Postado em
Que comece o jogo
Em outubro, o Sesc Santo Amaro recebe os dois primeiros espetáculos da tetralogia Jogos de Cartas, de Robert Lepage. Os ingressos começam a ser vendidos nesta terça-feira, 30/set
Consagrado por trabalhos que unem as artes performáticas – teatro, dança, ópera e música – às artes digitais, como cinema e videoarte, o diretor canadense Robert Lepage vem a São Paulo com 12 integrantes de diversas nacionalidades de sua companhia Ex Machina para as apresentações de Jogos de Cartas: Espadas e Jogos de Cartas: Copas, de 11 a 25/out no Sesc Santo Amaro. As encenações no Sesc são inéditas na América Latina: a estreia mundial da tetralogia ocorreu em 2012, na Alemanha, e os espetáculos já percorreram Espanha, Inglaterra, Suíça, Austrália e Canadá.
Bastidores dos espetáculos
Robert Lepage retorna ao Brasil após um intervalo de mais de dez anos (em 2001, esteve em São Paulo para a apresentação de The Far Side of the Moon). Agora, com o projeto Jogos de Cartas, o diretor traz na bagagem um palco cênico circular de 360 graus que se transforma em múltiplos espaços. O elenco reúne ao todo 12 atores que se desdobram em vários personagens. Provenientes de diversos países, como Alemanha, Espanha, Inglaterra, Suíça, Austrália e Canadá, eles integram a companhia Ex Machina, criada em 1994 por Lepage com a premissa de conectar as artes performáticas – teatro, dança, ópera e música, às artes digitais – cinema, videoarte e multimídia. Os diálogos dos espetáculos são em francês, inglês e árabe e legendados em português, com projeção em quatro telões espalhados pelo espaço.
Para o diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, trazer para São Paulo os dois primeiros espetáculos da tetralogia Jogos de Cartas cumpre a função de possibilitar ao público o contato com a produção artística contemporânea, pautada na pesquisa da linguagem teatral, configurando meio para o desenvolvimento de uma visão crítica sobre o mundo.
Os jogos de cartas englobam um conjunto de regras, signos, estruturas matemáticas ou numerológicas, mitologias e, sobretudo, personagens. Ao combiná-las e ordená-las, é possível criar tantas histórias quanto diferentes arranjos. Ao menos esta é a intuição que guiou o diretor canadense Robert Lepage – artista multidisciplinar e considerado um dos mestres do teatro contemporâneo – e seus colaboradores. Diante de um leque de possibilidades, os criadores impuseram a estrutura de um jogo de cartas ao projeto, que no final, terá quatro espetáculos que levam no nome os naipes do baralho (espadas, copas, ouros e paus) e cada um explorando um universo do conjunto que o representa. Foi a partir daí que Lepage começou a pesquisar a origem das cartas, o que nos leva obrigatoriamente ao mundo árabe. O grupo formado por atores, escritores, técnicos, cantores de ópera, cenógrafos, designers gráficos, contorcionistas e músicos estruturou as quatro partes da tetralogia, cada uma independente e ao mesmo tempo interligada às outras, criando um cosmos que aborda nossas relações passadas, presentes e futuras, nossas trocas e, algumas vezes, nosso choque no encontro com a cultura árabe.
Jogos de Cartas: Espadas
Em Jogos de Cartas: Espadas o tema explorado é a guerra. A encenação com 6 atores faz um paralelo entre cidades construídas em dois desertos no momento em que os Estados Unidos invadem o Iraque. De um lado está a cidade americana Las Vegas, uma caricatura dos valores do mundo ocidental, e do outro lado a capital iraquiana Bagdá, bombardeada pelo presidente americano George W. Bush em nome da promoção da democracia. Esta torre de Babel que é a capital do jogo propicia o encontro de personagens de origens e afinidades diversas. Durante um final de semana eles revelam a identidade múltipla da cidade: reino do showbizz e dos flashes, lugar onde tudo é permitido. Além da sorte, do azar e da desmedida, Las Vegas se mostra também como o império das ilusões, da fuga e do vertiginoso. Os personagens, como a cidade que continua se divertindo em plena guerra, travam suas lutas íntimas com seus demônios interiores, na esperança de resolver suas próprias contradições. Como terminará o jogo: decadência ou redenção? As apostas estão abertas. Jogos de Cartas: Espadas estará em cartaz nos dias 11, 12, 14 e 15 de outubro (sábado às 21h, domingo às 18h, terça e quarta, às 21h).
