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O vazio de Manoel de Barros e Samuel Beckett
Entre agosto e outubro, o Sesc Belenzinho recebe instalação "Rumor" e temporada de "Nada, uma peça para Manoel de Barros", ambos trabalhos dos irmãos Guimarães
De 22 de agosto a 6 de outubro, a Sala de Espetáculos I do Sesc Belenzinho se transforma em palco para a instalação Rumor, de Adriano Guimarães, Fernando Guimarães e Ismael Monticelli - curadoria Marília Panitz e voz de Luiz Melo. De 5 de setembro a 6 de outubro, o espaço de Rumor se transforma em cenário para a peça Nada, uma peça para Manoel de Barros, com direção e concepção de Adriano e Fernando Guimarães em parceria com Miwa Yanagizawa. As obras estabelecem diálogos com Samuel Beckett e Manoel de Barros
A instalação é realizada no mesmo espaço do espetáculo, fora dos horários de apresentação e sem objetos de cena como mesas e cadeiras. Uma quase penumbra, que apenas oscila, conforme uma série de lâmpadas incandescentes de baixa voltagem que aumentam e diminuem a intensidade, recebe o público.
O som é composto por fragmentos gravados, pelo ator Luís Melo, do monólogo de O Inominável, romance do irlandês Samuel Beckett. Um diálogo de suspensão é proposto a partir das obras de Beckett e Manoel de Barros, em meio a mais de quatro mil peças de vidro e uma cadeira com um dispositivo sonoro acoplado.O cenário parece um quarto de uma antiga casa em um bairro parado no início do século vinte. Os vidros são reflexivos, mas não espelhos. Para essa ocupação insidiosa, olha o vazio da cadeira. Essa é a provocação desse espaço-obra. Tudo o que está exposto na sala silenciosa ecoa a potência do som: a cadeira vazia, o piano mudo, a profusão de vidros... Ao sermos acolhidos pelo trabalho, apresenta-se um vir a ser nunca alcançado: o devir rumor. O dramaturgo toma a palavra de suas personagens. No lugar delas, coloca o ruído, o silêncio, a estupefação. O vazio.
Os irmãos Guimarães, naturais de Goiás, há muito tempo são estudiosos da obra de Samuel Beckett (1906-1989) e reconhecidos pelo talento com que mesclam teatro e artes visuais. Depois da temporada de Resta Pouco a Dizer, a última parte da tetralogia de peças curtas, performances e instalações realizadas a partir da obra do dramaturgo, os Guimarães retornam ao palco com o drama Nada.
Inspirada na obra de Manoel de Barros, autor mato-grossense com 95 anos, o poeta das coisas desimportantes e que tem no esvaziamento e na "economia simbólica" da linguagem algo em comum com o irlandês Samuel Beckett. A peça é construída com fragmentos de publicações como Exercícios de Ser Criança, Poemas Rupestres e Livro de Pré-Coisas. Versos e causos transformados em falas de sete personagens.
Uma noite sem estrelas no meio do nada. Um avô, um pai, uma mãe, uma sobrinha órfã, uma noiva, uma tia e “alguém que fica pelos cantos". Pregos tortos, um pedaço de mosca, um abridor de amanhecer, um lápis sem ponta esquecidos no chão. À espreita de tudo e de todos, um vasto abandono de vidros. A ação se passa, então, em tempo real, em um dia especial: o aniversário de 80 anos do avô (Lafayette Galvão). Lourival, o pai (Otto JR); Maria Olga, a mãe (Miwa Yanagizawa); Adaíla, a tia (Liliane Rovaris); Tereza, a sobrinha (Camila Márdila); e Cícero (Rodrigo Lélis), se entretém com os preparativos, enquanto os convidados (o público, limitado a 40 espectadores) vão chegando para a festa e são envolvidos no conflito familiar. Em não mais que um repente, Ana, a filha (Lúcia Bronstein), retorna a casa depois de sete anos de ausência, envergando um despropositado (?) vestido de noiva.
Para acomodar o público, 40 assentos em madeira, dos mais variados estilos e dimensões, se distribuem pelo espaço cênico com mais de quatro mil peças de vidro, criado pelos irmãos Guimarães e Ismael Monticelli. E, por alguns instantes, deverá ser difícil para quem chega distinguir elenco de plateia.
A instalação está aberta a visitação a partir do dia 22/agosto e a peça começa temporada no dia 05/setembro. Todos estão convidados para descobrir mais da proposta de linguagem que mistura as "economias" de Beckett e Manoel de Barros para investigar o vazio.
o que: | Rumor |
quando: | 22/agosto a 6/outubro |
onde: |
o que: | Nada, uma peça para Manoel de Barros |
quando: |
5/setembro a 6/outubro Qui. e Sex., 21h30 Sáb. e Dom., 18h30 |
onde: |