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Mostra 60/30 destaca conquistas importantes para desenvolvimento do futebol feminino e masculino no Brasil

Exposição apresenta informações sobre atletas de dois momentos cruciais do futebol brasileiro
Exposição apresenta informações sobre atletas de dois momentos cruciais do futebol brasileiro

A seleção masculina de futebol de 1958 foi a que livrou o Brasil da “síndrome de vira-lata” no esporte mais praticado no mundo. A alegoria criada por Nelson Rodrigues em suas crônicas fazia referência à potência do futebol brasileiro, que, quando parecia deslanchar, falhava em partidas decisivas, como foi na derrota para o Uruguai no Maracanã lotado, na final Copa do Mundo de 1950.

Em 58 foi diferente: Pelé “voando” aos 17 anos, Garrincha em grande forma e outros lendários nomes como Bellini, Djalma Santos, Zagallo e Didi venceram a Suécia por 5x2, de virada, e levantaram a Jules Rimet (antigo troféu da Copa do Mundo) pela primeira vez, em solo sueco.

Com essa conquista, celebrada há 60 anos, o futebol masculino passava a ser respeitado internacionalmente, abrindo caminho para mais títulos mundiais, mas a modalidade feminina ainda era vista com muito preconceito. O esporte foi proibido para as mulheres em 1941, pelo abolido Decreto-Lei 3.199. “Às mulheres, não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com a sua natureza”, assinalava o documento.

Para agravar a censura, o extinto Conselho Nacional de Desportos (CND) instruiu os clubes, em 1965, a proibirem as mulheres de treinarem futebol, beisebol, lutas e halterofilismo. A medida só foi revogada em 1979, após muita pressão. “Ainda assim as mulheres jogavam. O futebol feminino existia, mas vivia à margem”, diz a jornalista e pesquisadora do tema Luciane de Castro. As primeiras competições nacionais de futebol feminino começavam a surgir.

Em 1988, há 30 anos, a seleção feminina de futebol do Brasil teve sua primeira convocação oficial. Ela ocorreu para a realização de um torneio internacional na China, em que o Brasil ficou em terceiro lugar. Essa competição foi fundamental para a realização da primeira Copa do Mundo de futebol feminino, em 1991, também na China.

Grandes conquistas que alavancaram as modalidades no país

Enquanto o futebol masculino é um esporte profissional consagrado, o feminino, principalmente no Brasil, ainda sofre para se manter. De qualquer forma, esses dois momentos históricos, um ocorrido há 60 anos, para os homens, e outro há 30 anos, para as mulheres, foram fundamentais para novos momentos do esporte bretão em solo brasileiro.

O Sesc 24 de Maio relembra esses marcos com a mostra 60/30 – Conquistas do Futebol Brasileiro, destacando os principais atletas da final da Copa do Mundo masculina de 1958, e da primeira convocação oficial feminina para o torneiro de 1988. “Eram 18 atletas. Sissi, Michael Jackson, Márcia Honório, a falecida goleira Lica e por aí vai. Tem muita mulher para contar história e fazer lembrar, porque é muito fácil esquecer quem fez alguma coisa pelo esporte”, afirma Castro, que é curadora da mostra.

A exposição está no 8º andar da unidade e fica aberta até o dia 29 de julho, de terça a sábado, das 9h30 às 20h30, e aos domingos e feriados, das 9h30 às 17h30. No andar, também ocorre a transmissão ao vivo dos jogos do Brasil na Copa do Mundo da Rússia em um telão.

Segundo Luciane, foi complicado fazer a curadoria dos materiais das atletas. “Dependi apenas do acervo pessoal delas, como recortes de reportagens que saiam na imprensa e fotos de câmera de rolo”, conta. “Nem a Fifa tem registro decente do torneio feminino de 88. Isso denota a diferença gritante de tratamento entre homens e mulheres que jogam futebol.

Castro aponta Didi, da seleção de 1958, como um dos destaques da mostra. Na final da Copa, o meia-armador, que acabou usando a camisa 6 no torneio, pegou a bola no fundo da rede após o primeiro gol da Suécia, ocorrido aos quatro minutos do primeiro tempo, colocou-a debaixo do braço e disse, com tranquilidade, que o Brasil venceria o jogo. O time brasileiro virou o jogo, com uma goleada por 5x2, e o gesto de confiança do jogador entrou para a história, para além de toda a liderança técnica que exercia em campo.

Segundo a curadora, a atitude do jogador e a vitória no mundial aconteceram num período histórico difícil para o país. “A gente vinha de uma década de 50 com a derrota no Maracanã [na Copa do Mundo do Brasil], derrota em 54 para a Hungria, falecimento do Getúlio (....). O gesto do Didi [por tudo isso] conduz a exposição”, explica.

Luciane de Castro ressalta que o terceiro lugar conquistado pelas mulheres no torneio de 88 foi um ato de resistência, pois elas foram para a competição com uma péssima estrutura para jogar e ainda assim ganharam o bronze. Trinta anos depois, o time feminino nacional já conquistou sete Copas América, três títulos pan-americanos e dois mundiais militares . “Quando falamos de Pelé e Garrincha, parece que já sintetizamos o que é futebol, mas, quando olhamos para a história ofuscada das mulheres nesse esporte, encontramos grandes nomes. Precisamos enaltecer todas elas.”

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