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A mulher que trocou as sapatilhas por anilhas
O Sesc Catanduva recebeu a visita da atleta de Levantamento de Peso Olímpico (LPO), Valeria Gonzalez Dominato durante uma semana, na programação do Sesc Verão. É dela a quinta colocação no Campeonato Mundial Master de levantamento de peso olímpico, em 2019. Val, como é chamada pelos amigos, causa admiração e surpresa. Longe da imagem do homem todo musculoso e grande, que geralmente é associada ao halterofilismo, ela é uma mulher, é feminina, é pequena e leve (pesa cerca de 55 quilos). Mas não se engane: ela é forte, muito forte mesmo; levanta 125 quilos no total! Segundo as regras da modalidade, está na categoria master, na faixa de 40 anos a 44 anos. Quando se move, é um feixe único de músculos, extremamente determinada e focada no que faz. Seu tom de voz e olhar mostram bem essa tenacidade. Enfrentá-la em uma competição, literalmente, é para os fortes.
Porém, nessa sua força, se esconde a graça e a leveza dos movimentos; ela fez por muito tempo balé contemporâneo, pratica assiduamente pilates. Quando faz seu treino, é como assistir ao manual de posturas, tamanha precisão e elasticidade corporal. Fora o futebol e o rugby, que ela tentou sem muito sucesso, sempre foi disposta a experimentar outras modalidades. Sua paixão é pelo movimento, pela capacidade do corpo em ser treinado para chegar a um resultado. Para quem acha que LPO lesiona, que pode ser prejudicial, saiba que o esporte é considerado um dos mais seguros para a saúde do corpo.
Valeria conta que seu objetivo é quebrar paradigmas e mostrar que qualquer um pode sim ser um atleta de LPO, que com treino adequado e preparo físico, o levantamento de peso inclusive ajuda a corrigir posturas e traz benefícios à saúde, inclusive a dos idosos. Aliás, ela trabalha em seu CT em São Carlos com turmas de alunos que necessitam de reabilitação, pessoas com sérias lesões, que busca no LPO recuperação e melhora da qualidade de vida. Em 2020, lançou, com a fotógrafa Tati Zanichelli, um calendário sobre essa turma de alunos que possuem algum tipo de lesão, chamado de “#Evolução do Movimento”, com a renda toda revertida para uma ONG da cidade que atende pais e crianças portadoras do Transtorno de Espectro Autista (TEA). Seu trabalho vai de encontro com uma das mais importantes objetivos do Sesc Verão, que é mostrar que o esporte é para todos, que qualquer um pode (e deve) se aproximar de uma prática esportiva, sem barreiras de idade, sexo, ou condição física. Pelas palavras da própria Val, todos podem encontrar uma melhor versão de si mesmos, e o calendário mostra a evolução de cada um. A frase que abre esse trabalho fotográfio é esta:
"A sua dor não define quem você é ou determina seu estilo de vida. Com certeza o caminho não é simples ou fácil, mas é possível"
Essa faceta humanitária da atleta é inspiradora.
Falando um pouco do esporte e da auto-estima, nas competições, ela nos contou que as meninas vão maquiadas, de unhas feitas e super produzidas. São fortes sim, mas não por isso se apresentam masculinizadas, esse conceito antigo de ver as mulheres que praticam esportes de força não tem mais respaldo na sociedade atual. Porque hoje em dia a mulher também ocupa um lugar de destaque no LPO, apesar da entrada tardia delas no esporte, pois nos Jogos Paralímpicos as mulheres competem desde 1996 e, nos convencionais, desde 2000. Demorou, mas elas conquistaram o espaço. E vieram pra ficar, e fazer bonito.
Quando era criança Val queria ser caixa de supermercado e na adolescência teve interesse em fazer medicina. Hoje, diz que se pudesse ter outra profissão seria fotografa, pois é apaixonada pela imagem do corpo, pela plasticidade do movimento, como explica no vídeo abaixo:
Sobre seus hábitos cotidianos, a alimentação é um ponto fundamental, Val nos conta que uma nutrição equilibrada é um estilo de vida, uma mudança da nossa cultura alimentar permanente, não apenas antes ou perto da época de competições. Ela cuida da quantidade de proteínas, de carboidratos, vitaminas e minerais, não consome açúcar ou álcool. E faz isso por dois motivos: pelo esforço físico que o esporte demanda, e pelo envelhecimento natural do corpo, que pede cuidados específicos. Além da alimentação, outra coisa que faz para se sentir forte e disposta é treinar com música latina, ela adora ritmos latinos animados, diz que a batida forte lhe dá inspiração. Val inspira pela sua determinação e presença de espírito.
Vai Val, segue essa estrada que você vem trilhando com tanta determinação, continua a mostrar pro mundo todo que as mulheres podem ser fortes em qualquer momento da vida! Nós torcemos por você!