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Mulamba - Um grito de vozes silenciadas

Foto: divulgação
Foto: divulgação

Nesta quinta-feira, dia 14 de dezembro, o Sesc Rio Preto será palco de um show protagonizado por mulheres. Quem se apresenta é a banda Mulamba, de Curitiba (PR), formada por Amanda Pacífico (voz), Cacau de Sá (voz), Caro Pisco (bateria), Fer Koppe (violoncelo), Naíra Debértolis (baixo) e Nat Fragoso (guitarra).

Elas se juntaram pela primeira vez no final de 2015 para um tributo à Cássia Eller. Agora, com o trabalho autoral, usam a música e a poesia para tratar de temas urgentes e causar reflexão.

A apresentação no Sesc Rio Preto será gratuita, às 21h30, na comedoria, pelo projeto Sonora. Nesta entrevista, o sexteto fala um pouco sobre seu trabalho. Confira: 

Vocês começaram interpretando músicas de outras mulheres. Como foi esse encontro?
Nossa primeira intenção foi realizar um tributo à Cássia Eller somente com mulheres, no final de 2015, de maneira bem despretensiosa. Mas a interação e a química foram tão grandes entre as integrantes que, quando surgiu a primeira ideia de música autoral, sentimos que o projeto não podia parar naquele show. Percebemos que tínhamos muita coisa a dizer para o mundo.

Em suas canções, vocês dão voz às mulheres e tratam de questões urgentes, ao mesmo tempo em que dialogam com outras linguagens, como a poesia e o vídeo. Como é esse processo na banda?
Acreditamos que só é possível conscientizar as pessoas a partir do momento em que determinado assunto é pautado e, consequentemente, causa reflexões. Enxergamos a música e a poesia como mecanismos universais que têm poder de difundir uma bagagem informativa relacionada a qualquer tema que necessite de voz, espaço e respeito. O vídeo ajuda a fortalecer toda essa mensagem e gera identificação de uma forma muito bonita com as pessoas. No caso do clipe de “Mulamba”, por exemplo, o resultado ficou muito visceral e emocionante, reunindo mulheres maravilhosas e videodança, com a direção da Virginia de Ferrante.

Como em todas as áreas, o machismo está muito presente no meio musical. Como o fato de vocês serem uma banda só de mulheres e que se posiciona de forma clara como feminista reflete na carreira?
O sistema patriarcal do Brasil oprime, reprime e extermina os ditos como diferentes, ou lidos como “fracos”. Então, o fato de compormos uma banda de mulheres nos dá a mesma desvantagem que é atribuída a toda e qualquer alma feminina. Sentimos resistências e vivemos as resistências. Em muitos pontos e por muitos motivos, somos mulheres que resistem. Não pregamos segregação e nem ódio a almas masculinas. E isso sempre fica bem evidente em nossos contatos com o público. Sentimos que, na maioria das vezes, o próprio coletivo quebra suas barreiras, essa é a mensagem que passamos em nossas letras. Falamos em igualdade e emancipação não só do feminino, mas de toda e qualquer minoria. Amamos o que fazemos.

Comentem um pouco sobre a escolha de batizar a banda de Mulamba.
Nos enxergamos como protagonistas de nossas histórias e vidas. Por isso a escolha do termo “mulamba”, porque entendemos que a nossa visão quebra o entendimento pejorativo e ressignifica a palavra. Acreditamos na ressignificação de “mulamba” para demonstrar força e protagonismo. Os combustíveis para esse processo são a própria mulher e a união das mulheres. Não se pode ter medo de desconstruir todos os nossos pré-conceitos e expor essa figura de uma forma genuína. Devemos assumir o nosso discurso, sem ter medo de nos refazer.

Depois de viralizar com a música “P.U.T.A”, agora vocês preparam o primeiro trabalho autoral. Como está a produção e como a popularidade na internet interfere no processo?
Sentimos uma força gigante depois da viralização de “P.U.T.A” e isso foi super gratificante. Percebemos que tem muita gente querendo ser ouvida e tentamos traduzir esses anseios por meio da música. Agora, a produção está a todo o vapor, estamos dedicando o máximo de tempo para isso. A popularidade faz a gente se focar e nos incentiva a cada retorno positivo que recebemos pelas redes sociais (e também ao vivo). Mulamba é uma banda independente que precisa ser vista para seguir como um instrumento da música e protagonista da própria história. Agradecemos e seguimos felizes por toda a forma de disseminação da nossa fala.

Falem um pouco da formação de vocês e das principais influências.
Individualmente, estamos no mercado da música há muito tempo, cada uma com trajetórias e influências bem particulares. Enquanto banda, continuamos sempre buscando nos aprimorar tecnicamente e produzir um material de qualidade. Sobre as referências, além da Cássia, podemos citar Elza Soares, Nina Simone, Elis Regina, Rita Lee, Aretha Franklin, Édith Piaf, Chavela Vargas, Juçara Marçal, Dona Ivone Lara, Carmen Miranda, Clara Nunes… Essas são algumas das várias mulheres que nos inspiram, não só pelas suas obras, mas também pela força que tiveram e têm de seguir em frente, mesmo diante de obstáculos diversos.