Sesc SP

Matérias do mês

Postado em

Os Anos da Virada na Música Brasileira

Série Os Anos da Virada, com o jornalista Ricardo Alexandre, mergulha nas revoluções musicais dos anos de 1970, 1980, 1990 e 2000. Os episódios serão exibidos no canal do Youtube do Centro de Música todos os sábados, entres os dias 10 e 31/10.

Por André Locatelli *

Muito já se falou e escreveu sobre a Música Popular Brasileira, porque o assunto além de fascinante é praticamente inesgotável, dado a complexidade de referências, a qualidade, e a genialidade de músicos e artistas brasileiros. Poucos se arriscaram a dar um ponto final ou cravar um conceito ou ainda uma definição do que é a MPB. De uma forma bem resumida, superficial e sem qualquer pretensão de revelar o envolvimento com os contextos políticos, culturais, sociais e, principalmente artísticos de cada época, qualquer amante da música feita abaixo da linha do Equador poderia escrever, sem errar, o seguinte: 

Lá pelas tantas da década de 1960, quando a televisão finalmente se popularizou, a realização do Festival de Música Popular Brasileira lançou vários nomes importantes da música: Milton Nascimento, Elis Regina, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e Edu Lobo. No mesmo período estreia o programa musical Jovem Guarda, no qual despontaram Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Os The Beatles já eram sucesso e cada vez mais artistas passaram a emular a fase ‘yeah, yeah, yeah’ do grupo por essas terras, além de se tornarem inspiração criativa para discos e canções seminais a partir de 1966.

A década de 1970 marcou o aparecimento de vários outros grandes artistas: Nara Leão, Gal Costa e Maria Bethânia, vindas da Bahia, Djavan, de Alagoas. Fafá de Belém, vinda do Pará. Clara Nunes, vinda de Minas Gerais, Belchior e Fagner, do Ceará. Alceu Valença, vindo de Pernambuco, e Elba Ramalho, vinda da Paraíba. Raul Seixas e Os Mutantes, depois Rita Lee em carreira solo e no Tutti Frutti marcaram o cenário do rock brasileiro ainda na década de 1970, quando também aparecem no cenário soul/funk com sotaque brasileiríssimo Tim Maia e Jorge Bem, que ainda não era Jor. O Secos & Molhados se tornou um sucesso estrondoso, não só pela qualidade musical que misturava a Bossa Nova, Tropicália, Rock Psicodélico, etc., mas, também pelas belas e provocativas performances quase teatrais do trio, em especial de Ney Matogrosso.

Novos estilos musicais apareceram nas décadas de 1980 com influência do que se fazia fora do Brasil, mais especificamente nos Estados Unidos e Inglaterra: o rock, o punk e a new wave. Por aqui, o país passava por grandes transformações e caminhava para a democracia após 21 anos de ditadura. Em 1985, realizou- se o Rock in Rio. A partir daí foi um caminho sem volta para os festivais no Brasil. Além das mega estrelas internacionais, participaram do festival bandas e cantores nacionais como Paralamas do Sucesso, Blitz, Kid Abelha e Barão Vermelho, Ivan Lins, Pepeu Gomes, Rita Lee e Elba Ramalho. 

Os anos 90 e 2000 foram tomados de assalto pela Axé Music vinda da Bahia e o Sertanejo finalmente invadiu o asfalto, atraindo um público mais jovem e dando novo fôlego ao gênero. Os negócios no meio musical começam a mudar drasticamente enterrando uma outrora indústria poderosíssima e dando lugar a outra com o surgimento das plataformas de streaming e a música feita para carregar no bolso.

Ricardo Alexandre

Jornalista Ricardo Alexandre

O resto? Bom! O resto são histórias entrelaçadas, ocultas e enredadas no que foi dito até aqui. E são elas que o jornalista Ricardo Alexandre pretende contar na sua série de vídeos “Os Anos da Virada da Música Brasileira”.

Conhecido por seus livros, documentários, por seu trabalho à frente da lendária revista “Bizz” e por sua atuação em programas de rádio e internet, o jornalista Ricardo Alexandre preparou um projeto especial para o Sesc São Paulo: uma série de quatro episódios em vídeo que usa dos “Anos da Virada”, os anos cheios de 1970, 1980, 1990 e 2000, para relembrar o que de mais importante eles trouxeram das décadas que os antecederam e como eles serviram de “trampolim” para o que de melhor veio depois. A equipe envolvida na série é a mesma responsável pelo celebrado documentário “Sem dentes: Banguela Records e a turma de 94”, como o co-diretor Alexandre Petillo e o diretor de fotografia Erick Miranda.

A partir de uma seleção cuidadosa de álbuns, músicas e fatos de cada um desses anos, Ricardo Alexandre costura um roteiro informativo e divertido, mas que também chama o espectador ao debate e à reflexão. Em cada episódio, o jornalista explora diversos temas importantes para cada ano. O fim do sonho hippie e o cerco da ditadura brasileira em 1970, as trilhas de novela e as sementes do rock brasileiro em 1980, a tecnologia e o mercado alternativo em 1990, o surgimento do streaming e os grandes eventos no ano 2000, por exemplo, sempre puxando “ganchos” para estimular uma boa discussão sobre arte, criatividade e tecnologia. Entrecortando cada um dos tópicos de cada episódio, entram a retrospectiva das notícias mais importantes do ano, os grandes hits da música pop e 10 álbuns do ano que todo fã de música precisa ter. Apesar de equilibrar sucessos e personagens nacionais e estrangeiros, o ponto-de-vista é sempre o do fã de música do Brasil. 

E para ilustrar cada um dos episódios, Ricardo Alexandre entrevista um renomado artista da música brasileira cuja obra sabidamente foi influenciada pelos acontecimentos artísticos, culturais, sociais e políticos em cada uma das décadas retratadas. Assim, Sérgio Dias (Os Mutantes) comenta sua formação na década de 60 para falar do ano de 1970 e, respectivamente, Guilherme Arantes fica com o ano 1980, Sérgio Britto (Titãs) com 1990 e Fernanda Takai (Pato Fu), fecha o ciclo com o ano 2000.

Ao final, Os Anos da Virada se transforma num panorama vívido e provocador a respeito das últimas 50 décadas de música pop e um retrato cuidadoso do que de mais marcante aconteceu há 20, 30, 40 e 50 anos atrás. 

Para completar esse mergulho no passado, Ricardo Alexandre preparou quatro playlists com a trilha sonora da série. São 160 músicas divididas em quatro playlists, disponíveis nos canais do Sesc no Spotify e na Deezer. Basta pesquisar por “Os Anos da Virada” e escolher entre as playlists de 1970, 1980, 1990 e ano 2000.  

Preparem-se para uma viagem de boas histórias e recordações, diletantes e divertidas ao redor do mundo da Música Popular Brasileira e de tudo o que a fez, e ainda faz, um dos mais inventivos traços da cultura brasileira.

osanosdavirada

A série Os Anos da Virada irá ao ar no canal do Youtube do Centro de Música todos os sábados, entres os dias 10 e 31/10.

Já a playlist do primeiro episódio está disponível nos perfis do Deezer e Spotify do Sesc São Paulo.
Acesse: Deezer / Spotify

 

*André Locatelli é Supervisor do Núcleo Artístico no Sesc Guarulhos