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Som, Imagem e Liberdade

Colaboração de Debora Pill*

 

Na contramão do contexto político-social-econômico pesadelo que vivemos junto de uma pandemia, a produção musical brasileira segue em espantoso movimento expressivo.

São inúmeros trabalhos novos, inéditos ou não, que estão fazendo barulho no meio digital. A potência do novo tem brotado através do simples. Algo imenso e verdadeiro.

Trago aqui discos, clipes, filmes, performances, projetos e parcerias de artistas de diferentes gêneros, gerações e estilos musicais que me encantaram nos últimos tempos. Escolhi 20 artistas ou projetos de música brasileira contemporânea que fizeram meus olhos brilhar nesse período de pandemia.

O recorte que fiz parte da relação do som com a imagem, talvez influenciada por uma das melhores notícias dessa semana, principalmente se você é fã de música e cinema: o nascimento da In-Edit TV, plataforma de vídeos on demand onde o publico vai poder ver, durante o ano todo, filmes gratuitos ou com valores que vão de R$ 3 a R$ 5.

O catálogo vai contar com alguns filmes dessa última edição do festival, que apresentou mais de 60 títulos inéditos nacionais e internacionais com destaque para “Aleluia, O Canto Infinito do Tincoã”, “Dom Salvador & Abolition”, “Dorivando Saravá, O Preto Que Virou Mar”, “Garoto - Vivo Sonhando”, “Arto Lindsay 4D”, “Elton Medeiros – O Sol Nascerá”, “Ventos que Sopram - Pará”, “Encantadeiras - O Canto E O Encanto Das Quebradeiras De Coco Babaçu”, “Faça Você Mesma”, “Nas Quebradas Do Boi” e “Quando Elas Cantam”. A In-Edit TV também vai trazer outros títulos que fizeram parte de edições anteriores.

Ainda sobre minha seleção e o que, nessa curadoria, vai além do formato audiovisual em si. Busquei identificar obras que exaltam liberdade, afeto e colaboração coletiva. Valores que, na minha opinião, nos ajudam a transmutar e construir novos caminhos nesse momento tão desafiador.

Te convido a abrir suas janelas e poros.

Deixa a brisa entrar.

 

ABDALA

Nascido e criado na cidade de Catalão, Goiás, o produtor musical Abdala se arrisca em aventuras artísticas cada vez mais instigantes. Está mergulhado agora em uma performance de áudio e vídeo chamada Sem Cruz Nem Espada, fruto de um trabalho de gravação de campo feito nos últimos três anos das congadas da sua cidade natal. “Vou criar um mundo imaginário de como seria essa tradição sem a interferência da Igreja Católica. Um mundo imaginário onde as pessoas possam ser livres pra contar a história da sua própria maneira, sem precisar da legitimação de Roma ou do clero. É um trabalho com muito sentimento envolvido, gente querida, os capitães de congo que eram amigos do meu finado pai, meus amigos de infância, o pessoal de minha rua, meu filho que me acompanhou algumas vezes nesses processos de gravação”, adianta. Enquanto a obra não sai, fica de olho no Bandcamp dele (Bruno Abdala) e do seu selo Propósito Records.

 

ANDRÉ ABUJAMRA

Não é de hoje que Abu se mete em experimentações audiovisuais – e ainda leva um monte de gente boa com ele. O cantor, compositor e multi-instrumentista lançou seu último álbum visual “Omindá – A União das Almas do Mundo Pelas Águas” (2018) com participações da The City of Praga Philharmonic Orchestra (República Checa), o tradicional coro The Mystery of the Bulgarian Voices (Bulgária), Zaza Fournier (França), Ballaké Sissoko (Mali), Maria de Medeiros (Portugal), Sasha Vista (Rússia), Oki Kano (Japão), Julia Ortiz e Dolores Aguirre (Argentina) e Rishab Prasanna e Sharat Srivastava (Índia). Do Brasil, o percussionista Marcos Suzano, o violeiro Ricardo Vignini, Xis, Mauricio Pereira, Andrea dos Santos, Trupe Chá de Boldo, Ritchie e Paulinho Moska. Abu  quer  fazer uma  série  de álbuns  visuais com  shows e  documentários  sobre  os elementos da natureza. Começou pela água e parte agora para o fogo, que terá como linguagem o desenho animado. 

