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Arte, Sensibilidade e Poesia para Todos: Cia. da Casa Amarela
Prata da casa: Carlinhos, Drika e Ian. O Sesc Catanduva tem uma longa relação de amizade e admiração por estes artistas catanduvenses. Aliás, não apenas a unidade de Catanduva, mas todas as unidades do Sesc no estado de São Paulo conhecem bem esta família do teatro que compõe a Cia. da Casa Amarela. Durante esses 23 anos de formação, eles já passaram por muitos palcos e espaços do Sesc, propondo espetáculos artísticos carregados de poesia e metáforas, e sempre com extrema sensibilidade, a marca registrada da companhia. Criada em 1995, na cidade de Catanduva, pelos atores Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues, a Cia. da Casa Amarela já conquistou diversos festivais e recebeu inúmeros prêmios, inclusive o Prêmio APCA, da Associação Paulista dos Críticos de Arte e Troféus Mambembe, e já representou o Brasil em festivais internacionais.
Mas qual a história dos atores por trás do grupo de sucesso?
Fomos visitar o espaço da Casa Amarela em Catanduva, para saber mais sobre o trio que tanto encanta gerações. Carlinhos e Drika conheceram-se através do teatro, trabalhavam em ramos completamente diferentes na época, mas ambos tinham interesse pelas artes cênicas. Começaram a namorar e se apresentar juntamente com outros atores amadores. O tempo foi passando, e o relacionamento deles foi ficando sério: entre os dois - e o da dupla pelo teatro. Resolveram então investir de verdade na profissão. Apresentaram-se por um bom tempo em Catanduva, com espetáculos que criavam e executavam, porém depois de alguns anos, chegou a hora de dar mais um passo avante, e lá se foi a dupla para São Paulo, em busca de mais experiência e profissionalização. Era 1999. Queriam novas vivências, mais acesso às novidades, à cultura, e um canal aberto com a efervescência da capital. Durante quatro anos ficaram por lá e conseguiram as experiências que buscavam. Seguindo os planos que tinham, depois da imersão metropolitana, voltaram para Catanduva, escolhendo uma vida menos acelerada, conforme explicam aqui:
Do teatro amador, aos cursos e investimentos na formação, eles chegaram ao teatro profissional. São atores de teatro infantil? Não apenas. São atores de teatro e ponto final. Como Carlinhos nos explicou, “Não é teatro para crianças, é teatro, com trabalho de atores voltado crianças”. Com respeito à elas, sem estereótipos, e sem uma estética usual. Fazem espetáculos para que as crianças saiam do teatro com as sensações que todos nós temos, como eles mesmo explicam aqui:
Reconhecer uma apresentação da Casa Amarela é muito fácil: eles costumam trabalhar temas sobre obras ou personagens globais do universo das artes, evitando leituras óbvias. Contam a vida de pintores, escritores, artistas, cantores, inventores... Um repertório de sonhadores que deixaram suas marcas pelo mundo. Mas é o modo com que a Casa Amarela conta essas histórias que deixa tudo especial: usam sensibilidade e poesia em cada espetáculo. Sobre Carmem Miranda, por exemplo, eles mostram a menina baixinha que teve de enfrentar um universo machista para fazer sucesso e se impor. A Carmem Miranda que todos conhecemos, de balangandãs e sapato plataforma, surge na versão teatral da Casa Amarela somente no finalzinho da apresentação; o público se surpreende, e adora o ponto de vista inusitado.
Apresentam peças sobre personagens como Federico Garcia Lorca, Portinari, Tomie Otake, Santos Dumont, Florbela Espanca, Chagal; e temas que normalmente não são oferecidos ao público infantil, como a guerra, a solidão, a pobreza e a fome. Mas de modo delicado, coerente, sensível. Pensam nos cenários, no figurino, no tipo de iluminação que desejam....e depois saem em busca das parcerias locais necessárias para executá-las. Com isso, trabalham com familiares, amigos e comerciantes locais da cidade, movimentando assim a economia local.
Escolhem os temas a serem tratados por puro encantamento. Drika e Carlinhos precisam de apaixonar por uma obra para poder transmiti-la com veracidade. E a inspiração vem de todo lugar: um livro, um filme, uma viagem... uma música. Cores e músicas são pontos fortes em seus espetáculos. As trilhas sonoras são fundamentais para a companhia, são como uma personagem em cena, como contam no vídeo abaixo:
O respeito com que a dupla trata as crianças, orienta inclusive a organização da rotina diária do filho do casal, o Ian. Um garoto que nasceu e cresceu nas coxias, que respira teatro desde sempre, e que encara o trabalho do ator como algo muito natural e cotidiano. Carismático, sempre com uma sorriso generoso, Ian segue a risca um plano para não faltar à escola, mesmo com apresentações e viagens. Aos seis anos e meio, o menino criou seu primeiro roteiro e estreou no teatro com seus pais, depois de uma viagem à Argentina, em que se encantou com os tangos de Carlos Gardel, chapéus e pinguins. “El dia que me quieras”, nasceu desse modo, da cabeça de uma criança. O enredo conta a história de um casal de pinguins que vive na Patagônia Argentina, uma vida sem mudanças e novidades. Ele é um cantor de tango frustrado, e ela, uma fêmea que sonha com a maternidade. Até que uma nevasca traz um ovo perdido, e tudo muda! Com a canção de Gardel como tema, começam então uma aventura repleta de alegrias, música, e muita sensibilidade.
Nossa conversa com Drika e Carlinhos foi muito rica, cheia de temas interessantes. Nela, aflorou a paixão pelo teatro do trio, a maturidade de um casal que se encontrou no palco, e levam a vida de artistas com total empenho e profissionalismo. No Sesc Catanduva, em julho, para todos que desejam ver de perto o trabalho artístico da Cia. da Casa Amarela, a programação teatral fica toda por conta desses filhos prodígios da cidade. Além de quatro peças do repertório da Casa Amarela: "A lua e o poeta" (sobre Lorca), "A menina na janela"(sobre Cecília Meireles), "Bela flor bela" (sobre Florbela Espanca) e "O Príncipe" (inspirada na obra de Exupéry, o Pequeno Príncipe), eles também estreiam o espetáculo "Um Outro Lugar," que traz ao palco o tema dos recomeços, encontros e desencontros da vida. Teatro que encanta, que enche os olhos e a alma de sentimentos. Para bebês, para crianças, para jovens, adultos e idosos.