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As diferenças que afastam e aproximam
São muitos os sentidos atribuídos ao ABC Paulista. Cada uma destas atribuições identifica a região de uma maneira diferente: lugar de trabalho, lugar de descanso, berço do movimento operário brasileiro, margem da cidade de São Paulo, entre outros. Historicamente, este sentido tem sido dinamizado e variado de tempos em tempos. No que se refere ao teatro, atualmente, a cena do ABC estabelece relações diversas com a cidade de São Paulo: ora se aproximando, ora se afastando. Estas conexões ou desconexões produzem tensões que, muitas vezes, são refletidas nas produções teatrais regionais e têm impacto nas proposições estéticas e políticas.
Partindo desses pressupostos, o projeto Cenas Centrífugas pretende refletir sobre as noções de centro e de margem por meio da promoção do encontro entre grupos teatrais do ABC e da cidade de São Paulo. Nesta primeira edição, foram convidados: a Coletiva Pássaro com Cabeça de Mulher, de Santo André, o Teatro de Torneado, de Ribeirão Pires, e a Cia. Mungunzá, de São Paulo. Com o objetivo de demonstrar se existem conexões estéticas entre os três grupos, o projeto se propõe a apresentar as obras de cada um para que, numa espécie de mostra, possam ser evidenciadas as aproximações e os afastamentos entre as propostas estético-políticas dos coletivos.
A inércia dessas conexões é um convite para o público mergulhar nos bastidores da linguagem teatral visitando os cenários dos espetáculos, que permanecerão montados e abertos à visitação durante todo o período do projeto. Concebida em parceria com o cenógrafo e artista visual Julio Dojcsar, esta instalação pretende convidar as pessoas, familiarizadas ou não com o teatro, a mergulharem nos detalhes deste universo artístico.
A programação acontece de 16 de abril a 19 de maio, no Espaço de Eventos do Sesc Santo André que conta com uma série de espetáculos e atividades que aproximam o público da linguagem do teatro. Além desses encontros, também convidamos os grupos para um bate-papo evidenciando as diferenças que afastam e aproximam as maneiras singulares de se fazer teatro. Confira como foi:
CIA. MUNGUNZÁ
A Cia Mungunzá de Teatro desenvolve há dez anos uma pesquisa focada no teatro contemporâneo, onde a organização, produção e criação artística é executada por um núcleo de 7 artistas que, além das montagens teatrais, também propõem iniciativas socioculturais. Em 2017 construíram e inauguraram o Teatro de Contêiner Mungunzá, espaço cultural, localizado na região da Luz.
COLETIVA PÁSSARO COM CABEÇA DE MULHER
A Coletiva Pássaro com Cabeça de Mulher, fundada em 2015 por mulheres, mães, artistas do ABC, pretende uma criação manifesto em busca da defesa da mulher, da crítica ao patriarcado e à opressão de gênero sempre em relação com as questões de raça e classe. Para tal, lança mão da performatividade e das sonoridades da improvisação instrumental. A cena é espetáculo, intervenção, ato, grito.
TRUPE TEATRO DE TORNEADO
O Teatro de Torneado é uma trupe de artistas que, desde 2005, vem construindo uma importante trajetória de iniciação e formação, recebendo diversas críticas e sendo indicado ao Prêmio Shell 2015 na categoria Inovação. Em sua trajetória estão espetáculos como "Primavera", "Peter em Fúria" e "Do Ensaio para o Baile". Com o passar dos anos, a trupe se aprimorou na construção de fábulas que refletem questões socioculturais.