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A cidade e suas árvores

O dia a dia apressado de quem vive nas grandes cidades acaba dificultando a apreciação da paisagem do local onde vivemos. Alguns movimentos que trazem a pauta da desaceleração do cotidiano de quem vive nas cidades colocam em questão como nos reconectarmos com o momento presente, repensando a visão da cidade como espaço funcional, para colocá-la como um local de fruição, de encontros e de valorização das paisagens urbanas.

Uma das premissas para isso é valorizar na cidade a escala do “local”, ou seja, o que está próximo, o que proporciona contato entre as pessoas e destas com o ambiente desta cidade. A rua, assim, é a que representa melhor esta escala de relações. Não é à toa que nos últimos tempos a rua está voltando a ser ocupada como espaço para lazer e convívio.

Nesse contexto, o ato de caminhar pelas ruas e de contemplar a paisagem pode nos abrir outras percepções sobre o local em que vivemos.

Quais são os cheiros, as cores e os sons das ruas de nosso bairro?
Quais os elementos que formam a paisagem do local?
Como essa paisagem foi construída no decorrer da história desse bairro?
Como se dá a relação entre arquitetura e natureza nas ruas?

Ao estarmos abertos a estes novos estímulos sensoriais e atentos à vida ao nível da rua, as árvores, que antes numa visão apressada apareciam somente como mais um elemento da paisagem ao mesmo tempo homogênea e caótica da cidade, agora têm a potencialidade de fazer aparecer uma série de detalhes que enriquecem esse tecido urbano. Por serem seres vivos com a capacidade de viver décadas e, às vezes, cruzar séculos, elas guardam memórias das pessoas, paisagens e locais que já existiram.

Observar atentamente as árvores do local onde estamos nos faz ver que cada uma delas é um indivíduo único. Podemos ver as resistentes, que crescem e se desenvolvem no menor espaço possível ou apesar do espaço não propício; as que são vistas de longe pelo seu porte; as que significam uma rua através de seu perfume; ou aquelas que são espaço de pura contemplação por meio das cores de suas flores. Além disso, elas nos permitem abrir os ouvidos para o canto dos pássaros e notar que existe uma relação intrínseca entre a presença das árvores com determinadas aves. Assim, este caminhar nos auxilia no desvelar dessa nova cidade que aparece ao nível da rua.

No sentido de apurar o olhar sobre as áreas verdes e a cidade, o Sesc Itaquera realizou um levantamento no decorrer de vários meses sobre as árvores que vivem na unidade, analisando também como essas se relacionam com as aves que visitam o local durante o ano. Foram levantadas diversas informações sobre cada espécie.

Tal ação culminou na criação do Passeio Verde, um guia para caminhada com foco na observação destas árvores e aves do local, buscando, dessa forma, ampliar a percepção ambiental do visitante. A estreia do guia será no dia 4/11, quando acontece uma primeira caminhada em grupo com mediação dos criadores do material, o Instituto Árvores Vivas.

Percorrendo as alamedas da unidade, o público poderá conhecer detalhes de árvores e aves do espaço: de características biológicas às relações com a história e identidade cultural local. E, a partir destas experiências, fica o convite para que todos possam caminhar e descobrir as particularidades que se descortinam nas ruas do local onde vive.

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Guilhermo Panebianco
Cientista Social, educador ambiental e supervisor do núcleo de Educação para Sustentabilidade do Sesc Itaquera.