Assista ao Show-Filme  e ao Documentário Água.

 

ATøNITO

Projeto autoral de Cuca Ferreira (Bixiga70), que toca saxofone barítono ao lado de Ro Fonseca no baixo e synth e Loco Sosa na bateria e synth. Aqui é o segundo disco do trio, que acaba de sair. Cuca conta que suas inquietações em transformar o som do Atønito em algo visualmente interessante sempre foram grandes. “A gente usa um monte de pedal, os três olhando pro chão. É exigir um pouco demais de quem vai ver o show”, reflete, entre risos.

As primeiras experiências audiovisuais aconteceram nos shows em 2018 com Paulinho Fluxus. Nesse disco, as mesmas inquietações em traduzir o som em imagem seguem, só que para o som gravado. “A gente convidou artistas visuais próximos da gente pra fazerem os vídeos. Cada um escolheu uma música e teve liberdade total para criar”. Cada um escolheu uma música e teve liberdade total pra criar”. Já são cinco clipes lançados: “Decline” (Guilherme Valverde e Zarella Neto), "Construção” (Marina Thomé), "Veloce" (Edu Marin), "Limite" (Marcos Vilas Boas) e “Sentido (part 2)” (Francisco Porto e Luiza Queiroz). Essa última música conta com participação de Luiza Lian e o vídeo foi 100% produzido durante a pandemia.

 

AVA ROCHA

Nascida no Rio de Janeiro, a cantora, compositora e cineasta tem trilhado um caminho potente e autêntico na música, que passa pelo cinema, o teatro e a performance. Lançou recentemente o filme-disco Mãe, onde experimenta explodir territórios de padrões de narrativa, linguagem, técnica e mensagem. “Mãe,” nasceu de um poema de Ava que fala da relação da mulher com a natureza e a liberdade. A partir daí, ela foi trançando brutos, sobras de trabalhos, canções que ela mesma produziu e experiências que nunca havia revelado, como imagens da festa de Iemanjá e as pirâmides do México, e a música “Mamãe Oxum” que não entrou em seu último disco Trança (2018). “Mãe, também foi um jeito de eu retornar pro cinema e o som de uma outra forma, algo mais próximo de quando eu comecei a fazer música: produzindo eu mesma”. Na pandemia, Ava também tem realizado vídeo performances poderosas, como a obra tranz-hibrida KynoFlorestVirtualMusyk - FEMME FRAME.

 

BRISA DE LA CORDILLERA

A artista mineira Brisa de La Cordillera, conhecida no rap nacional como Brisa Flow lançou, no começo da pandemia, o EP Free Abya Yala, com três músicas inéditas que criticam a violência da política extrativista e a invisibilidade indígena, ao mesmo tempo que celebram a resistência e herança dos povos originários do continente e o amor pela natureza. Abya Yala no idioma do povo Kuna é o nome dado ao território da América Latina e tem sido usado também pelo movimento decolonial. No EP, Brisa improvisa ao vivo com um trio de jazz formado por Francisco Schuller, no saxofone, Phil Santos Lima no baixo e o baterista Vitor Ciosaki. A arte da capa é do artista wapichana em contexto urbano Gustavo Caboco. Brisa também produziu recentemente uma obra audiovisual chamada Hija de Kuyen procurando o Sol,a convite do IMS. Assista também ao videoclipe Fique Viva.

 

CACTU

Projeto transmídia dos artistas Tulipa Ruiz, Alexandre Orion, Rica Amabis e Gustavo Ruiz que mescla artes visuais e música. Chega rasgando. Simboliza resistência, força e adaptação. A primeira fagulha já surge da imagem: cada faixa tem como matriz um loop de vídeo do Instagram da Tulipa. Rica processou então esses loops e os transformou em samples e programações. A partir das bases do Rica, Alexandre criou beats e Gustavo gravou piano, baixos e guitarras. Com as bases produzidas, Tulipa compôs melodias e letras. Palavras dos criadores sobre a cria: “Ríspida. Ácida. Áspera. Um caldo azedo dessa guerra informacional que vivemos. Chorume é catártica. A composição da decomposição. Há tanto chorume que poderia ser um longa metragem. Mas o que a gente quer e trabalha diariamente é pra que deste Chorume algo melhor floresça”. O primeiro álbum do CACTU terá 10 músicas que serão lançadas  no  formato  de single. Chorume foi o primeiro, lançado no dia 7 de setembro, mas infelizmente o YouTube já tirou o vídeo do ar. 

