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O Trabalho Invisível
*Por Amanda Prado
O Lab Cine Sesc Bertioga desenvolve atividades formativas e exibições, com a proposta de propiciar para públicos de todas as idades a experiência colaborativa de pensar, ver e fazer Cinema. Na edição do último semestre, o curso "Olhares de Bertioga" aconteceu de forma remota. Oferecido pela Sendero Filmes, as aulas puderam propiciar conhecimentos teóricos, técnicos e estéticos acerca da linguagem cinematográfica, sobretudo no campo documental, propondo junto dos participantes exercícios a partir do espaço doméstico de cada um, dentro das abordagens documentais propostas. Ao final do curso, os registros deram origem ao curta-metragem “O Trabalho Invisível”, que trata de um tema fundamental para reflexão no momento atípico que vivemos por conta da pandemia: o trabalho invisível das mulheres.
As relações entre o mundo do trabalho e a vida das mulheres são fonte de pesquisas importantes ao longo da história, e trazem perspectivas fundamentais sobre desigualdade racial, social e de gênero no Brasil e no mundo. Diferentes configurações sociais são moldadas também por estas relações, que apresentaram mudanças de grande impacto ao longo das décadas, definindo como as mulheres se colocam no campo do trabalho e como são (des)valorizadas a partir do papel social que lhes é, muitas vezes, imposto.
Temos vivido, durante a pandemia, mais uma grande mudança de configuração destas realidades de forma inédita mundo afora. O impacto sobre as mulheres é enorme, e as tem colocado cada vez mais em situações de vulnerabilidade, exaustão e precarização. Estes impactos podem se colocar em maior ou menor grau a depender de fatores como raça, classe e configuração familiar: mulheres negras, empobrecidas e que criam filhos sozinhas, por exemplo, encontram solo ainda mais árido para cultivar sonhos e certezas em meio às dificuldades impostas pelo momento que temos vivido.
É nesse contexto que é importante também nomear o trabalho doméstico e de cuidado como ele, de fato, é: trabalho. Mesmo quando a mulher, por escolha ou não, ocupa seu tempo com a vida doméstica, exerce ali funções laborais invisíveis e desvalorizadas. O trabalho doméstico não remunerado ocupa milhões de mulheres no mundo, que exercem esta importante função, muitas vezes acumulada a outras obrigações, fazendo a roda do mundo girar. A invisibilização do trabalho doméstico é uma violência pouco discutida e combatida e, neste cenário de pandemia, é cada vez mais urgente trazer luz às questões relativas a este tema.
Todos os dias mulheres trabalhadoras buscam por igualdade, e parte da luta por reparação e justiça se dá por meio da visibilização, amparo, desconstrução de estereótipos e preconceitos, acesso à educação de qualidade, combate à violência contra a mulher e o exercício pleno de sua autonomia e protagonismo.
A pesquisa “Sem parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia”, apresentada pela SOF (Sempreviva Organização Feminista), traz dados pertinentes e elementos importantes para compreendermos estas questões. Acesse a pesquisa aqui.
*Amanda Prado é graduada em Ciências Sociais e Pedagogia, possui mestrado na área de Sociologia da Educação e especialização em Gestão Cultural. É programadora do Sesc Bertioga nas áreas de Cinema, Diversidades e Programas Socioeducativos para infâncias e juventudes.