Trailer de Jogos de Cartas: Espadas
Na segunda montagem, Jogos de Cartas: Copas, o enredo interliga a Argélia, a França e o Québec, da Primavera dos Povos à Primavera Árabe. Chaffik é um jovem magrebino motorista de táxi no Québec, em 2011, que mergulha na sua história genealógica para desvendar fatos duvidosos ligados ao desaparecimento de seu avô e às origens de sua família. Outro personagem é Jean Eugène Robert-Houdin, grande mágico francês que é enviado pelo governo do seu país à Argélia, em 1856, para rivalizar com o poder espiritual e mágico dos marabutos (eremitas considerados santos por habitantes da região noroeste da África). Chaffik e Robert-Houdin estão conectados por uma rede familiar, política e artística, intrinsicamente tecida pela História e por histórias, mas também por questões de fé, de crenças, de magia, de representações. Estes temas se entrelaçam como uma relojoaria fina e suas múltiplas engrenagens.
Jogos de Cartas: Copas reúne 7 atores e conta a história de uma parte da Argélia colonial, uma confluência de políticas estrangeiras e de invenções francesas em magia, ciência, fotografia. Estas invenções serão incubadas nas ruelas da capital Alger para tornarem-se verdadeiras armas da resistência argelina. Por outro lado, o espetáculo trata da França da mesma época e, mais especificamente, do mundo dos mágicos franceses (Robert-Houdin, Méliès), e de suas ligações com a ciência e o cinema. No Québec, encontramos Chaffik, sua família de imigrantes e sua namorada Judith, filha de um diplomata e conferencista em teoria do cinema, na Universidade Laval. Ela será o ponto central de todas as engrenagens. Jogos de Cartas: Copas estará em cartaz no Sesc Santo Amaro dias 22, 23, 24 e 25 de outubro (quarta a sábado, às 20h).
Trailer de Jogos de Cartas: Copas
Sobre Robert Lepage
Robert Lepage é um artista multidisciplinar. Versátil em toda forma de técnica teatral, Lepage é igualmente talentoso como diretor de teatro, dramaturgo, ator e diretor de filmes. Sua abordagem criativa e original para o teatro rendeu-lhe o reconhecimento internacional e estremeceu a base do dogma de direção clássica de palco, especialmente com o uso de novas tecnologias. A história contemporânea é a sua fonte de inspiração e o seu trabalho moderno e incomum transcende todos os limites. Ele nasceu em Québec, em 1957. Inicialmente gostava de geografia e, mais tarde, quando descobriu todas as formas de arte, o teatro chamou sua atenção. Aos 17 anos entrou no Conservatório de Arte Dramática de Québec e, depois de uma temporada de estudos em Paris, retornou para Québec e se envolveu em muitos projetos criativos, obtendo experiência como ator, autor e diretor. Dois anos depois, ele se uniu ao Théâtre Repère e depois de exibir diversos espetáculos e ganhar reconhecimento internacional por seu trabalho, Lepage criou em 1988 sua própria companhia profissional, a Robert Lepage Inc (RLI). De 1989 a 1993, foi Diretor Artístico do Théâtre Français no Centro Nacional de Artes em Ottawa. Com Sonhos de uma Noite de Verão, em 1992, Lepage foi o primeiro norte-americano a dirigir uma peça de Shakespeare no Royal National Theatre em Londres. Também já dirigiu cinco filmes, dois espetáculos para o Cirque du Soleil e cinco óperas, incluindo no Metropolitan Opera House de Nova York, e concebeu shows para o músico inglês Peter Gabriel e instalações em Québec. No Brasil, Robert Lepage ficou muito conhecido pela remontagem de Monique Gardenberg para Os sete afluentes do Rio Ota, que esteve em cartaz no Sesc Pinheiros, — obra que marca a fundação da sua Cia. Ex Machina —, e também pela encenação de The Far Side of the Moon, espetáculo sobre a corrida espacial durante a Guerra Fria e que foi apresentado em São Paulo, em 2001.
Encontros
Além dos espetáculos, o Sesc Santo Amaro recebe o público para dois encontros: no dia 8/out, o diretor Robert Lepage faz uma apresentação sobre o processo de montagem do projeto Jogos de Cartas, às 20h.
No dia 14/out, às 14h, o diretor musical e compositor da trilha sonora dos espetáculos, Phillipe Bachmann, discute a criação musical para espetáculos teatrais.
Ingressos
R$ 60 (inteira), R$ 30 (usuário inscrito no Sesc, estudantes, deficientes e professores da rede pública de ensino) e R$ 18 (comerciário inscrito no Sesc). Disponíveis no site, a partir de 30/09/2014, às 19h e nas bilheterias das unidades Sesc a partir de 1/10/2014, às 17h30.