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Desmonte-se

(...) O homem não pode ser ora livre, ora escravo; ele é inteiramente e sempre livre, ou não é. Sartre

De 15 de janeiro a 25 de fevereiro, o Sesc Consolação recebe, no espaço Beta, o espetáculo O Desmonte, do dramaturgo e diretor Amarildo Felix.

Amarildo Felix é dramaturgo formado pelo Núcleo de Dramaturgia SESI British Council, ator formado pela Escola de Arte Dramática da USP EAD/ECA/USP e psicólogo formado pela PUC/SP.

Em 2014, integrou a 6º Turma do Núcleo de Dramaturgia SESI British Council, sob orientação de Marici Salomão e César Augusto Batista. Neste período escreveu a peça Solilóquios, publicada em 2015 pela editora SESI SP. A peça foi encenada sob direção de Johanna Albuquerque e o texto foi premiado com o ZESCAR, um prémio virtual oferecido pelo crítico de teatro José Cetra Filho, como um dos melhores textos encenados em 2015. Ainda no mesmo ano, escreveu e dirigiu a comédia Teatro Infantil, em uma montagem que questionava o padrão normativo dos contos de fada; a peça ficou dois meses em cartaz e obteve uma boa repercussão tanto de crítica quando de público.
Fez parte de várias montagens teatrais nos últimos anos, entre elas, Danton.5, com direção coletiva do Núcleo dos 5 sob supervisão de Cristiane Paoli Quito e José Fernando Peixoto de Azevedo; Tebas, sob direção de Luís Marmora; Machado Assim, sob direção de Luís Roberto Damasceno, dentre outras.
Entre os festivais em que tomou parte, destaca-se o 26º Festival Universitário de Blumenau – FITUB 2013, com o espetáculo Danton.5, no Teatro Carlos Gomes, que saiu premiado nas categorias Melhor Direção Coletiva, Melhor Conjunto de Atores, Melhor Trilha Sonora, Melhor Cenografia e Melhor Iluminação.

O Desmonte

O espetáculo é um monólogo que fala sobre desconstrução e reconstrução de nossa identidade e realidade; sobre termos ciência de nossa fragilidade e força; sobre como em meio ao caos, conseguimos nos conhecer e re-conhecer, refazer, resignificar.

Em um apartamento na cidade, um microcosmo dentro de um universo caótico urbano, o término de uma relação traz o prenúncio de tempos tristes e a melancolia paira sobre um homem que vive sozinho e que, pouco a pouco, vai ficando avesso aos amigos e visitas. No entanto, em mais uma noite solitária, ele recebe a visita inesperada de um rato, que vai destruir o resto do seu mundo e dar um novo sentido à sua vida.

Por que um rato?

O animal se torna o correspondente direto desse personagem isolado no apartamento, trazendo memórias e renovando o sentido do afeto. Por outro lado, o rato também é sinônimo do próprio desmonte dos tempos,  explica Vitor Placca.  "Rato é o estopim, a desculpa para que algo aconteça. Um homem isolado e que não enxerga mais sentido em sua vida encontra no Rato um motivo de salvação."

O rato é a metáfora de tudo aquilo que nos agarramos, todas as desculpas que nos damos para protelar e, ao invés de viver, apenas continuar sobrevivendo. O rato é a metáfora do vazio da condição humana, que quase sempre necessita do enlace com o mundano, com o menor para continuar, pois viver dói. Viver não é para qualquer um. A metáfora do rato pode ser ampliada também para um contexto maior, para um viés macropolitíco, partindo do drama burguês e chegando aos tempos sombrios em que nos encontramos, em que precisamos novamente gritar por direitos que já julgávamos consolidados. "O rato é o significante da desolação.", complementa o diretor.

Um texto é um pré-texto

"Texto e ator são pré-texto para o brincar. Eu tive O ator. Vitor Placca é um dos maiores atores do mundo. Através dele tudo foi possível. Escrevemos juntos, encenamos juntos, discutimos juntos, nascemos juntos, pois teatro é gente. E gente é boca, corpo, voz, entranhas, suor, poros, pelos, luz, cena, teatro. Gente é maresia. Gente é pretexto para um caminhar.", afirma Amarildo Felix.

Sobreviveremos ao desmonte de nós mesmos?

"Coisas absurdas acontecem o tempo todo e ainda queremos falar de amor, ainda insistimos nessa temática. Pois bem, ainda que falemos de amor, como não ser atravessado pelos acontecimentos? Impossível. O amor precisa acompanhar o seu tempo, se reinventar ou morrer. O fim também é começo, e a chance de novos encontros.”, elucida o protagonista Vitor Placa.

Desmonte propõe rompimentos e desconstruções de preceitos e questionamentos ante ao absurdo que nos cerca diariamente, ao longo da vida. Ouse desmontar-se.

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