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Uma viagem pela Bolívia
Quando se volta de viagem, carrega-se na bagagem uma série de experiências; quando artistas encontram-se em trânsito para um processo de produção, essas experiências, muitas vezes, voltam na mala em forma de trabalho.
Denise Alves-Rodrigues (SP), Fernanda Porto (CE), Isadora Brant (SP), Julia Franco Braga (CE), Laura Berbert (MG), Patrícia Araújo (CE), Jonas Van Holanda (CE) e Valentina D’Avenia (SUIÇA), além das curadoras Maria Catarina Duncan (RJ) e Beatriz Lemos (RJ) apresentam, no Sesc Bom Retiro, a exposição Travessias Ocultas - Lastro Bolívia, resultado de uma residência coletiva e autônoma que aconteceu entre os meses de dezembro de 2016 e janeiro de 2017. A experiência, que configurou uma viagem pelo território boliviano, traz alusão direta à referências andinas experenciadas na vivência e também na troca com seus interlocutores - tanto na Bolívia quanto no Brasil.
Da experiência de viagem, somou-se a continuidade dos encontros como grupo de estudos e, após um ano, a residência é materializada em exposição. Os trabalhos reunidos derivam de pesquisas desenvolvidas em solo boliviano, idealizados durante o trânsito, e se localizam em um universo comum da adivinhação, da criação fantástica, dos rituais, oráculos, jogos, mapas e calendários. Foram postos em prática estudos sobre a cosmovisão andina e o contexto político na Bolívia atual, trazendo referências desde entidades como Mama Quila e Pacha Mama, até questões polêmicas e históricas, como a disputa territorial pelo mar e o plebiscito que mudaria a constituição garantindo a possibilidade de candidatura do atual presidente Evo Morales ao quarto mandato.
A exposição é sediada no bairro do Bom Retiro - mas não por acaso - onde há grande concentração da comunidade boliviana em São Paulo. As artistas, curadoras e produtoras do projeto estão em contato com esse grupo populoso e ativo, que conta com quase 200 mil pessoas. A ideia é abrir espaço para uma interlocução maior entre a exposição e imigrantes da Bolívia em São Paulo.
Como fruto dessa interlocução haverá contribuições de artistas e intelectuais bolivianos em um guia exclusivamente desenvolvido para a exposição (entre eles Silvia Rivera Cusicanqui, Matecha Rojas e Julieta Paredes), uma programação complementar de cursos e palestras, ações comunitárias e uma grande festa durante a abertura em parceria com a feira da Kantuta, com apresentação musical, artesanato e comida boliviana.
A fim de cruzar fronteiras, a exposição é totalmente dedicada aos imigrantes que existem e resistem.