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Cartografia de boxe e basquete no centro de São Paulo

Aquecimento do Enduro a pé 2020 no Sesc Carmo. Foto: Tiago Lima
Aquecimento do Enduro a pé 2020 no Sesc Carmo. Foto: Tiago Lima

Para celebrar o aniversário de São Paulo, Sesc Carmo e Sesc Parque Dom Pedro todo ano se unem para organizar uma prova de enduro a pé pelo centro da cidade. Nesse ano de 2020, com inspiração nas modalidades esportivas do Sesc Verão, boxe e basquete ocuparam o lugar de honra da competição. A memória desses dois esportes habita espaços que a gente nem imagina!

Para quem não sabe, o Enduro a Pé é uma competição de regularidade. Não necessariamente a equipe que faz a prova mais rápido é a vencedora, mas sim aquela que tem mais pontos acumulados nos postos de controle. Por exemplo, chegar um segundo antes desconta 2 pontos, enquanto chegar um segundo depois, desconta 1 ponto. O trajeto é pensado pela organização e a navegação das equipes é feita através de planilhas que indicam velocidade média, distância e referências visuais.

Em 2020, o mapa e os pontos de interesse do roteiro do Enduro a Pé foram pensados pelo pessoal do Boxe Autônomo, um coletivo que desde 2015 atua em ocupações e espaços públicos da cidade, propagando a ideia do esporte como direito social. Com boxeadores de diferentes níveis e formações, o coletivo também conta com historiadores (Breno Macedo e Aira Bonfim) que recuperaram a história do esporte no centro de São Paulo.

Desde princípios do século XX, o centro da cidade tinha uma pujança de esportes, com a presença de modalidades trazidas por pessoas de diferentes regiões do globo terrestre. O basquetebol, por exemplo, trazido pelo nova-iorquino August Shaw e contratado pela Universidade Mackenzie em 1894, dividiu por muito tempo as atenções com o futebol. Já o boxe, se não sabemos de onde veio e por quem foi trazido, tem uma natureza diferente: adaptou-se ao espetáculo na capital cosmopolita: teatros, circos, cassinos, clubes de futebol, cinemas, pavilhões, rinques de patinação e frontões de luta recebiam boxeadores para seus duelos.

No mapa, é possível ver esses pontos de interesse destacados. Do Parque Dom Pedro II à República, o esporte e o centro da cidade se misturam em muitos momentos, mesmo que não seja sempre visível pelas construções e trânsitos de São Paulo.

Mapa do Enduro a Pé de 2020 feito pelo Boxe Autônomo

01 - Academia Bandeirante - Parque Dom Pedro II, 724

No auge do cenário da segunda metade da década de 1940, a academia recebeu a equipe bem treinada do A. A. Guarani, do técnico italiano, Ruta. Permaneceu nesse endereço até a década de 1950 quando mudou-se para o bairro do Bixiga.

02 - Academia Bandeirante II - R. Genebra, 170

Segundo endereço da academia, depois de sair do D. Pedro II. A equipe do italiano Ruta destacou-se em segundo lugar na Forja dos Campeões durante a década de 1940. Ruta nesse período foi árbitro e um dirigente ativo da Federação Paulista de Boxe até começar a dedicar-se as “marmeladas”, como eram chamados os combates de Lutas Livre na época.

03 - Federação Paulista de Boxe - Av. Nove de Julho, 40

Endereço atual da federação mais antiga em atividade na cidade. A FPB é responsável pela promoção da Forja dos Campeões.

04 - Pavilhão Queirolo - Circo Irmãos Queirolo

Conhecido como “Madison Square Paulistano” porque foi o local que mais recebeu programações de boxe em São Paulo entre 1928 e 1930.

05 - Teatro Municipal de São Paulo - Praça Ramos De Azevedo, s/n

A fachada do Teatro Municipal por vezes foi cenário de lutas de boxe de torneios promovidos pela Federação Paulista de Boxe na década de 1990.

Rumo à Praça Ramos. Foto: Tiago Lima

06 - Internacional Boxing Club - Rua Dom Francisco de Sousa, 12

Academia atuante na primeira fase do boxe paulista.

07 - Academia da Guarda Civil - R. Brig. Tobias 

Sob o viaduto Santa Ifigênia, foi o local que mais recebeu programas de boxe da Gazeta Esportiva na década de 1940.

08 - Academia Caverzasio - R. do Seminário, 9

Academia do renomado mestre Caverzasio, ficou conhecida por preparar pupilos lutadores para diferentes campeonatos da cidade na década de 1930. Anos mais tarde, sob o comando de Kid Jofre, o futuro campeão mundial Eder Jofre nascia nesse endereço no ano de 1936.