 

CAPTA

Núcleo exclusivamente feminino de produção de trilhas sonoras para TV, cinema, publicidade e games. São 8 compositoras, produtoras, artistas musicais que somam e complementam talentos para um mercado ávido por novas abordagens e processos. Érica Alves é produtora de música eletrônica (Mamba Negra, VoodooHop); YMA é compositora e artista multimídia; Maria Beraldo é compositora e instrumentista; Érica Silva é multiinstrumentista e produtora (Mulamba); Mariá Portugal é produtora, instrumentista e compositora de trilhas para dança e teatro; Lulina é compositora, produtora, cantora pernambucana indicada ao Prêmio APCA 2019; Juliana Perdigão é compositora, cantora, multi-instrumentista (Tom Zé, Jards Macalé, Teatro Oficina) e Lurdez da Luz é poeta, compositora, cantora e rapper. 

 

CARABOBINA

Duo da produtora musical Alejandra Luciani e do baixista Fefel (Boogarins). O nome da banda foi inspirado no Estado onde Alejandra nasceu, chamado Carabobo, na Venezuela. Daí o Chico Correa convidou a dupla (e casal) para participar do desafio #30dias30beats. “Todo dia fizemos e postamos um minuto de música. Sem trapacear. Depois de uma semana ficou difícil, mas foi um ótimo exercício. Criamos um sistema”, conta Alejandra. Assim que terminavam os beats, ela ia para as imagens, feitas a partir de registros de viagens para o arquipélago de Los Roques, na Venezuela, e da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. “Vejo a mixagem como espaço tridimensional para você pintar com sons que podem estar mais para frente, ou para trás, mais para cima ou para baixo. Depende da quantidade de agudo ou grave. Psicoacústica mesmo. Eu tinha uma visão clara na minha cabeça, uma coisa meio retro-futurista, meio Tron”.

 

DANI NEGA

A atriz, MC, cantora, compositora e ativista do movimento negro e LGBTQI+ é formada pela Escola Livre de Teatro e desenvolve trabalhos com coletivos de teatro como Os Crespos, Coletivo Negro e Núcleo Bartolomeu de Depoimentos. Tem dois discos lançados com o produtor musical Craca (Felipe Julian): o primeiro, Dispositivo Tralha (2016), eleito melhor álbum eletrônico no Prêmio da Música Brasileira. O segundo, O Desmanche (2018) contou com participações femininas de peso, como: Luedji Luna, Juçara Marçal, Sandra X, Roberta Estrela D’alva, Graça Cunha, Nanny Soul e Clarianas. Agora Dani alça vôo solo e está prestes a lançar seu primeiro EP com 4 músicas, onde fala sobre racismo, violência urbana e apropriação cultural, além de elementos autobiográficos de seu dia-a-dia na cidade como mulher negra, artista e lésbica. O novo trabalho conta com produção musical de Pipo Pegoraro e tem participações de Alessandra Leão, Ellen Oléria e Pietro Nascimento (Peta), que abre os trabalhos de forma brilhante no single “Como Noiz Quiser”.

 

IARA RENNÓ

A multiartista lançou em julho o primeiro EP de uma série que vai culminar em um álbum que está prestes a sair. “Afrodisíaca” é sua mais recente obra multidisciplinar que une música e poesia com fotografia, videoarte e gastronomia. Tem participações de Camila Pitanga, Tulipa Ruiz, Ava Rocha, Anelis Assumpção, Fabrício Boliveira, Negro Leo, Arrigo Barnabé, Alice Ruiz e Arnaldo Antunes. A série conta também com fotos de Caroline Bittencourt, receitas culinárias exclusivas inspiradas pelas faixas, criadas por chefs como Bel Coelho e também vídeoarte, com artistas como Cecília Lucchesi e a cineasta Patrícia Black. As lives do Afrodisíaca Sarau têm reunido artistas da música, literatura e artes visuais, chefs e mestras em terapias pela libertação do prazer no corpo feminino. Esse material tem tudo para se transformar em uma webserie ou programa de tv. 

