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Mulheres do teatro, muitas perguntas e a rede como possibilidade

Ilustração: Alejandra Hernandez
Ilustração: Alejandra Hernandez

Gênero tem sido assunto da pauta social nos últimos tempos. A programação cultural de São Paulo tem sido espelho dessas pautas e tem apontado discussões, inquietações e proposto novos olhares.

O campo da cultura e das artes é estopim de muitos debates e, é de consenso, que seja um lugar de livre expressão para todos os fazedores de cultura, que são parte deste espectro de profissionais que busca estar no mundo a partir de um olhar amplo.

No teatro não seria diferente, lugar de pura expressão do corpo, de narrativas, de poéticas...

Quando se começa a questionar a presença de mulheres na área teatral, ouve-se rapidamente argumentos ditos “concretos” que refutam a ideia de que exista qualquer invisibilização.
Estes argumentos podem vir de diversas vozes e partem da premissa que: “As mulheres são a maioria nos palcos” ou "as mulheres estão presentes nas áreas de produção e comunicação dos espetáculos” e ainda "as mulheres são 'assunto' largamente abordado nas peças pelos dramaturgos”, enfim, por aí vai... Eles podem ficar horas nos explicando que estamos, sim, presentes e visíveis, que temos voz e que afinal "No teatro não há machismos, há expressão livre de qualquer ser humano, há escolhas artísticas."

Será?

Esta é a pergunta que temos nos feito. Esta e várias outras.

Porque mulheres se juntariam para falar somente entre elas?
Haveria, quem sabe, necessidade de um espaço “seguro”, sem a presença dos homens, para discutir pautas ligadas a processos criativos, mas também: espaço no mercado de trabalho, assédio, exclusão de profissões mais técnicas, historicamente masculinas - como sonoplastia, cenografia, iluminação? Ou ainda, exclusão de espaços decisórios de narrativa  como a dramaturgia e a direção?
Estar numa rede (virtual ou real) exclusiva de mulheres, seria isso segregação?

A partir destas questões surgiu o Mulheres do Teatro Brasil, criado pelas gestoras culturais Carol Marinho Martin e Luane Araujo em maio de 2017 nas redes sociais, inspirado no Mulheres do Audiovisual Brasi, criado pela produtora cultural Malu Andrade em 2016.
Voltado somente para mulheres (trans/cis ou homens trans), o grupo busca ser um espaço de entreajuda, troca de informação, de ofertas de trabalho para mulheres que atuam na área teatral.

Embora exista uma percepção geral de disparidade de salários, prêmios, comissões, editais - o que de certa forma espelharia disparidades de outros setores profissionais - existe carência de dados concretos que possam pautar decisões políticas, e que possam ser argumentos que materializem esta 'sensação' de sermos colocadas de lado na hora de receber os louros, os prêmios e o reconhecimento.

O que fazer concretamente para mudar esta realidade? Como fortalecer redes de trabalho entre mulheres que atuam na área teatral?

Uma das propostas são encontros, como o “Mulheres e a linguagem teatral: articulações em redes” que acontece no dia 21 de outubro de 2017, das 14h às 17h, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo.

Na ocasião, serão apresentados os projetos Mulheres do Teatro Brasil e The Magdalena Project, rede dinâmica e intercultural de mulheres no teatro e na performance.
Nesta conversa falaremos da rede, vamos discutir algumas propostas que temos gestado e traremos também alguns dados de um interessante estudo que é feito anualmente na França.

Sediado no ministério da cultura francês, o Observatório da igualdade entre mulheres e homens na cultura e comunicação produz anualmente um relatório sobre a evolução da paridade e das políticas, do engajamento das instituições, das propostas jurídicas e examina nas diferentes áreas da cultura as mudanças de ano para ano.
Notadamente na área teatral o relatório aponta, por exemplo, que em áreas técnicas mulheres ganham até 21% a menos que homens.

Embora esta específica constatação do relatório francês possa soar familiar para mulheres profissionais da área teatral, o assunto ainda é tabu por aqui e gera muita discussão.
No Brasil os dados não são ainda tão específicos e não há uma observação anual, série histórica; ficamos, portanto, à deriva em especulações.

Somente a troca, virtual ou real, é o que nos possibilita pensar conjuntamente em evoluções. Que perspectivas e formas de combater estas disparidades?

Com todas estas questões levantadas nos confrontaremos ainda por muito tempo, mas a construção coletiva de redes de proteção e comunicação pode nos dar pistas do caminho a seguir.

Venham homens e mulheres conversar com a gente sobre isso.

Luane Araujo e Carol Marinho Martin
Gestoras culturais e articuladoras do movimento Mulheres do Teatro Brasil

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