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Lucas Santtana mostra suas diversas faces no Sesc Vila Mariana
A versatilidade do músico Lucas Santtana nos faz imaginar como ele arranja tempo para fazer tudo. Além de se dedicar a seus projetos solo, Lucas também se desdobra no papel de produtor musical para outros artistas e para espetáculos, em posições que vão de participação como cantor a criador de trilhas originais.
No Sesc Vila Mariana, ele faz show (dia 17/01) e uma audição do próprio disco, com bate-papo (dia 21/01). Sobre o repertório do trabalho, que traz uma sonoridade um tanto melancólica, Lucas conta que buscou encontrar e abarcar sentimentos que sabia que não eram só dele, mas de muitas pessoas. “Esse disco é uma forma de acolhimento em relação a tudo que estamos vivendo”, pontua. E o título desse trabalho, O céu é velho há muito tempo, imprime a ele um tom otimista, com a “ideia de que as coisas são cíclicas e que, portanto, se transformarão novamente”.
Recentemente, Lucas executou também diversos outros projetos no meio musical, que se somam ao seu trabalho autoral e revelam um pouco da versatilidade do artista. Só para citar alguns: ele integrou o repertório do disco ft, de Jaloo, assinou a trilha sonora original do espetáculo teatral Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante, do Grupo 3 de Teatro, e produziu o disco Canjerê, da cantora Luzia.
Dois dias no Vila, explorando O Céu É Velho Há Muito Tempo
Nesta apresentação no Sesc Vila Mariana, Lucas Santtana mostra o repertório do disco O céu é velho há muito tempo. Para inovar no show voz e violão, segundo ele escolhido por ser “um formato supostamente anacrônico”, veio a inspiração do espetáculo mais recente de David Byrne, onde todo o som é enviado sem fios (wireless), com o palco “vazio”. Mas por que utilizar essa novidade? “Por ele não usar cabos, nem fios, e isso dar uma mobilidade cênica para o espetáculo”, explica. “Achei o show dele uma virada de página na história dos shows”.
Para agregar ainda mais dramaticidade a essa ideia de palco sem equipamentos, Lucas convidou a iluminadora Ale Domingues para estar ao lado dele. Como num estúdio de cinema, ela cria a iluminação para cada música, usando um set móvel de luzes. Imaginou aí esse espetáculo de som e luz? Pois agora é hora de ver tudo se desenrolar de verdade, no palco do Teatro Antunes Filho, no Sesc Vila Mariana, dia 17 de janeiro, às 21h. E quem quiser imergir ainda mais no trabalho do Lucas não pode perder também a audição do disco que será realizada no dia 21, às 20h, também no Teatro.
Abaixo, leia a entrevista que fizemos com ele:
EOnline: Como é para você desempenhar papéis diferentes dentro da música, como produtor, colaborador e compositor, e acabar se enxergando em tantas outras obras, mesmo que muitas vezes o público nem saiba do seu envolvimento?
Eu decidi ser músico aos 12 anos de idade, porque minha mãe me dava vinis de presente e era um enorme prazer chegar da escola, colocar os vinis e deitar no chão do quarto para ouvi-los. Ficava muito emocionado com as emoções que eles me traziam e decidi que queira ficar perto daquela magia a minha vida toda. Nem tocava ainda, muito menos sabia que iria compor e cantar. Então, tudo que envolve som me encanta e estimula, seja trilha, produção, show etc. Meu lema de vida é: SOM SEMPRE!
EOnline: Como esse perfil multitarefa afeta sua produção musical autoral?
Acho que eles conversam e um irriga o outro. Às vezes você chega a ideias, fazendo uma trilha ou produzindo o disco de outra pessoa, que você não chegaria no seu espectro autoral, porque são demandas que vem de fora, de outra pessoa, outras cabeças, sensibilidades. E o contrário também. Às vezes ideias que você já usou no seu disco servem em uma trilha, por exemplo.
EOnline: Para 2020, tem alguma meta de se envolver em um novo tipo de projeto, algo que ainda não experimentou como artista?
Gostaria de ter uma banda, algo que nunca tive na vida. Sempre fui um artista solo. Esse projeto já foi iniciado com o Gilberto Monte em 2018. Vamos ver se esse ano ele vem à tona.
EOnline: Nos últimos tempos, vimos você se envolver com nomes muito fortes da nova geração da música e da cena independente, como Jaloo, Linn da Quebrada e Duda Beat. Já tem alguma nova parceria planejada?
Ainda não, mas com certeza quero fazer outras parcerias esse ano.
EOnline: Como é para você essa troca com novos artistas?
Maravilhoso. Aprendo um monte com eles. É outra maneira de pensar música, fora que eles dominam essa comunicação via redes sociais com seus públicos, e isso é muito natural neles. E o mais importante é que eles trazem novas questões para a música popular.
EOnline: Por outro lado, você também está envolvido e tem a influência da geração anterior à sua, da qual fazem parte seu pai Roberto SantÁna, o primo do seu pai Tom Zé, e Caetano, com quem você teve bastante contato. Como é se enxergar nesse contexto e poder conviver com gerações tão diferentes de músicos?
Uma sorte tremenda. A história da minha família é muito ligada à música popular. Dorival Caymmi é padrinho do meu irmão. Tive muitas histórias com ele e com Caetano. Toquei 3 anos na banda do Gilberto Gil. Tom Zé, uma das minhas maiores referências, é meu tio. Enfim, música é algo atemporal, é um drible na morte. Quando escuto a voz de Dorival, ele está vivo ali na minha casa, sendo companhia dentro de casa.