 

JADSA

Taxidermia Vol. 1 é o EP do encontro de duas potências baianas: Jadsa e João Meirelles. Jadsa é cantora, compositora e multiinstrumentista. Em 2015 lançou o ótimo EP Godê e está produzindo no momento seu primeiro álbum Olho de Vidro previsto para sair ainda esse ano. João Meirelles é compositor e produtor musical que pesquisa som e imagem com especial atenção às texturas e timbres e suas relações com o tempo. Desde 2012 produz e se apresenta com BaianaSystem. O caminho dos dois se cruzou no Teatro Vila Velha, em Salvador. Taxidermia Vol. 1 revisita, em certo grau, esse território da sonoplastia. Traz a visão dos dois traduzida em som. A dupla escolheu lançar o EP no Bandcamp, por conta da distribuição do valor de venda mais justa que a maioria das plataformas - durante a pandemia estão direcionando 100% das vendas para os artistas. 

 

JONATHAN FERR

Te Assistir Sorrir me faz sorrir. Música de Jonathan Ferr, pianista e compositor de urban jazz da zona norte do Rio de Janeiro, que conta que a música nasceu no caminho de volta de um encontro com a cantora IZA, com quem colaborou em um show da turnê Dona de Mim. Ferr lançou no ano passado o projeto Trilogia do Amor, com sete faixas e colaborações que vão de Donatinho à Alma Thomas. O álbum é dividido em três capítulos: A Jornada, O Renascimento e A Revolução. A faixa Te Assistir Sorrir, sua primeira love song, tem participações de Choice, niLL e Lossio e ganhou um  clipe no fim de julho. A obra audiovisual expandiu o convite a pessoas de seu círculo de amizade que enviaram suas gravações caseiras. A direção do clipe é de Ferr e May Bandeira.

 

JUP DO BAIRRO

A artista audiovisual paulistana Jup do Bairro lançou o single “All You Need Is Love” na companhia de Linn da Quebrada e Rico Dalasam para abrir os trabalhos de sua poderosa obra de estréia, Corpo Sem Juízo. O videoclipe é tão grandioso quanto a música, onde os três corpos são transportados para a antiguidade e surgem como divindades com suas faces projetadas holograficamente ao som de sintetizadores e funk. A atmosfera do clipe é tão dúbia como a letra da música, que vai do romance à safadeza em segundos – ou suspiros. A direção e pós-produção do vídeo é de Rodrigo de Carvalho, de Coração Vagabundo de MC Tha e Q.S.A. de Jaloo com Gaby Amarantos. A composição de All You Need is Love é de Jup do Bairro e Rico Dalasam, a produção musical é da maga Badsista, mixer e master de Rodrigo Coimbra.

 

LEO CARIBE MENDES

O cantor, compositor e instrumentista Leo Mendes foi criado no celeiro musical de Santo Amaro da Purificação, município do Recôncavo Baiano onde nasceram não só Bethânia e Caetano, mas também Tia Ciata, Assis Valente e Edith do Prato. Leo é violonista de primeira e já acompanhou Gal Costa, Vingínia Rodrigues, Nando Reis e o pai, Roberto Mendes. Ele acaba de lançar o single Nó na Garganta, que abre caminhos pro seu primeiro álbum solo, previsto pra ser lançado ainda esse ano. “Nó na Garganta" que abre caminhos para o seu primeiro álbum solo, previsto para ser lançado ainda esse ano. “Nó na Garganta é um grito de socorro, um grito por justiça. Essa música traz para mim na sua narrativa uma imagem de luta e resistência das minorias, sobretudo mulheres e homens negros”, conta. A artista visual Vânia Medeiros foi quem tão bem traduziu em imagem essa narrativa, trazendo elementos da cultura afro-brasileira em harmonia com a estética sonora.

