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O Rio

O espetáculo O Rio, que está em cartaz no Teatro Anchieta, no Sesc Consolação, de 19 de janeiro a 27 de fevereiro, ao contrário do que muitos pensam, não se refere à nossa amada Cidade Maravilhosa.

Trata-se de um texto de suspense do autor britânico Jez Butterworth, escritor, dramaturgo e diretor atuante no teatro, TV e cinema e que tem em seu currículo peças como Mojo, Jerusalem e roteiros de filmes como A Última Ceia e 007 Contra Spectre, ambos de 2015. O Rio foi encenada na Broadway em 2014 tendo como protagonista o ator australiano Hugh Jackman e alcançando um tremendo sucesso de crítica e público.

Aqui no Brasil, estreia no Teatro Anchieta com montagem da Casa Forte SP Produções, sendo dirigida e protagonizada por Nelson Baskerville, com Maria Manoella e Virginia Cavendish no elenco.

O Rio é uma peça densa e elíptica, como a maioria das obras de Butterworth. Fala de relacionamentos - na verdade, de como cada um tem sua maneira peculiar de encarar os revezes e decepções advindas da convivência entre seres humanos e de como, muitas vezes, construímos prisões ao redor de nós mesmos.

A peça conta a história de HOMEM, quee leva sua atual namorada, a MULHER, para um final de semana relaxante em uma cabana de madeira à beira de um rio. O HOMEM nutre uma paixão avassaladora por pescar trutas que só podem ser capturadas uma vez por ano. Trata-se de uma noite única e o desafio de HOMEM em compartilhar esse momento especial e seu entusiasmo com MULHER acaba se tornando um teste moral para o personagem.

Acontece que não podemos nos esquecer de que, apesar de ter como base as relações humanas, O Rio é um texto de suspense e não demora muito para que o elemento apareça na trama. MULHER desaparece misteriosamente. HOMEM chama a polícia, reporta o desaparecimento, mas dias depois ela reaparece, completamente diferente. HOMEM então a chama de OUTRA MULHER e ao longo da trama, as duas mulheres intercalam aparições, como se trocassem de lugar, o que instiga o público a pensar sobre o que é, de fato, real e o que é imaginado pelo protagonista, o que acaba servindo de metáfora sobre comportamentos repetitivos que adotamos com pessoas e situações completamente diferentes que vivemos.

A peça se desenvolve de forma não-linear e possui forte entonação psicodramática. Memória e desejo conduzem as ações do personagem principal, que investe todas as suas emoções em uma atividade de lazer que considera sublime. Sublime como deveria ser o seu amor.

HOMEM é um solitário recluso, que esconde uma profunda tristeza, insegurança e sensação de perda. Ele convida cada nova namorada para compartilhar sua paixão pela pesca de trutas, declara seu amor por elas, mas acaba por estabelecer uma relação idealizada. Dessa forma, longe de ser um hino à natureza, O Rio retrata a solidão enraizada de um homem que subordinou sua busca pelo amor perfeito ao ritual da busca pela truta perfeita. 

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