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O cinema visceral de Bruno Dumont

O cineasta Bruno Dumont; a maioria de seus filmes é inédita no Brasil<br>Foto: Divulgação
O cineasta Bruno Dumont; a maioria de seus filmes é inédita no Brasil
Foto: Divulgação

Mostra no CineSesc traz todos os longas do diretor francês entre 1 e 8 de agosto

Dono de uma trajetória nada convencional, Bruno Dumont já foi professor de filosofia e fez filmes institucionais antes de se tornar um dos mais importantes cineastas franceses da atualidade. Em suas produções, o diretor explora a violência extrema, o comportamento sexual provocativo e as emoções de atores e não-atores sem dar espaço às performances, que considera um ‘pecado’. “Meu jeito de trabalhar consiste em pegar oitenta por cento da natureza da pessoa que vai atuar e construir o personagem a partir dessa argila. Por causa disso é que nem sempre eu sei o que posso fazer com um ator profissional”, explica o cineasta à revista Cahier de Cinéma no início de 2013.

A montagem é um dos recursos mais importantes de seu trabalho para editar de forma peculiar as tomadas longas e close-ups de corpos, recorrentes em seus filmes. O objetivo é sempre romper, “desarmar os hábitos do espectador, fazendo com que o subjetivo não aflore no momento esperado”, comenta o diretor.

A Mostra Bruno Dumont vai de 1 a 8 de agosto no CineSesc. A EOnline conversou com Neusa Barbosa, crítica de cinema e editora do Cineweb, para entender um pouco mais do universo de Dumont e suas histórias. Leia a seguir.

EOnline - Como Bruno Dumont despontou no cinema francês?
Neusa Barbosa - Ele lecionou filosofia e fez filmes institucionais antes de tornar-se cineasta, diretor de dramas como A Vida de Jesus (1997), que era uma investigação sobre uma juventude sem trabalho nem esperanças no norte da França, e não um filme religioso no sentido estrito. Ele levou essa atitude filosófica para os filmes que faz, procurando examinar em suas histórias a realidade que está ao redor. Dumont filma lentamente, faz filmes espaçados um do outro, justamente por essa atitude, esse desejo de dissecar seus temas.

EOnline - Quais são as principais abordagens temáticas de seus filmes?
N.B. - Temas sociais e contemporâneos como o desemprego dos jovens, o mal-estar de uma vida em que não se encontra sentido claro, a rotina do trabalho que desumaniza as pessoas, o crime e a religião como expressões de tudo isso... E, assim sendo, temas eternos, vinculados à própria essência da humanidade.

EOnline - Houve alguma espécie de ‘evolução’ dos primeiros filmes do diretor aos mais recentes?
N.B. - Dumont continua fiel a um certo universo desde o primeiro filme mas certamente, em termos de domínio da linguagem, ele vem se aperfeiçoando sem perder de vista o despojamento que procura. Não é um cineasta de efeitos especiais, de fotografia enfeitada, nem de atores profissionais – ele detesta a “performance”. O mundo que cria nos filmes é um mundo cru, naturalista, próximo da realidade e quase documental na forma.

EOnline - Quem são os mestres do cinema de Bruno Dumont?
N.B. - Há uma grande proximidade entre Dumont e Robert Bresson (1901-1999), diretor francês cujas obras também se caracterizavam por esse minimalismo dramatúrgico e interpretativo que define as obras de Dumont. Ele admira Ingmar Bergman e Pier Paolo Pasolini. Entre os cineastas atuais, vejo uma grande afinidade entre o trabalho de Dumont, os irmãos [Luc e Jean-Pierre] Dardenne e Michael Haneke. No caso dos Dardenne, Dumont compartilha temáticas humanistas e a preferência por atores não-profissionais (embora todos eles, atualmente, estejam infringindo essa “regra”, trabalhando com atores como Juliette Binoche e Cécile de France). Com Haneke, Dumont compartilha uma certa contundência, um desejo de ir até o fundo das coisas, da natureza humana em seus aspectos mais viscerais.

EOnline - Quais filmes você indica para o público em geral se ‘iniciar’ na obra de Bruno Dumont?
N.B. - Dumont realizou até agora apenas sete filmes, todos muito densos. Acredito que um filme como Camille Claudel 1915, até pela presença de Juliette Binoche e a personagem famosa da escultora francesa, possa atrair muita atenção e ser uma porta de entrada para quem não o conheça. Mesmo assim, qualquer outro filme, como A Vida de Jesus ou A Humanidade, poderia servir como introdução ao universo estilístico dele, que é duro, exige esforço do espectador. Não é um “cinema de diversão”, é um cinema de mergulho, de engajamento, que procura desestabilizar quem assiste, e que fala, também, da desestabilização nos seus temas. O que Dumont procura é que o espectador se despoje de suas certezas, de sua zona de conforto e compartilhe as vivências dos personagens.

A Mostra Bruno Dumont acontece entre 1 e 8 de agosto. Durante o período, o CineSesc também oferece o curso “O Cinema de Bruno Dumont”. As inscrições estão abertas e ainda há vagas disponíveis. Saiba mais no portal.

No vídeo abaixo você pode assistir ao trailer de Camile Claudel, filme que abre a mostra:

o que: Mostra Bruno Dumont
quando:

de 1 a 8/agosto

onde:

CineSesc