 

MAMÃO

Ivan Conti “Mamão”, icônico baterista do Azymuth na ativa há mais de 5 décadas com colaborações com Elis Regina, Leci Brandão, Rita Lee, Clara Nunes, Maria Bethânia, Fafá de Belém, Tim Maia, Erasmo Carlos, Marcos Valle, Raul Seixas, Eumir Deodato, Trio Ternura (e a lista segue!) está prestes a lançar o vídeo da música MEXE. Essa é uma parceria com o produtor pernambucano Rodrigo Coelho, aka grassmass, que lançou um tributo futurista à obra de Moacir Santos, já trabalhou com Naná Vasconcelos e Arto Lindsay e é fundador do selo UIVO Records. Mamão decidiu experimentar outras linguagens artísticas e assim nasceu a colaboração audiovisual com a bailarina e roteirista carioca Amanda Sophia e o ilustrador Fabio Benê (animação e after effects), com produção executiva de Thiago Martins. O videoclipe tem lançamento previsto para início de outubro.

 

MANO MAGO

Mano Mago é a união do cantor, arranjador e instrumentista Giovani Cidreira e do produtor musical e artista transmídia Mahal Pita. A Bahia mitológica e seus mistérios se une à magia das ferramentas tecnológicas. O EP foi lançado em junho com Giovani na voz, teclados, baixo synth e direção musical, Mahal na programação/synth, voz, direção e produção musical, Benke Ferraz (Boogarins) na produção musical, mixagem e masterização. A ilustração da capa é de Filipe Sant'Ana (Atmocubo) e a arte é de Mahal.  

“Mano e Mago são dois personagens, duas personalidades. A claridade e o pântano, a doideira e a calmaria, a intuição e o impulso. Lançar esse EP foi engrandecedor, me pôs de pé nesse momento de tristeza e desgraça para todo mundo”, conta Giovani. 

 

MARIETTA

Analógica é o primeiro disco solo da cantora e compositora paulistana Marietta (no reggae, conhecida como Massarock) que está prestes a ser lanc¸ado com produção de Lucas Martins (Ce´u) e participações de Russo Passapusso (BaianaSystem), JorgeDubman (Ifá Afrobeat) e Guilherme Arantes, seu pai. “O disco tem um fundo imagético muito presente. Musicalmente se inspirou em cenas, hai kai, quadrinhos, colagens, recortes. A estética dele permeia esse universo retrô e traz pra uma atualização fragmentada”, ela conta. O disco e´ permeado de referências simbólicas como o gato, a noite, o folhetim, a fotonovela. “Essas velharias repaginadas numa nova colagem. A música vem num movimento de samples, passagens, pontes. De pastiche.”, resume. A capa do disco é de uma artista argentina trans chamada Sara Amor e retrata uma invasão felina. “Essa capa foi meio profética, com a invasão dos animais nas ruas que acabou acontecendo no começo da pandemia”. O vídeo do single Analógica foi dirigido por Fernanda Calil.

 

MAY HD E JUNIX 11

“Se o olho do furacão pudesse piscar, se o breu conseguisse iluminar, então, talvez você conseguiria imaginar o som de May e Junix.” Amo essa definição do mestre Arto Lindsay sobre o som dessa dupla que caminha e cria junto há mais de década na Bahia. CAPSULAR é um registro em vídeo de uma live performance sonora e visual feita em abril onde May trabalha nos sulcos de vinil destruído e Junix 11 manipula efeitos e sinais sonoros. May nos ajuda a mergulhar nas diferentes camadas da obra: “A quarentena nos encapsulou e a vídeo performance registra o live sonoro sincronicamente à eclosão de luzes que rebatem ao vírus invisível e, numa quase onomatopeia imagética de filtros berrantes, o cenário se virtualiza e se reproduz em destaque na segunda tela, para onde os artistas se transportaram em refúgio. CAPSULAR é um contra-ataque de ruídos e cores”.

