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Pastilha do Futuro: perspectivas de hoje e inspirações para o amanhã
Pensar e viver somente no futuro, imergir em ilusão e utopia, sempre ansiando pelo que há de vir, sem viver o que se tem e o que se é. Tomar, diariamente, uma pastilha de futuro, esperando que o amanhã lhe entregue o que você deseja, sem esforço. Aldir Blanc, na canção “Tristeza de uma Embolada”, apresenta justamente essa reflexão, em uma crítica ao ilusório, ao que causa inércia na sociedade. Mais do que aguardar, então, é preciso colocar em prática, fazer acontecer.
A partir disso, o Sesc Santo Amaro traz, em formato de pílulas audiovisuais, pastilhas de um futuro presente, de gente que faz acontecer em suas produções. Entre os dias 22 e 26 de setembro de 2020, sempre às 20h, uma série de vídeos irá ao ar nos canais da Unidade no Youtube, Instagram e Facebook. Nela, alguns artistas compartilham traços de suas pesquisas e dão pistas de disparos que surgem à margem, no respiro da invenção.
“Ele toma a pastilha do futuro.
Ele lê na cartilha do futuro.
Ele veste a mortalha do futuro”.
Na estreia da série, João Bosco revisita, ao violão, após décadas, a canção que eternizou em 1973. Ao longo do vídeo, o cantor e compositor pensa alto sobre a letra do seu parceiro Aldir Blanc.
Abaixo, João nos apresenta uma reflexão adicional em texto:
Sobre a letra de "Tristeza de uma Embolada": eu a entendo como uma crítica ácida aos discursos que depositam as esperanças individuais e sociais no futuro, geralmente um futuro sem prazo de vencimento (a eternidade religiosa, o progresso moderno ou as utopias comunistas). Portanto, a letra critica esses discursos que são, sobretudo, religiosos, mas não exclusivamente. Desse modo, tomar "a pastilha do futuro" é como engolir um discurso ilusório de bem-estar, cujo preço é entregar sua vida no aqui e agora.
Por isso o futuro é uma "mortalha". A esperança é uma roupa que veste um corpo que está morto por baixo: perdeu sua capacidade crítica, sua disposição pra lutar, sua afirmação do prazer, da alegria e da liberdade. A letra - bem como a canção como um todo - é uma espécie de anti-épico, uma espécie de paródia da grandiosidade dos discursos do futuro, que na verdade escondem apenas políticas de controle do indivíduo e da sociedade.
A "pastilha do futuro" é um proto-prozac, uma profecia dos psicotrópicos médicos que servem tanto pra aplacar a angústia das pessoas quanto pra evitar que essa angústia se transforme em consciência crítica e luta pela liberdade. O futuro é urgente e é agora.
Artistas participantes
Além de João Bosco, vamos conhecer as perspectivas de esperança no presente de outros criadores, levando em conta, especialmente, o contexto de pandemia em que nos encontramos atualmente.
A percussionista Sthe Araújo nos conta como percebe e caminha junto aos instrumentos de cabaça, em sonoridade e construção.
Fernando Catatau funde-se ao underground da Fortaleza do século XXI e nos apresenta a banda Glamourings, suas performances e seus personagens.
O regente Raimundo Damasceno nos mostra como ele e os músicos da Orquestra de Cordas Alberto Nepomuceno (compositor, pianista, organista e regente cearense), têm trabalhado remotamente durante os últimos seis meses.
Por fim, Cátia de França, cantora, compositora, multi-instrumentista e escritora paraibana, e Junior Black, pernambucano da música e da comunicação, são artistas que sempre concatenaram música e natureza em suas trajetórias. Aqui, se encontram virtualmente, em 2020, por conta da canção “Por que é da Natureza”, composta por Abel Silva e musicada e gravada por Cátia em 1980, no álbum “Estilhaços”.
“Já com o vírus acontece
Uma coisa bem estranha
Se tira um pedaço dele
Outro pedaço ele ganha
O pedaço extirpado
Outro vírus vai formar
Porque é da natureza recomeçar”
Serviço:
Pastilha do Futuro
De 22 a 26 de setembro de 2020
Nos canais Instagram, Facebook e Youtube do Sesc Santo Amaro