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Diálogos possíveis e acessíveis: repensando e ressignificando práticas

Escola de Libras <br>Foto: Lúcio Érico
Escola de Libras
Foto: Lúcio Érico

Por Ruth Santos*

Segundo o último censo demográfico do IBGE de 2010, 45 milhões de pessoas no Brasil possuem algum tipo de deficiência. Esses expressivos números representam cerca de 24% da população, que declararam ter algum tipo de deficiência ou algum tipo de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir).

A falta de estatísticas sobre pessoas com deficiência contribui para sua invisibilidade, bem como, representa um obstáculo para o planejamento e implementação de políticas de desenvolvimento para melhoria da qualidade de vida e pelo exercício da cidadania e protagonismo por parte das pessoas com deficiência.

Esta forma não voluntária e naturalizada de asilamento ou ilhamento é fruto de nossa sociedade capacitista, na qual por muito tempo a convivência de pessoas com deficiência esteve, e ainda está, restrita ao ambiente familiar e a núcleos reduzidos de pessoas no campo da reabilitação e do cuidado.

Quando asiladas ou ilhadas em casa ou em instituições especializadas, elas estão impedidas de se conectarem e se apropriarem das esferas sociais e políticas, não exercendo seu pertencimento comunitário, não se vinculando às identidades culturais de seu tempo e não sendo vistas e respeitadas como cidadãs, com potencial ativo e transformador.

Este modo de relação foi considerado suficiente e cômodo pela sociedade, ignorando que uma pessoa com deficiência tem em seu horizonte outras dimensões (importantes a qualquer pessoa), como o direito à educação, ao trabalho, ao lazer e à cultura, entre outros, dificultando e até impedindo a plena participação da pessoa com deficiência na vida pública e coletiva, justamente pela grande presença de barreiras a sua autonomia e mobilidade, inviabilizando o exercício de sua cidadania.
 

Monológo Ícaro, no Sesc Guarulhos. Foto: Lúcio Érico
 

A inclusão social é fundamental para a garantia dos direitos e para o exercício da cidadania das pessoas com deficiência. Contudo, para que a inclusão exista de fato é preciso eliminar as diversas barreiras existentes. Segundo a Lei Brasileira de Inclusão (Lei n° 13.146), as barreiras constituem ”qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros”. Ou seja, em seu cotidiano as pessoas com deficiência se deparam com barreiras urbanísticas; arquitetônicas; nos transportes; nas comunicações e na informação; atitudinais e tecnológicas.

A fim de minimizar algumas barreiras, percebe-se que nos últimos anos a oferta de acessibilidade se tornou evidente em alguns espaços culturais, seja por maior demanda desta população, seja por maior compreensão das instituições sobre a essencial universalização de acesso as suas atividades. A acessibilização de informações, conteúdos, experiências e serviços aponta para o interesse específico da população com deficiência, mas seus benefícios se estendem diretamente a quaisquer pessoas, com e sem deficiências.

No Brasil, São Paulo é um estado que tem se destacado por ter espaços culturais com programações e eventos com oferta de recursos de acessibilidade ao público. Somente no estado de São Paulo, são quase 9 milhões de pessoas com deficiência, o que representa perto de um quarto da população da região. Diminuir as barreiras encontradas por esse público para o acesso e fruição aos bens culturais e educacionais tem sido um dos desafios dos últimos anos e cada vez mais espaços têm se mostrado sensíveis a essa necessidade.
 

Skate acessível, no Sesc Guarulhos. Foto: Alexandre Leopoldino
 

A fim de contribuir com esse cenário inclusivo, o Sesc Guarulhos tem realizado mensalmente, desde sua inauguração, diversas atividades pautadas numa educação para acessibilidade, se debruçando e realizando em sua programação uma construção pautada num fazer com, para e sobre o universo da acessibilidade e das pessoas com deficiência, fazendo valer o lema "nada sobre nós, sem nós". As propostas contam com atividades com recursos de acessibilidade, cursos, oficinas, debates e/ou espetáculos que abordem sobre a temática com a construção de visibilidade e protagonismo por parte das pessoas com deficiência, com vistas ao estabelecimento de relação e vínculo respeitosos e saudável entre as pessoas com e sem deficiência.

Diante desse cenário de pandemia e, consequentemente, isolamento social e, a fim de darmos continuidade às ações realizadas, propomos a partir do mês de julho um projeto para repensarmos e ressignificarmos nossas práticas. O projeto “Diálogos Acessíveis” se propõe a abordar temas relacionados às relações entre acessibilidade a pessoas com deficiência, cidadania e direitos culturais dessa população, manifestadas na diminuição de barreiras comportamentais, comunicacionais, culturais e físicas para a sua participação plena em sociedade.  Consiste num conjunto de ações no campo da educação não formal, organizado em torno de temas relacionados aos campos das ciências, das humanidades e da produção e difusão multimídia de saberes.  A partir de práticas que reúnam conteúdo dos saberes científicos e empíricos, tradicionais e contemporâneos, abrangendo diferentes áreas do conhecimento, com intuito de estimular a reflexão acerca das relações humanas e as diferentes realidades, capazes de sensibilizar, informar e provocar mudanças a partir do contato com o conhecimento e seu potencial transformador. Por meio de um ciclo de encontros virtuais, as atividades ocorrerão sob diversos formatos, destacando os encontros formativos com enfoque teórico-prático; as atividades em rede organizadas a partir de temas norteadores; e o fomento à apropriação regular da mediação acessível, visando ao aprimoramento das ferramentas que possibilitam paridade no uso de serviços e conteúdos.
 

Confira a programação do projeto Diálogos Acessíveis:
 

Live “Deficiência visual e protagonismo social”
Com Cíntia Vieira Oton e Marco Oton
(Tradução em Libras) - Disponível aqui

Curso “Introdução a Libras”
Com Marcelo Guti - Instituto Mãos que Cantam
Acompanhe as inscrições nas redes sociais do Sesc Guarulhos.

Live “Áudio descrição como ferramenta de inclusão sociocultural”
Com Araçari Teixeira - Projeto Clarear Guarulhos
Data a confirmar - (Tradução em Libras, audiodescrição e legenda descritiva)

Live “Desafios de uma criança autista e seus familiares em períodos de quarentena”
Com Alexandra Oniki
Data a confirmar - (Tradução em Libras, audiodescrição e legenda descritiva)

Live “Acessibilidade, ferramentas e tecnologias assistivas no campo da educação”
Com Ivan de Oliveira Freitas, Carla Mauch e Luis Henrique Mauch
Data a confirmar - (Tradução em Libras, audiodescrição e legenda descritiva)

Live “Acessibilidade nos órgãos de saúde”
Com Karina Moyano Amorim
Data a confirmar - (Tradução em Libras, audiodescrição e legenda descritiva)

Acompanhe a programação completa com datas e horários no Facebook e no Instagram do Sesc Guarulhos.


*Ruth Santos é Supervisora do Núcleo Socioeducativo do Sesc Guarulhos