 

MESCLA BR

Betão Aguiar é músico, produtor, diretor e pesquisador musical. Filho de Paulinho Boca de Cantor (Novos Baianos), colabora com Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Baby do Brasil, Felipe Cordeiro e Saulo Duarte e a Unidade. O projeto Mestres Navegantes é uma série fonográfica de caráter documental e antropológica que Betão criou para registrar músicas de manifestações culturais e populares de diversos estilos e regiões do Brasil. Esse projeto completa dez anos em 2020 e as comemorações abrem com o lançamento do disco MESCLA BR, onde produtores de música contemporânea fazem releituras de cantigas de mestres da cultura popular, em um belo diálogo entre gerações de artistas paraenses, baianos, paulistas e cearenses. Nomes como Mahal Pita, Junix e May HD, Raffa Muñoz, Strobo, Curumin, Pio Lobato e Felipe Cordeiro apresentam suas criações para músicas de Mestre Curió, Ilê Axé Alaketu Oya Funan, Congada Mirim de Ilhabela e a Banda de pife Carcará. O projeto lança também o filme 'Chegança, no jardim das belas flores', que fala sobre os grupos femininos de Chegança, na Bahia.

 

PAOLA ALFAMOR

Artista polimorfa que se expressa através da música, de desenhos e pinturas (em papéis, telas e muros), de sua “tatuagem-transcendental”, de fotografia e também do vídeo, entre outras experimentações de uma sensibilidade afiada. Suas criações partem de inspirações místicas e espirituais, falam sobre o feminino, a natureza e o cosmos, assim como questões sociais urgentes. ONÇA é seu álbum de estréia que acaba de ser lançado, com sete faixas e participações de Mateus Aleluia, MãeAna, Arthur Braganti, Bruno Capinann e a dupla argentina Perotá Chingó. Além das participações especiais e de Saulo na produção, parceria das canções e como instrumentista, o trabalho também conta com os músicos Thomas Harres, Klaus Sena, Mau, João Leão, Zé Nigro, Victória dos Santos, Sthe Araújo, Luisa Lembruger, Gabi Guedes e vocais de Camila Costa, além de uma parceria com o Poeta Arruda. A música “Sábado Sangue” fala sobre a natureza cíclica da mulher ganhou um belo clipe recente.

 

* Debora Pill é jornalista, curadora e pesquisadora de música brasileira contemporânea há duas décadas. Foi coordenadora de comunicação do Instituto Pólis, é colaboradora do portal Elástica e da rádio pública alemã WDR/Cosmo desde 2016 com foco em música e direitos humanos. Está no ar com o podcast “Eu Te Como”, sobre Arte e Ciência para o Festival Arte Serrinha e com o programa BRISA na rádio Dublab Brasil. Tem entrevistas e críticas musicais publicadas na Ilustrada e foi uma das criadoras do  Laboratório de Rádio Digital para o Sesc Santo Amaro. Realizou oficinas de rádio “Whatsapp” com mulheres indígenas pelo país.

 

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Radar Sonoro: Dani Nega e Debora Pill

No momento em que o Brasil e o mundo vivem a pandemia da Covid-19, a música feita no País não foi interrompida totalmente. Para apresentar novas produções musicais, tanto inéditas, quanto em gestação, surgiu o projeto “Radar Sonoro”, uma série de vídeos e textos que traçam um panorama da produção musical brasileira no contexto de pandemia e distanciamento social.

O terceiro encontro, disponível  a partir do dia 25 de setembro, às 11h, no Youtube do Sesc Pinheiros, traz a atriz, MC, compositora e ativista do movimento negro e LGBTQIA+ Dani Nega, para conversar sobre o processo de produção de seu primeiro álbum solo.

Na conversa, conduzida pela jornalista Debora Pill, Dani Nega compartilha suas reflexões sobre o período de distanciamento social, sobre seu processo de produção e relembra o trabalho musical em conjunto com Felipe Julian (Craca Beat), com quem lançou os álbuns Dispositivo Tralha e O Desmanche.

A artista fala, ainda, sobre sua atuação junto a importantes grupos de teatro, como “Os Crespos”, “Coletivo Negro” e “Núcleo Bartolomeu de Depoimentos”, e conta um pouco sobre seu primeiro trabalho solo, que apresenta elementos autobiográficos e um retrato do cotidiano da artista na cidade, trabalhando, criando e vivendo afetos como mulher negra, artista e lésbica.

O Radar Sonoro traz, em cada edição, um nome do jornalismo musical e um artista da cena da música brasileira. Já participaram do projeto o vocalista da banda Mombojó, Felipe S, o trombonista Joabe Reis e os jornalistas e críticos musicais Alexandre Matias (Trabalho Sujo) e Carlos Calado. Aproveite para assistir à primeira e à segunda edições!