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Eu vivo aqui

Trilha Acessível do Sentir | Foto: FotoNativa
Trilha Acessível do Sentir | Foto: FotoNativa
#PraCegoVer #PraTodosVerem Em meio a uma mata fechada, atrás de uma estrutura de madeira coberta por um gradil, uma mulher de cabelos cacheados e curtos, vestida com uma camiseta regata e shorts jeans, olha para baixo, enquanto apoia suas mãos no corrimão. 

 

Se pensarmos no “eu”, seguimos uma viagem em busca de nossa existência, nos deparando com indagações como os constantes “por quê?”, “para quê?”. Muito se tem falado sobre uma busca interior para tentarmos chegar a tais respostas. Com certeza, o nosso íntimo contém os melhores caminhos para muitas descobertas, mas para conhecer com profundidade esse “eu” é preciso ir além e reconhecer também tudo aquilo que nos rodeia. Entender o ambiente em que vivemos, e sentir o outro – não apenas o outro humano, mas as diversas formas e manifestações de vida. 

Podemos não perceber imediatamente, entretanto, sabemos que convivemos com inúmeros seres e que eles estão por toda parte. Por vezes, só constatamos sua presença por meio de suas manifestações coletivas, por exemplo, como ocorre quando um conjunto de algas, pela ação da luz do sol, contribui para produzir o efeito deslumbrante da cor azul esverdeada dos oceanos. Podemos não reparar em sua unidade de vida, mas certamente, quando reunidas e a partir dos efeitos que causam coletivamente, as algas se tornam protagonistas de um dos maiores espetáculos naturais do planeta. Da mesma forma, os fungos que ficam escondidos no chão da floresta, junto às raízes das árvores, ajudam na absorção de nutrientes pelas plantas. Os fungos, que a gente não vê, colaboram com as árvores, que no proporcionam sombra e ar fresco.

Também somos assim. Cada ser é único e, só por isso, já merece ter sua energia vital respeitada e valorizada. Em comunidade, atuamos com maior intensidade, podendo ampliar muitas vezes nossas possibilidades. Não há vida sem o outro. Somos seres interdependentes, ou seja, para sobrevivermos, dependemos uns dos outros. Por essas interações em que todos atuamos é que nos sentimos vivos. É quando nos tornamos parte de um todo, de um ambiente.

Temos consciência de quem somos, que estamos no mundo, mas muitas vezes nos esquecemos que pertencemos a ele, e não o contrário. Neste sentido, podemos aprender com os povos originários, entre eles nossos vizinhos Guarani, da Terra Indígena do Ribeirão Silveira, que ensinam que não apenas habitamos o mundo, mas dele somos parte. Podemos ir adiante: além de ter um lar e perceber-se parte dessa morada, para dizer “eu vivo aqui”, é preciso sentir-se no momento presente, estar conectado, saber da importância de cada ser como agente transformador para a manutenção de um todo.

“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Essas são palavras sábias escritas por Antoine Lavoisier (químico francês, considerado o "pai da química moderna"), que nunca se perderão no tempo. Vivemos uma época de grandes transformações e, também por isso, é hora de resgatarmos a natureza que há em nós.  

A Mata Atlântica é considerada um dos biomas de maior biodiversidade do planeta, constituída por complexos ecossistemas que garantem a vida de inúmeras espécies, incluindo nós, seres humanos. Entre esses diversos ecossistemas podemos destacar a Floresta de Restinga, encontrada entre as primeiras vegetações à beira-mar, que se estende até a encosta da serra. 

No meio da cidade de Bertioga, fragmentos dessa floresta são mantidos pela Reserva Natural Sesc Bertioga. Esse ambiente é como uma casa, um grande lar onde vivem orquídeas, palmeiras juçara, muitos tipos de abelhas, bichos-preguiça, veados-catingueiros, teiús, tamanduás-de-colete, muitas aves – algumas em extinção, como o macuco – morcegos polinizadores e insetos quase imperceptíveis, como o bicho-pau, entre muitas outras formas devida. São 600 mil m² de área verde rodeada por casas e outras construções humanas que foram transformando a paisagem da Restinga ao longo do tempo.

 

#PraCegoVer #PraTodosVerem A imagem destaca ao centro a Reserva Natural Sesc Bertioga vista do alto, uma floresta de mata fechada, margeada por casas e outras construções. À sua frente, logo após um conjunto de casas, está o oceano.

 

Entendendo que a crise ambiental emerge das profundezas do esquecimento de que também somos natureza, a Reserva Natural Sesc Bertioga – local de resistência à lógica predominante de urbanização – se apresenta como um convite ao convívio com a floresta, abrindo espaço para uma conexão com a nossa própria natureza. 

Sentir, depois da chuva, o cheiro da serapilheira (folhas, sementes e galhos acumulados no chão da floresta). Ouvir as aves no início da manhã, os grilos no fim da tarde e o coaxar das pererecas ao chegar da noite. Perceber que o tempo da vida na floresta é diferente do tempo da vida na cidade. Aprender com esse tempo. Pense: não é comum, depois de um momento imersos numa floresta, ou mesmo em algum parque, nos desacelerarmos? Você se lembra da última vez que isso aconteceu contigo? Isso ocorre porque assumimos novamente nossa condição animal que nos integra, acolhe e é acolhida pelo meio natural. Essa sensação, sabe? É de nossa natureza. 

As ações do Sesc São Paulo mantêm forte compromisso com a conservação da natureza, a educação para sustentabilidade, a diversidade cultural e o diálogo entre saberes científicos, populares e tradicionais. A intencionalidade educativa traz às áreas verdes o papel de protagonismo, e assim passam a ser chamadas de “áreas verdes educadoras”, pois possuem e desempenham funções ecológicas, paisagísticas e sociais. Isso porque estas áreas são espaços de descobertas, relações e reflexões – individuais e coletivas.

Por meio de suas ações educativas com vivências, trilhas interpretativas, cursos, debates, bate-papos e oficinas, a Reserva Natural Sesc Bertioga provoca a criação de uma identidade afetiva com o local onde vivemos e, a partir disso, estimula a percepção das áreas naturais como um lugar de entrelaçar de vidas, com o estabelecimento de vínculos profundos com a paisagem da qual fazemos parte e a incorporação de atitudes pautadas pelo sentimento de cuidado com o coletivo.

Neste lugar podemos desenvolver um olhar a partir das relações e diferenças entre seres vivos e não vivos, orgânicos e não orgânicos, que ali habitam, ao encontro da sociobiodiversidade. É onde nos inspiramos para a construção de outras sociedades possíveis.

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Esta matéria dá início ao lançamento dos dez vídeos da série “Eu vivo aqui”, que convida você a conhecer um pouco sobre a biodiversidade das áreas da Reserva Natural Sesc Bertioga.

Cada semana será lançando um vídeo que, de maneira lúdica, educativa e inclusiva (já que os vídeos também poderão ser assistidos com legendas e libras – língua brasileira de sinais – ou com audiodescrição), traz os agentes de educação ambiental que atuam na Reserva compartilhando informações e curiosidades sobre elementos da natureza, pessoas, espécies da fauna e flora e sua relação com outros seres que vivem nessa floresta e em seus arredores.

Assista aos episódios:
 

 

Reserva Natural Sesc Bertioga.

Eu vivo aqui.