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Quando uma mulher negra avança ninguém fica para trás!
Por Marcha das Mulheres Negras de São Paulo*
Estamos em marcha neste 25 de julho! A data foi instituída em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas na República Dominicana, como o Dia da Internacional da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha. Em 2014, a ex-presidenta Dilma Rousseff decretou também o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra na mesma data, em referência essa grande liderança quilombola do século XVIII. Estrategista militar, Tereza liderou o quilombo de Quariterê (1730-1795) desde sua formação, até 1770 quando foi presa e executada pelo estado.
Histórias como a de Tereza e de tantas outras mulheres negras e indígenas nos lembram da necessidade de nos organizar e desenvolver estratégias para sobreviver e resistir ao racismo que estrutura a sociedade brasileira. Por isso, continuamos em marcha. Neste ano, por conta da pandemia, realizaremos nossa quinta marcha de forma virtual – mas não menos potente. Mais uma vez, amplificamos nossas vozes contra o racismo, o machismo e a lesbotransfobia, entre outras formas de opressão. Juntas, organizadas em marcha, lutamos contra as violências as quais nós, mulheres negras, indígenas, periféricas, transexuais e travestis estamos expostas diariamente.
A pandemia escancarou as desigualdades econômicas, sociais, raciais e de gênero. O racismo estrutural impõe à população negra a maior vulnerabilidade diante da Covid-19, pois é esta parcela da população que segue sem acesso aos direitos básicos de saúde, saneamento, educação e moradia. Enquanto as classes média e alta fazem home office com direitos assegurados, milhares de trabalhadoras e trabalhadores negros, pobres e periféricos não podem priorizar a saúde e proteger seus familiares. Crianças e jovens negras, pobres e periféricas foram profundamente afetadas pela falta de condições e equipamentos básicos para continuar estudando.
São as mulheres negras e pobres, trabalhadoras informais, que continuam nas ruas, batalhando pelo sustento da família, e assumem os cuidados com a casa, com as crianças, com os idosos e doentes próximos. Além disso, enfrentam o aumento da violência doméstica durante a pandemia. O autoritarismo e o racismo institucional são referendados pela política genocida do Estado, que investe toda sua força policial em intervenções em favelas e comunidades, exterminando a nossa juventude.
O desafio de nos manter vivas se tornou ainda mais difícil. Mas seguimos construindo redes de apoio coletivo e fortalecendo nossos laços com a ancestralidade, na busca constante de força para continuar.
Nem cárcere, nem tiro, nem Covid: corpos negros vivos! Mulheres negras e indígenas! Por nós, por todas nós, pelo Bem Viver!
* Marcha das Mulheres Negras de São Paulo - A Marcha das Mulheres Negras de São Paulo (MMNSP) é um espaço plural e diversificado, multi religioso, não governamental e multi partidário, que articula de forma descentralizada, e trabalha para o fortalecimento do campo democrático popular buscando de forma permanente estabelecer alianças e engajamento nas lutas sociais, fortalecendo o caráter contra-hegemônico da luta contra o racismo, patriarcalismo, da lesbofobia, bifobia, transfobia, classismo, e todas as formas de preconceito e discriminação.
Em celebração ao marco e integrando a ação Do 13 ao 20 (Re)Existência do Povo Negro, ação institucional do Sesc SP, que propõe diálogos e ações sobre a condição social da população negra, acontece o bate-papo virtual Marcha das Mulheres Negras em 5 anos: Perspectivas de futuro, no dia 25/07 as 17h30 com transmissão ao vivo na página do Facebook do Sesc Itaquera.
Convidadas
Maria José Menezes - bióloga, ativista negra, feminista, membro da Marcha das Mulheres Negras de SP, da Mahin Mulheres Negras e da Coalizão Negra por Direitos.
Regina Lucia dos Santos - geógrafa, especialista em educação para as relações étnico raciais, educadora popular, coordenadora estadual do MNU SP e colaboradora da Amparar - Associação de Amigos e Familiares de Presos. Integra também a Marcha das Mulheres Negras de SP.
Ducineia Cardoso, a Nega Duda - referência do samba de roda baiano na capital paulista. O samba de roda traz referências do culto aos orixás e caboclos,à capoeira e à comida de azeite. Além de Sambadeira ela é cantora, compositora, makota, escritora e cozinheira.
Mediação : Juliana Gonçalves - mestranda em Estudos Culturais (USP), é jornalista formada pela Universidade Mackenzie. Ativista dos direitos humanos com foco em raça e gênero, integra a Marcha das Mulheres Negras/SP e a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de São Paulo (Cojira). Atualmente coordena a articulação política da Mandata Quilombo de Erica Malunguinho na Assembleia Legislativa de SP (PSOL). Mulher negra, mãe, feminista, periférica, afrolatina, quiçá, livre.
Intérpretes de Libras: Érika Mota e Vanessa Santosuturo
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Acompanhe a programação da ação do Do 13 ao 20 - (Re)Existência do Povo Negro, que faz alusão aos marcos do 13 de maio e do 20 de novembro, propõe diálogos sobre a condição social da população negra e objetiva reiterar os valores institucionais, bem como o reconhecimento das lutas, conquistas, manifestações e realidades do povo negro.
Clique aqui para saber mais sobre o assunto, ou acesse: sescsp.org.br/do13ao20