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Rock carioca no arquivo musical do Belenzinho
Em agosto, o projeto "Arquivo" traz "Uns e Outros" (dia 17) e "Picassos Falsos" (dia 31) ao Sesc Belenzinho. Sandro Saraiva, programador de música do Belenzinho, conversou com a EOnline
Dê o play na música acima para entrar no clima da entrevista com Sandro Saraiva, programador de música do Sesc Belenzinho. Entenda, não estamos falando aqui de nostalgia, embora o nome "Arquivo" possa sugerir esta impressão. Nada disso! Nas palavras de Saraiva, "qual o tempo de apreciação de uma obra? Quanto tempo uma banda ou um disco devem durar? É natural que haja interesse por parte do público em assistir a artistas que têm uma trajetória longeva ou que tiveram um trabalho importante lançado há anos".
Saraiva conversou com a EOnline sobre o projeto e sobre as diferentes nuances do ato de ouvir, programar, estudar e pensar música. A seguir, os principais trechos:
EOnline: O que é o projeto "Arquivo" e qual razão você imagina para uma iniciativa dessa sempre ter público? Por que relembrar?
Sandro Saraia: O conceito de nostalgia que a pergunta sugere é equivocado. Não existe futuro sem passado, e o passado não é algo estanque, morto ou mumificado. Devolvo com as seguintes perguntas: qual o tempo de apreciação de uma obra? Quanto tempo uma banda ou um disco devem durar? Acho natural que haja interesse por parte do público em assistir a artistas que têm uma trajetória longeva ou que tiveram um trabalho importante lançado há anos.
EOnline: Para programar as atrações do "Arquivo", você parte de onde? Parece que suas referências são bem latentes olhando para o último "Arquivo", com o "Relespública" e agora, os dois próximos, "Uns e Outros" e "Picassos Falsos", no especial Rock Carioca dos Anos 80.
S.S.: Toda programação passa por pesquisa e discussão, mas naturalmente não deixa de ter um crivo pessoal também. Minhas referências são diversificadas, vão do jazz ao rock. Nos anos 80 eu estava ouvindo heavy metal e punk rock. Tinha uma camiseta velha toda rasgada do Motörhead e cabelos compridos, gastava alguns trocados com fichas em fliperamas. Mas era interessado em diversas coisas. O importante é sacar um pouco da história toda que aconteceu na música no Brasil.
EOnline - Partindo dessa última fala, você poderia esclarecer um pouco sobre o que era o som dos "Picassos Falsos" e do "Uns e Outros"? Algo como a "proposta estética" de cada uma das bandas e como elas seguravam essa bronca?S.S.: Acho que o "Picassos Falsos" descobriu um jeito de fazer rock de uma maneira muito singular, sem deixar de lado suas referências, como o samba, por exemplo. Na época a onda era parecer algo meio pós-punk, parecer britânico, usar aquele timbre de teclado característico dos anos 80, bem pasteurizado. Eles conseguiram fugir disso, não tiveram medo de se aproximar da música popular brasileira e nem de falar da cidade deles, o Rio de Janeiro.
EOnline - E o "Uns e Outros"?
S.S.: O "Uns e Outros" era uma banda que tocou mais no rádio, teve mais exposição, mas nem por isso teve de fazer tantas concessões na sua proposta, no seu som. É algo interessante dos anos 80: talvez, ser mainstream nos 80 não tivesse o peso de ocupar a mesma posição nos 90, no Brasil. Estamos falando de uma década na qual as gravadoras estavam ávidas pelo rock, no intuito de pegar o bonde daquilo que estava vendendo e, nesse momento, não havia uma preocupação tão presente pelo politicamente correto ou por algo que tenha de ser feito na canção para veiculá-la na rádio.
EOnline - Como um garoto que escutava punk rock e metal ia ter contato com "Uns e Outros" e "Picassos Falsos", nos anos 80?
S.S.: Eu sempre fui curioso. Havia uma cultura muito forte dos zines e publicações alternativas - mas aí não era só sobre música: o "Panacéia", por exemplo, era um zine que eu lia muito. O "Uns e Outros" flertou um pouco mais com um mainstream, se podemos dizer assim, então chegava pelo rádio. O "Picassos Falsos" já foi algo que chegou através de zines (pelo menos pra mim) e me instigou a ir atrás do som.
EOnline - Onde esse som estava?
S.S.: A Galeria do Rock sempre foi um lugar pra descobrir sons: a Baratos e Afins; a Woop Bop, na Barão de Itapetininga; a London Calling. Enfim, lojas de discos eram lugares frequentados mais assiduamente, apesar de sempre ser algo com aquele quê de nicho.
EOnline - Para finalizar, no texto do programa, aparece o trecho "carreira profícua ou pela proposta estética inovadora". Dos artistas que já se apresentaram no projeto, aqueles que detinham uma proposta estética inovadora conseguiram estabelecer uma carreira profícua ou é sintomático que a vanguarda musical nasça e morra estanque, como o primeiro dos Mutantes (Os Mutantes, de 1968)?
S.S.: A abordagem é a linguagem e sua repercussão. A efemeridade é um pressuposto da cultura do entretenimento. Acho que a música dos Mutantes teve desdobramentos estéticos interessantes que vão além do primeiro disco.
Se você ficou curioso, gostou ou não concorda em nada com o que foi dito, fica sempre o convite para vir e curtir o "Arquivo - Especial Rock Carioca dos Anos 80".
o que: | Arquivo - Especial Rock Carioca dos Anos 80 |
quando: |
17/agosto - Uns e Outros
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onde: |