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Os males contemporâneos de "Insone"

Cadeiras no entorno do palco aproximam e submergem o público na performance<br>Foto: Divulgação
Cadeiras no entorno do palco aproximam e submergem o público na performance
Foto: Divulgação

O espetáculo "Insone", parte do Palco Giratório, aportou no Sesc Belenzinho e trouxe um espaço cênico distinto para investigar o constante movimento do homem contemporâneo. A última apresentação é dia 9/agosto

O sono é um lugar desconhecido e que transforma todos em iguais: não se distingue novo, velho, homem ou mulher no estado adormecido, aquele em que colocamos a existência terrena em stand by para descansar o corpo e, possivelmente, deixar o inconsciente trabalhar.

Não raras as vezes, o estado da cabeça repousada no travesseiro não condiz com descanso: pensa-se no próximo dia, nas coisas que você não fez, no cotidiano que ficou atribulado até o momemnto derradeiro da consciência alerta. Males contemporâneos, com certeza.

No espetáculo "Insone", do Grupo Z de Teatro, de Vitória (ES), todas as fases entre o cansaço, o desejo do repouso, o sonho/pesadelo do sono inquieto e a necessidade de manter-se ligado o tempo todo estão esquadrinhadas no espaço cênico óbvio, porém instigante: uma cama serve de palco para o grupo, com proximidade tamanha com o público - as cadeiras dispostas no entorno da cama aproximam e submergem o público na performance.

Ao final do espetáculo, um bate-papo com o grupo desvela algumas sensações e sentimentos do público, razoavelmente diferentes do entendimento suposto a partir da leitura do programa do espetáculo. A troca é permanente e é interessante aplicar diferentes nuances num espetáculo "aberto", não-linear e diferente da dramaturgia a que estamos acostumados.

O grupo enfatiza que a pesquisa se dá no âmbito da "dança-teatro", na coreografia construída a partir da intenção do movimento, além de pontuar que são o primeiro grupo do Espírito Santo a participar do Palco Giratório. Destacam, ainda, o fato de que a capital, Vitória, possui produção, mas carece de difusão.

Engana-se quem pensa que os males ali retratados são essencialmente urbanos: a diretora Carla van den Berger conta que, numa das exibições da peça em um rincão baiano (segundo ela, a segunda apresentação de dramaturgia na história daquela cidade), as pessoas se identificaram e se perceberam no espetáculo, nas angústias expostas e falaram sobre isso ao final da exibição.