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Mostra de Cinema São Paulo não é um Filme

O centro de São Paulo desperta diferentes sentimentos entre seus transeuntes. Desde os primeiros anos da chegada do cinematógrafo ao Brasil, São Paulo passa a ser cenário das filmagens dos cineastas.

Do documentário amador, que mostrava a opulência da elite que encomendava os filmes aos cineastas imigrantes, ao cinema experimental contemporâneo que tem a cidade como pano de fundo ou mesmo como protagonista, a história do cinema ajuda a construir uma ideia de cidade.

O centro começa a ser mostrado como moderno, símbolo do desenvolvimento da cidade e, com o passar dos anos, a solidão, desigualdade e a diversidade começam a predominar nos filmes sobre a cidade e seu centro. A urbanidade deixa de ser positiva e passa a ser a opressora de seus personagens.

O filme “São Paulo Sociedade Anônima” (1965) é um marco nessa visão da opressão social da metrópole em construção. O Cinema Novo e a Boca do Lixo inauguram uma nova estética da decadência da cidade e a consequente angustia de seus personagens, o submundo do centro ganha destaque nas narrativas.

O cinema de cunho social dos anos 1970 começa a abordar os migrantes e as classes sociais menos favorecidas e o sofrimentos que estes personagens passavam na metrópole.
Já nos anos 1980, a decadente vida noturna começa a chamar atenção dos realizadores. Todos esses filmes sempre trataram da perspectiva do indivíduo, servida como um modelo para a classe que representava.
Com os anos 1990, marcados pela crise e pela retomada do cinema brasileiro, a vida cotidiana na cidade vem à tona e os realizadores começam a pensar nos problemas das comunidades no espaço urbano. É nesse contexto que Jean-Claude Bernardet faz seu ensaio “São Paulo, Sinfonia e Cacofonia” (1994), com colagens de imagens de mais de 100 filmes que tratam da cidade de São Paulo em longo da história do cinema brasileiro.

Tendo esse filme como ponto de partida, o Sesc 24 de Maio traz a contemporaneidade e a urgência de pensar o social na cidade. A diversidade e a ocupação do espaço público e suas disputas tomam conta do cinema brasileiro contemporâneo; não há somente histórias com personagens individuais com crises existenciais, mas agora temos as lutas coletivas de classe, gênero, raça, imigração e refúgio e questões sociais tomando conta da narrativa. O cinema está refletindo e denunciando essas relações. Nesse sentido, pode-se notar na história do cinema sobre São Paulo, que tem o Centro da cidade como cenário, duas vertentes: a angústia e o mal-estar dos indivíduos, em meio ao caos da metrópole, e os filmes mais sociais que mostram conflitos e disputas por territórios entre os excluídos e o processo de gentrificação da região. Entre os filmes que focam nos indivíduos temos: “São Paulo Sociedade Anônima” (1965), “O Bandido da Luz Vermelha” (1968), “O homem que virou suco” (1981), “A Dama do Cine Shanghai” (1987), “Luz nas Trevas, A Volta do Bandido da Luz Vermelha” (2010) e em “Fome” (2015), mesmo apresentando indivíduos que representam tipos sociais, ainda assim são filmes que preferem mostrar o sofrimento na perspectiva individual, da micro história, por assim dizer. Já os filmes que se centram nos conflitos sociais que as comunidades enfrentam no centro da cidade, temos: “Era o Hotel Cambridge” (2016), “Limpam com fogo” (2016), “À margem do concreto” (2005), “À margem do Lixo” (2011), “Ocupação Hotel Cambridge” (2016), “Galeria Presidente” (2016) e “As cores das ruas” (2016).

A cidade não é a mesma para cada pessoa. A mostra de cinema “São Paulo não é um filme”,  no Sesc 24 de maio, começa em outubro e vai até dezembro, com exibições, oficinas e bate-papos. Para conferir a programação deste mês, clique aqui.

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Bom para acompanhar você quando estiver correndo, com saudade do Angeli e do Laerte dos anos 80 e outras cositas más. Chega mais!