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Como tornar a escuta ativa e qualitativa parte da rotina durante o período de isolamento social?

Crédito: Freepik.com
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Por Mayara Farias de Carvalho*

Aqueles que convivem com crianças em casa ou na vizinhança estão se deparando, ao longo do período de distanciamento social imposto pela pandemia de Covid-19, com sons vibrantes, altos, de atrito ou gritos, e outros tantos sons de vida essenciais para os pequenos, que têm a brincadeira, o toque e os afetos como forma de existir.

Nesse sentido, e dentro do contexto de celebração ao Dia Mundial da Escuta, em 18 de julho, ampliamos nossa discussão para a escuta ativa e qualitativa das crianças, em um movimento de percepção tão importante em meio ao isolamento.

Para abrir o debate, você pode assistir abaixo a um bate-papo que a equipe de educadores do Programa Curumim do Sesc Vila Mariana produziu. No vídeo: William Araújo Torrico, Reinaldo Ferreira da Silva e eu.

Sem a escola, ambiente de socialização das crianças com seus pares, e a oportunidade de brincarem em diferentes espaços, com diferentes pessoas, as crianças se depararam com uma nova forma de existir.

Aquelas cujas famílias dispõem de imóveis maiores na praia ou no campo têm em seu isolamento o consolo das áreas externas, com piscinas e/ou plantas, talvez até com árvores. Outras precisam usar mais a imaginação para transformar suas salas em praias, parques, tanques de areia, escorregadores e balanços. Em ambos os contextos, o ponto de convergência entre todas é: as únicas pessoas com as quais elas têm tido contato e oportunidade de brincar e conversar são os familiares.

Em meio a todas as necessidades de trabalho e manutenção da casa e suas próprias angústias, convidamos os adultos que compartilham a casa com crianças (mãe, pai, cuidadores) a refletirem sobre o quanto a escuta atenta dessas crianças tem acontecido, e se estão sendo criados espaços e momentos de trocas com a qualidade necessária para compreender as angústias das crianças, os anseios e os medos.

Esse tipo de escuta somente acontece quando nos despimos de lugares comuns e olhamos para as crianças como iguais nos direitos e na importância. Dividindo com elas o que sentimos, sejam quais forem os sentimentos, garantimos mais segurança para que também nos digam o que sentem, compreendendo o que é raiva, medo, angústia, ansiedade e como agir diante desse sentir.

Como será para elas, por exemplo, voltar ao convívio social sem que possam tocar umas nas outras? Como construir novas formas de afetos para além do toque?

Escutá-las inclui ler seus gestos, posturas, olhares e perguntar com verdadeira abertura e desejo de saber o que tem acontecido com elas, sem deixá-las isoladas também em si mesmas. A escuta atenta perpassa a compreensão e a leitura de sentimentos. Não por acaso, as pesquisas no campo da terapia por meio da música têm encontrado diversos caminhos e possibilidades de tratamentos psíquicos. Determinadas frequências e composições sonoras podem gerar reações e conexões em diversas áreas do cérebro. Por que não, então, reservar tempo para ouvir música, tocar, cantar e dançar junto às crianças, em um pacto de conexão?

 

*Mayara Farias de Carvalho Atua como técnica em programação no Núcleo Socioeducativo do Sesc Vila Mariana. É graduada e licenciada em literaturas e línguas Portuguesa e Alemã pela USP, estudou ensino de Alemão como língua estrangeira e teoria literária pelo Instituto Herder, Universidade de Lepizig, na Alemanha. Possui pós-graduação em educação bilíngue para surdos pelo Instituto Seli. Estudou a área de desenvolvimento humano, educação e psicanálise em Vigotsky, Wallon e Lacan pela FE-USP. Pesquisa recursos educativos para o ensino de pessoas com deficiências.

 

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