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Let's Dance para David Bowie

Pedro Antunes, jornalista cultural, introduz parte do que é o espírito camaleônico de David Bowie. O cantor inglês completaria 71 anos de vida e é o homenageado da programação Let's Dance - composta por shows, oficinas e espetáculo de dança - entre os dias 9 e 14 de janeiro no Sesc 24 de Maio.

Há quem diga que o mundo saiu dos trilhos depois da morte de David Bowie, naquele 10 de janeiro de 2016. Se a relação é verdadeira ou superstição, pouco importa diante da importância do músico inglês enquanto esteve entre nós. Um alienígena, dizem outros - e dessa afirmação, particularmente, Bowie gostava. Ele foi, mesmo. Foi um marciano, foi rei das pistas de dança, foi roqueiro, foi experimental, foi um viciado e um careta. Foi pop, glam, rock, eletrônico, disco, jazz.

Sua coleção de hits flutua entre gêneros e subgêneros, da balada folk espacial de Space Oddity às guitarrísticas Ziggy Stardust, Rebel Rebel e Heroes. Da disco music de Let’s Dance ao pop grandiloquente de Under Pressure. Ao fim da vida, descobriu um câncer no fígado. Soube que tinha mais um ano antes do fim. Mergulhou na música de novo – era, afinal, o que ele fazia de melhor. E emergiu com Blackstar, um disco-testamento melancólico e explosivo, ambientado no jazz mais vanguardista da atualidade. O álbum saiu em 8 de janeiro do mesmo 2016, no 69º aniversário dele, dois dias antes da despedida definitiva – de virar pó estrelar ou o que quer que aconteça com alienígenas quando morrem.

O apelido de camaleão não era a toa para David Bowie. O inglês nascido em Brixton, na Inglaterra, em janeiro de 1947, era todos em um. Um inquieto por natureza. A ponto do impacto dele na cultura pop transcende a música. Está na linguagem do cinema, na TV e, é claro, nas passarelas e nas tendências, desde o visual espacial hippie do fim dos anos 1960, quando ele foi catapultado com o sucesso de Space Oddity, passando pela libertação sexual do início da década seguinte, quando assumiu o feminino. Está nos cabelos vermelhos do alienígena roqueiro Ziggy Stardust, nas roupas volumosas e coloridas da fase Aladdin Sane, na aparência fantasmagórica do Thin White Duke, nas jaquetas de couro e calças justas do período vivido em Berlim.

Dizem que David Bowie era, acima de tudo, um visionário, por ser capaz de antever tendências da música, da moda e do comportamento em cada uma de suas transformações ao longo de 54 anos de carreira. Arrisco a dizer o contrário: ele não previa as mudanças, era quem ditava as regras.

David Bowie se afastou dos palcos e da vida pública quando sentiu que seu coração pedia por descanso, ao sentir uma estranha dor do lado esquerdo do corpo durante uma apresentação na Alemanha, em 2004. Suas aparições diminuíram, tornou-se um mito, um sujeito a vagar pelas ruas de Manhattan, em Nova York, como um alienígena infiltrado entre nós.

Ressurgiu, musicalmente, para lançar mais dois discos, embora não tenha os levado para os palcos. The Next Day é essencialmente roqueiro e energético, contrariando o que se esperava de um sujeito com seus 66 anos. Com o já citado veio Blackstar, David Bowie dizia adeus descaradamente, embora a felicidade de ter um novo álbum do inglês para saborear tenha inibido pensamentos mais sérios sobre o tema durante os dias que separam a chegada do disco e a morte dele. Até no seu último suspiro musical, com a faixa I Can’t Give Everything Away, que encerra Blackstar, David Bowie celebrou a vida que teve. Cabe a nós, terráqueos, fazermos o mesmo.

* Pedro Antunes é jornalista cultural e criador do Tem um gato na minha vitrola, programa diário sobre música.

>> Em 2016, o Sesc Sorocaba fez uma homenagem ao artista e, na ocasião, disponibilizou a receita preferida dele: Shepherd’s Pie (Torta de Carne Inglesa). Para aprender, clique aqui.

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