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Redes de apoio às gestantes conscientizam e estimulam o atendimento mais humanizado durante a gestação
Uma a cada quatro mães sofre alguma violência durante o parto mostra a pesquisa realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo em conjunto com o Sesc. O conceito internacional de violência obstétrica define qualquer ato ou intervenção direcionado à mulher grávida, parturiente ou puérpera, ou ao seu bebê, praticado sem o consentimento explícito e informado da mulher e/ou em desrespeito à sua autonomia, integridade física e mental, aos seus sentimentos, opções e preferências.
Apenas 10% das entrevistadas pela pesquisa Healthtech Theia de 2020 entendem que sofreram violência obstétrica. Porém, quando perguntadas se situações específicas que caracterizam a violência obstétrica aconteceram durante seus trabalhos de parto, 25% assinalaram pelo menos uma das alternativas. Isso mostra que, apesar de muitas mulheres sofrerem violências no parto, 65% não reconhecem como violência obstétrica.
De acordo com as Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal, do Ministério da Saúde, a decisão pela via de parto deve considerar os ganhos em saúde e seus possíveis riscos, de forma claramente informada e compartilhada entre a gestante e a equipe de saúde que a atende. Desta forma, a mulher é livre para escolher se quer um parto na água, de cócoras, cesárea ou da maneira que for mais confortável e adequada para a saúde da mãe e do bebê. Na tentativa de combater a violência obstétrica, todo parto deve ser humanizado, que consiste no protagonismo das escolhas da gestante. No procedimento, espera-se que a natureza siga seu fluxo natural, por isso, são realizadas poucas ou nenhuma intervenção médica, que só ocorrem com a permissão da mãe.
Assim, surge uma figura importante: a doula. Esta mulher oferece todo suporte emocional à gestante no pré-natal, durante e pós-parto e desempenha papel fundamental ao proporcionar conforto, encorajamento e suporte durante todo o período.
Antigamente, eram as mulheres mais velhas da família que acompanhavam e instruíam as mais jovens no trabalho de parto e nos cuidados com o recém-nascido. Hoje, pode-se dizer que as doulas desempenham esta função.
Apoio à gestante
Pensando em oferecer apoio às gestantes, o Sesc Santo André desenvolve o projeto Gerando Saúde na Maternidade e ofertou, em novembro de 2020, um curso online de capacitação para profissionais da área da saúde que lidam com gestantes. A oficina “Atenção e abordagem às gestantes, famílias e pessoas no pós-parto em situação de vulnerabilidade social” foi realizada em conjunto com as doulas da Coletiva Raízes do Parto, que atua na criação de políticas públicas voltadas às gestantes, para que estas tenham seus direitos garantidos durante a gestação e o parto, como também no fortalecimento dos conhecimentos ancestrais, hoje baseados em evidências clínicas, para que estes façam parte efetiva do atendimento ofertado às mulheres na rede SUS (Sistema Único de Saúde).
Além delas, a ação contou com a Coletiva Mães na Roda, que promove encontros de doulagem gratuitos e semanais para gestantes e puérperas na periferia da Zona Sul de São Paulo, com o foco na construção e no fortalecimento da rede de apoio para mulheres grávidas em situação de vulnerabilidade financeira e social. Denise Niv, mestre e doutora em ciências pela Faculdade de Saúde Pública da USP e integrante da Parto do Princípio, também participou do projeto.
O curso online orientou profissionais da saúde e assistenciais que atendem mulheres no período gestacional, parto e pós-parto de todo o Brasil. Ao longo das aulas, as participantes tiveram discussões sobre a humanização do atendimento à gestante, principalmente aquelas em situação de vulnerabilidade social, e a importância de se formar redes de apoio em suas regiões. “Eu acho que o objetivo do curso foi atingido. A partir de agora, eu tenho um olhar mais diferenciado em relação a como amparar essas mulheres, como talvez até construir uma rede de apoio para dar esse suporte, porque eu não imaginava que poderia ser dessa forma”, relata Fernanda, que mora em Manaus e acompanhou as aulas online.
A rede de apoio nasce da necessidade da mãe de contar com o suporte, principalmente emocional, de pessoas próximas, para que este período se torne ainda mais agradável, que ela tenha mais informações e se sinta acolhida durante a gestação e os primeiros meses de vida da criança. As redes de apoio podem ser formadas por pessoas que auxiliam na criação dos filhos e que convivem com a família, como o pai, os avós, os padrinhos, os tios, os vizinhos, os médicos ou mesmo os grupos de redes sociais.
“Eu acho que essa memória de apoio, de suporte familiar, de amigos, de vizinho, talvez, hoje em dia, a gente não tenha mais isso tão fortalecido. Então acho que retomar isso é importante, e imagino que se nossos filhos são cuidados dessa forma eles também vão ter essa memória de afetividade, de suporte, de apoio”, opina Sueli, que participou das atividades.
Inspirada pelo curso, foi realizada uma ação de identificar algumas gestantes em vulnerabilidade social de toda a região do ABCDMRR para orientações em redes de apoio online junto com as doulas da Coletiva Raízes do Parto. Dessa maneira, serão proporcionados, na prática, atendimento e cuidados que estas mulheres e suas famílias necessitam num momento tão importante de suas vidas.
Os encontros aconteceram aos sábados, de 13 de fevereiro a 1 de abril de 2021. As rodas de conversa online, com temáticas pertinentes à gravidez e outras de interesse das participantes, foram voltadas às famílias gestantes ou puérperas em vulnerabilidade social neste momento da pandemia de Covid-19.
As rodas abordam temas como gestação e Covid-19, parto hospitalar e intervenções, plano de parto, preparação para o parto, amamentação, puerpério, cuidados no pós-parto, sexo na gestação, rede de apoio e a importância dos cuidados com o recém-nascido. Com informações adequadas e o suporte necessário neste período, as mães e suas famílias estarão mais preparadas para contribuir com o bom desenvolvimento do bebê.
GERANDO SAÚDE NA MATERNIDADE
Todas as ações fazem parte do projeto Gerando Saúde na Maternidade, do Sesc Santo André, que tem como objetivo a realização de uma programação focada em temas relacionados à saúde da gestante e do bebê.
Além dessas ações, o projeto possui vídeos com obstetras e psicólogas que tratam dos assuntos relacionados ao universo da maternidade e a saúde da mãe de do bebê em sua primeira infância. Os bate-papos estão disponíveis no canal no YouTube do Sesc Santo André. Confira aqui: