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A hora e a vez da graxa: conheça o trabalho de quem faz o show acontecer
O Sesc Interlagos apresenta Com vocês: a graxa!, uma websérie em seis episódios sobre as vivências e experiências reais de trabalhadoras e trabalhadores de eventos culturais e artísticos
Quem consome cultura, certamente já passou pela experiência de se impressionar com algum espetáculo para além da interpretação do artista. Já se impactou por um jogo de iluminação de algum show ou espetáculo, já se surpreendeu com a qualidade sonora de um espetáculo teatral ou de dança, pirou com a exatidão do momento em que a música tocou, ou até mesmo ficou surpreso com uma produção de evento organizada e impecável.
Pois bem! O que muita gente ainda não se dá conta é que, por trás de tantas emoções, sensações e registros afetivos proporcionados pelas experiências da cultura, tem gente muito empenhada fazendo os corres dos eventos, antes mesmo do artista chegar. Essa é a "graxa”.
Palco no Bananada Fest. Arquivo pessoal da montadora de palco Carol Doro
Quem é que faz?
A graxa é composta por profissionais técnicos que trabalham nos bastidores dos eventos fazendo produção cultural, iluminação, som, montagem de palco, carregamento de equipamentos, afinação de instrumentos, entre outros. É a galera “invisível” que faz um trabalho fundamental para que os shows e espetáculos possam acontecer - tudo está lindo quando você nem lembra que a magia do espetáculo veio de mãos humanas.
Para conhecer melhor esses personagens, ouvir suas experiências, práticas e anseios enquanto categoria, o Sesc Interlagos apresenta a websérie Com vocês: a graxa!, idealizada também com o propósito de valorizar e reconhecer as pessoas dos bastidores - inclusive para fomentar a necessidade de pensar soluções que assistam esses profissionais em meio à crise pandêmica.
Para André Lerro, animador cultural do Sesc Interlagos e criador da série, no universo da graxa existe uma quantidade imensa de conhecimentos e histórias que rolam nos bastidores e que, no entanto, não são valorizadas pelo público em geral. “Isso acontece por desconhecimento e, muitas vezes, também por aquela noção equivocada de que ‘o trabalho braçal não tem tanto valor’ - algo que é mentira em todos os sentidos”.
Na prática, a websérie se organiza entre três relatos de ofício, episódios em que uma iluminadora, uma técnica de som e um técnico de guitarra compartilham detalhes das suas rotinas e seus trampos na prática; e há também três episódios temáticos, em que diferentes convidadas e convidados discutem os desafios profissionais da categoria, falam sobre o amor pela profissão, os entraves e lutas por condições melhores. Saiba o que te espera:
Com vocês: a graxa!
Episódio 1 | Que horas começa o show?
Com Carol Doro, roadie e montadora de cabos, Gabriele Souza, iluminadora e Florencia Saravia, técnica e engenheira de som
Episódio 2 | Relatos de ofício: o trabalho de uma técnica de som
Com Bia Wolf, engenheira de som e diretora técnica
Episódio 3 | Quem é que faz?
Com Itamar Adriano, produtor cultural e DJ, Janaína Soares, produtora cultural e atriz, e Thamara Lage, produtora cultural e fotógrafa
Episódio 4 | Relatos de ofício: o trabalho de uma iluminadora
Com Danielle Meireles, iluminadora e diretora técnica
Episódio 5 | O que a graxa quer?
Com Adriana Viana, técnica de som e diretora técnica, Randolfo Neto, membro da direção do SATED-SP, e Cidy Campos, produtora audiovisual e assistente de produção de elenco
Episódio 6 | Relatos de ofício: o trabalho de um técnico de guitarra
Com Luan Pessanha, diretor técnico e técnico de guitarra
Ferramentas de trabalho da técnica de iluminação Gabriele Souza. Acervo pessoal
A realidade nas coxias
Com boa parte da economia brasileira parada há mais de um ano devido às crises sanitária e econômica relacionadas ao novo coronavírus, muitos setores foram afetados em proporções incalculáveis – e o setor cultural foi um dos mais impactados. De acordo com a carta de conjuntura divulgada em outubro de 2020 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a pandemia de Covid-19 não apenas mostrou as fragilidades da área cultural, mas também as dificuldades de compreensão e reconhecimento político do setor.
Em meio à falta de estrutura para manter o setor funcionando, muitos artistas encontraram nas transmissões on-line ao vivo uma oportunidade de se manterem trabalhando. Contudo, as condições para a realização de uma live não requerem tantos mecanismos quanto um show “em carne e osso”, por exemplo. Desta forma, a pandemia trouxe para o centro do palco a vulnerabilidade dos profissionais envolvidos sempre com os bastidores.
“Eu tive que tirar do meu trabalho para investir no meu sonho”, compartilha o produtor cultural Itamar Adriano, quando se refere à profissão que escolheu pra viver. Na websérie, o produtor revela que precisa trabalhar com várias outras funções - como cabeleireiro, maquiador e pintor - para conseguir se manter financeiramente e sustentar seu sonho de trabalhar com produção cultural. Segundo ele, não há, principalmente, investimento público para cultura na periferia.
Toca discos no palco do rapper Djonga em show realizado na Virada Cultural em 19 de maio de 2019, no palco da Praça Pau-Brasil do Sesc Interlagos. Foto: Mariana Lins Prado.
As bordas no centro
Outra protagonista da websérie é a própria cena periférica. É certo que a cultura brasileira sempre bebeu e continua bebendo da fonte artística das margens das cidades. Foram nelas, nas periferias, que grandes ritmos como o samba, forró, rap e funk ganharam vida. “Todos, de uma ponta à outra, culturalmente falando, toda cultura musical vem da senzala, vem do preto, vem da periferia e se instalou até chegar a esse produto que é a cultura e a música”, analisa Itamar.
A graxa, é claro, também faz parte desse cenário - não só por estar envolvida diretamente com arte, mas porque é a classe que nesse momento de pandemia está à margem, sem condições de garantir o sustento de suas famílias.
Segundo dados do Ipea, as estimativas de participação do setor cultural na economia brasileira, antes da pandemia, variavam de 1,2% a 2,67% do PIB. E o conjunto de ocupados no setor cultural representava, em 2019, 5,8% do total. Ou seja: em torno de 5,5 milhões de pessoas. E como estão vivendo esses profissionais diante da paralisação cultural?
Neste sentido, Lerro reforça o papel social de uma instituição como o Sesc São Paulo reconhecer a importância da galera da graxa. E não só especificamente na pandemia, mas de modo constante, por meio das ações e atividades realizadas pelos técnicos junto a seus coletivos e em nossos eventos aqui na unidade do Sesc Interlagos e por todo o Brasil afora.
É fundamental falar das dificuldades financeiras e emocionais que tantos profissionais estão passando devido à paralisação artística. E com o pessoal da técnica não deve ser diferente. Afinal, é como dizem: são eles os primeiros a chegarem e os últimos a saírem de um evento.
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Com vocês: a graxa!
Estreia dia seis de abril, terça, às 19h.
Novos episódios às terças e sextas até 23 de abril.
Exibição nos canais do Sesc Interlagos no Facebook, Instagram e YouTube.
Recomendação: livre.
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