa Garcia, um dos curadores, a mostra foi pensada para sensibilizar o público e incentivá-lo a conhecer esta ideia de caipirismo, que está presente nestas obras, “pintado em suas belas cores, carregadas de saudades e lembranças da terra que, cada vez mais, se entranha no imaginário das pessoas por meio das danças e cantos em versos e prosas.”

José Antônio da Silva nasceu e cresceu no meio agropastoril e é considerado um pintor de arte naïf (artistas autodidatas que desenvolvem uma linguagem pessoal e original de expressão) de grande relevância no Brasil. Suas obras, conforme define Romildo Sant’Anna, também curador da exposição, são “esperançosas, idílicas, desmesuradas, prenhes de doidices, impulsos quiméricos e persecutórios, contemplativos e boquiabertos, um tanto delas lancinantes; outro tanto, de fulgurantes impulsos inventivos nascidos de espírito interrogante, talentoso e arrebatador”. Também estão presentes obras políticas de autoria de Silva, onde expressa aversão contra os saberes acadêmicos no mundo da arte, além de destacar as diferenças entre o campo e a modernidade urbana, a partir do olhar caipira.

As telas de Jocelino Soares, por sua vez, retratam o campo, as roças, as festas e colheitas das famílias caipiras, além de seu cotidiano de trabalho árduo. Vale ressaltar a relação estabelecida entre as obras e a vivência e origem do próprio artista no trabalho rural, além da presença, sempre renovada, da memória e admiração pela cultura popular. O historiador Lelé Arantes descreve Jocelino como “um artista do povo simples da roça; é um mago que empresta vida aos anônimos personagens das histórias dos homens e das mulheres do campo”.

Além das pinturas produzidas por José Antônio da Silva e Jocelino Soares, estão presentes também livros de autoria dos artistas. Estes romances, ambientados no mundo rural, resgatam características do universo caipira do interior do estado de São Paulo.

Tour virtual

Nesta primeira fase, a exposição está disponível apenas em ambiente virtual, em formato de mapa navegável. As visitas presenciais estão condicionadas à retomada gradual de atividades conforme estabelecido pelo Plano São Paulo do Governo do Estado e em conformidade com as regulações municipais, e serão amplamente divulgadas quando de seu início. Ações de programação integrada também estão previstas para o meio digital, entre ações formativas, conteúdos em música, cinema e literatura, entrevistas com o artista e curadores, a serem divulgadas pelas redes sociais do Sesc Bom Retiro.

Informações sobre os artistas:

José Antônio da Silva (Sales de Oliveira, 1909 - São Paulo, 1996). Pintor, desenhista, escritor, escultor, repentista. Trabalhador rural, de pouca formação escolar, autodidata. Em 1931, muda-se para São José do Rio Preto, São Paulo. Participa da exposição de inauguração da Casa de Cultura da cidade, em 1946, quando suas pinturas chamam atenção dos críticos Lourival Gomes Machado (1917-1967), Paulo Mendes de Almeida (1905-1986) e do filósofo João Cruz e Costa. Dois anos depois, realiza mostra individual na Galeria Domus, em São Paulo. Nessa ocasião Pietro Maria Bardi, então diretor do MASP, adquire seus quadros e deposita parte deles no acervo do museu. O MAM/SP também edita seu primeiro livro, Romance de Minha Vida, em 1949. Na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, recebe prêmio aquisição do MuseumofModernArt (MoMA) de Nova York. Em 1966, Silva cria o Museu Municipal de Arte Contemporânea de São José do Rio Preto e grava dois LPs, ambos chamados Registro do Folclore Mais Autêntico do Brasil, com composições de sua autoria. No mesmo ano, ganha Sala Especial na 33ª Bienal de Veneza. Publica ainda os livros Maria Clara, 1970, com prefácio do crítico literário Antônio Candido (1918); Alice, 1972; Sou Pintor, Sou Poeta, 1982; e Fazenda da Boa Esperança, 1987. Transfere-se de São José do Rio Preto para São Paulo, em 1973. Em 1980, é fundado o Museu de Arte Primitivista José Antônio da Silva (MAP), em São José do Rio Preto, com obras do artista e peças do antigo Museu Municipal de Arte Contemporânea.

Jocelino Soares (Neves Paulista, 1955). Participou em 1974 do 15º Salão de Arte Juvenil na Casa de Cultura São José do Rio Preto,São Paulo, da qual viria a ser diretor, em 2001. É artista plástico pós-graduado em Arte Educação, tendo participado de diversas mostras coletivas e individuais e salões de arte nas cidades de São José do Rio Preto, Limeira, Presidente Prudente, Barretos, Marília, São Carlos, Araçatuba, Penápolis, entre outras. Em 2003 é criado o Instituto Cultural “Jocelino Soares”, em São José do Rio Preto e lançado o livro “O criador de sacis”, seguido de uma série de publicações sobre sua trajetória artística. Suas publicações “Brincando com arte” e “Contando a arte de Jocelino Soares” são adotadas, em 2005, por 86 escolas da rede municipal de ensino de São  José do Rio Preto. Em 2011, quando já atua como curador de museus no município e detém cadeira da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura, publica o livro “Sentimento Caipira”. O livro é uma coletânea de artigos publicados no Jornal Diário da Região, contando causos e curiosidades da vida do homem da roça.

CATÁLOGO VIRTUAL

 

 

Caipirismo – José Antônio da Silva e Jocelino Soares
Outubro de 2020 a janeiro de 2021
Visitação virtual a partir de 3/10 pelo link bit.ly/tourcaipirismo
Classificação: Livre. 
Visitas presencias: De 15/10/2020 a 31/01/2021. Terça a sexta, das 15h às 21h. Sábado, das 10h às 14h. Ingressos gratuitos clique aqui.
Grátis

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