09 - Academia Brasileira - R. Santa Ifigênia, 173

Também conhecida como Academia Paulista, o antigo ginásio foi o endereço posteriormente ocupado pelo treinador Kid Jofre, pai de Eder Jofre, já em parceria com o clube São Paulo F.C., já na década de 1950.

10 - Academia Kid Pratt

Academia atuante no cenário do Boxe até o início da década de 1930. Depois desse período a família Pratt mudou-se para o cenário pugilístico carioca.

11 - Frontão do Braz - Av. Rangel Pestana

Conhecido ringue de encontros pugilísticos das décadas de 1920 e 1930.

12 - Paissandu - Academia Paulista - Largo do Paissandu

A região do Largo do Paissandu foi o novo endereço da academia dirigida por Kid Jofre, com o auxílio do pugilista Waldemar Zumbano, no início da década de 1940.

Largo do Paissandu. Foto: Tiago Lima

13 - Café dos Artistas - R. Dom José de Barros

Local de encontro entre produtores de espetáculos, artistas e esportistas. O Café do Centro e o Café Juca Pato, da família de Jacob Nahum, foi o cenário das principais contratações internacionais de boxeadores realizadas pelo comerciante já na década de 1940.

14 - Theatro Polytheama - Av. São João, 34

Local das primeiras exibições de boxe na cidade de São Paulo.

15 - Frontão da Boa Vista - R. Boa Vista, 45

Local presenciou os primeiros encontros de boxe na cidade de São Paulo.

16 - Stadium Paulista - R. Líbero Badaró, 173

Antes de se mudar para o Largo do Arouche, o Stadium Paulista recepcionou exibições de luta na Líbero Badaró (1918).

17 - Largo do Arouche - Stadium Paulista/Rink Guarany - Largo do Arouche, 270

O local recebeu programações de boxe entre 1933 e 1934. Entre bailes dançantes e de carnaval, o local também apresentava hockey e patinação.

18 - Theatro Cassino - R. Dom José de Barros, 8

Um dos primeiros ringues de programação de boxe na cidade.

19 - Escola Estadual São Paulo - Av. do Estado, 52524

Escola Estadual de São Paulo, originalmente conhecida como Gymnásio do Estado de São Paulo, é uma escola pública fundada em 1894 e administrada pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Localizada hoje no Parque Dom Pedro II, ela divide o espaço com a Fundação Catavento e um complexo espaço de lazer com pistas de skate e quadras poliesportivas.

20 - Praça Rotary - Magic Minas - R. Maj. Sertório, 524-620 

Hostilizadas pelo frequentadores homens da quadra pública de basquete da Praça Rotary, o Magic Minas surgiu como uma ocupação feminista de protesto. Com o reforço da ex-atleta Magic Paula, o time amador de garotas fez barulho e reivindicou o local para a prática feminina desse esporte em 2016.

Praça Rotary. Foto: Tiago Lima

21 - Universidade Presbiteriana Mackenzie - R. da Consolação, 930 

Inventado em 1891, o basquete chega ao Brasil em 1894, nas bagagens do nova-iorquino, August Shaw, formado em História da Arte, em Yale, e contratado naquele ano pela Universidade Mackenzie. Infelizmente o novo esporte não agradou muito na época e deslanchou apenas 3 décadas mais tarde.

22 - ACM Centro - R. Nestor Pestana, 147

O basquete foi criado por James Naismith, professor da YMCA em Springfield (Massachusetts, EUA), em 1891. A primeira sede própria da ACM São Paulo foi inaugurada na Nestor Pestana em 1956 e desde então o local forçou-se como um local da prática do basquetebol.

23 - Sesc Consolação - R. Dr. Vila Nova, 245

Carmo de Sousa, mais conhecido como “Rosa Branca” foi um importante jogador de basquete brasileiro, bicampeão mundial e decacampeão brasileiro. Reconhecido como um dos mais versáteis e singulares jogadores de basquete da geração de ouro (1950 e 1960), por um longo tempo esteve atuante como instrutor de basquetebol no Sesc Consolação.

Encerramento do Enduro a pé 2020 no Sesc Parque Dom Pedro II. Foto: Tiago Lima

Por mais um ano, o Enduro a pé foi uma oportunidade para conhecer a cidade, não só por suas ruas, praças e avenidas, mas também pelas histórias que o espaço carrega e que às vezes não é visível. Os competidores ganharam pontos e medalhas, todo mundo trouxe alegria e disposição e o legado é um conhecimento que alia prática esportiva e memória do esporte. No fim, a vitória é geral!